Sons
1 de Outubro 1999
DISCOS – POP ROCK
Circuitos reactivados
Mouse on Mars
Niun Niggung (9)
Rough Trade, import. Ananana
Nas pistas de dança do próximo milénio o ritmo vai ser imposto pelos Mouse on Mars. Com um pendor mais acentuado para o “groove” que os seus compatriotas Kreidler, To Rococo Rot ou Tarwater, a dupla germânica Jan St.Werner e Andi Toma voltou a reactivar os circuitos após um decepcionante “Autoditacker” que se revelou não estar ao nível do excepcional “Iaora Tahiti”. Depois de um começo desconcertante, algo como o prelúdio, em guitarra acústica, de uma “cowboy song” cibernética pós-rock, “Niun Niggung” entra numa vertiginosa campanha com os ruídos e batidas mais estranhas que o pós-rock alguma vez conheceu ou o manifesto futurista de Marinetti alguma vez enunciou. De resto, o termo pós-rock já nem faz muito sentido na definição do universo particular dos Mouse on Mars, criado a partir da fusão dos curto-circuitos e tecnologia de escritório dos Microstoria e dos Oval com o legado lúdico dos Cluster e Pyrolator e a tal intuição que os faz não perder de vista o indispensável swing. Ao contrário de “Autoditacker”, caracterizado por um mecanicismo e uma superficialidade de processos que raiavam a indulgência, “Niun Niggung” junta os músculos e a cabeça, levando longe a investigação no capítulo das sonoridades bizarras e da sua articulação interna, contando de novo com a participação do abstraccionista F. X. Randomiz e, desta feita, com naipes de cordas e metais.
“Super sonig fadeout” pode ser encarado como uma paródia aos Daft Punk da mesma forma que “Diskdusk” inventaria os tiques de “Saturday Night Fever”, fazendo subir a febre mas já nos salões de feira estreados pelos Cluster em “Zuckerzeit”, enquanto “Gogonal” permite compreender até que ponto era ainda humanista a tecnopop dos Kraftwerk. O ritmo ausenta-se nos embates múltiplos de “Mompou” para irromper de seguida com violência numa investida bárbara de drum ‘n’ bass fabril, em “Distroia”. “Albion rose” é a cereja no topo do bolo, reflexos coloridos em bolas de sabão, música de câmara executada por ciborgues em transe, intersecção de sonoridades contrastantes como são habitualmente conectadas por Jim O’ Rourke. “Niun Niggung” fecha com o peso-pesado “Circloid bricklett sprüngli”, como se a maquinaria acabasse finalmente por emperrar num charco de baixas frequências.
Pontos, traços, sinais, multiplicações e divisões, esquadrias, luzes, algoritmos, figuras geométricas e volumes são recortados e remontados na quinta dimensão – na placa de circuitos privativa onde apenas os Mouse on Mars sabem mexer. Com paciência é mesmo possível entrar na câmara secreta - um 13º tema escondido no CD. “Niun Niggung”, repetimos, empurra-nos para a dança, a questão está em como articular os movimentos do corpo com a multiplicidade de estímulos a que o cérebro é submetido.
1 de Outubro 1999
DISCOS – POP ROCK
Circuitos reactivados
Mouse on Mars
Niun Niggung (9)
Rough Trade, import. Ananana
Nas pistas de dança do próximo milénio o ritmo vai ser imposto pelos Mouse on Mars. Com um pendor mais acentuado para o “groove” que os seus compatriotas Kreidler, To Rococo Rot ou Tarwater, a dupla germânica Jan St.Werner e Andi Toma voltou a reactivar os circuitos após um decepcionante “Autoditacker” que se revelou não estar ao nível do excepcional “Iaora Tahiti”. Depois de um começo desconcertante, algo como o prelúdio, em guitarra acústica, de uma “cowboy song” cibernética pós-rock, “Niun Niggung” entra numa vertiginosa campanha com os ruídos e batidas mais estranhas que o pós-rock alguma vez conheceu ou o manifesto futurista de Marinetti alguma vez enunciou. De resto, o termo pós-rock já nem faz muito sentido na definição do universo particular dos Mouse on Mars, criado a partir da fusão dos curto-circuitos e tecnologia de escritório dos Microstoria e dos Oval com o legado lúdico dos Cluster e Pyrolator e a tal intuição que os faz não perder de vista o indispensável swing. Ao contrário de “Autoditacker”, caracterizado por um mecanicismo e uma superficialidade de processos que raiavam a indulgência, “Niun Niggung” junta os músculos e a cabeça, levando longe a investigação no capítulo das sonoridades bizarras e da sua articulação interna, contando de novo com a participação do abstraccionista F. X. Randomiz e, desta feita, com naipes de cordas e metais.
“Super sonig fadeout” pode ser encarado como uma paródia aos Daft Punk da mesma forma que “Diskdusk” inventaria os tiques de “Saturday Night Fever”, fazendo subir a febre mas já nos salões de feira estreados pelos Cluster em “Zuckerzeit”, enquanto “Gogonal” permite compreender até que ponto era ainda humanista a tecnopop dos Kraftwerk. O ritmo ausenta-se nos embates múltiplos de “Mompou” para irromper de seguida com violência numa investida bárbara de drum ‘n’ bass fabril, em “Distroia”. “Albion rose” é a cereja no topo do bolo, reflexos coloridos em bolas de sabão, música de câmara executada por ciborgues em transe, intersecção de sonoridades contrastantes como são habitualmente conectadas por Jim O’ Rourke. “Niun Niggung” fecha com o peso-pesado “Circloid bricklett sprüngli”, como se a maquinaria acabasse finalmente por emperrar num charco de baixas frequências.
Pontos, traços, sinais, multiplicações e divisões, esquadrias, luzes, algoritmos, figuras geométricas e volumes são recortados e remontados na quinta dimensão – na placa de circuitos privativa onde apenas os Mouse on Mars sabem mexer. Com paciência é mesmo possível entrar na câmara secreta - um 13º tema escondido no CD. “Niun Niggung”, repetimos, empurra-nos para a dança, a questão está em como articular os movimentos do corpo com a multiplicidade de estímulos a que o cérebro é submetido.
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