26/02/2011

Mr. Bungle - California

Sons

15 de Outubro 1999
DISCOS – POP ROCK

California Dreamin’

Mr. Bungle
California (10)
Warner Bros., import. Carbono


A diversão e o humor são componentes essenciais e omnipresentes no rock. Sem ser preciso instalarmo-nos no chapitô de trupes como os Monty Python ou os Bonzo Dog Doo Dah Band, são múltiplas as linhas que cosem o absurdo e o pueril, a sátira e o “nonsense”, a pantomina e a ironia: dos Beatles a Kim Fowley; dos Residents aos Negativland; dos Sparks aos Queen; de Albert Marcoeur aos Gong; e, obviamente, de Frank Zappa a Frank Zappa.
Os Mr. Bungle de “California” só serão uma surpresa para quem não ouviu “Disco Volante”, o álbum anterior desta banda encabeçada por Mike Patton (dos Faith No More e colaborador assíduo de John Zorn), onde eram já visíveis as forças “poltergeist” que alimentam um som em permanente combustão.
“California” é uma turbina em aceleração máxima, de onde brota uma corrente absolutamente inacreditável de “gags” que derrubam como um furacão a mínima noção de politicamente correcto. É um desenho animado contínuo, de sequências vocais e instrumentais, que se acotovelam e pisam e interagem mutuamente, às gargalhadas e em golpes de génio.
“Sweet charity” é surf music, easy listening, cha cha cha e Zappa (presença patronímica ao longo de todo o álbum) em technicolor dos anos 60. “None of them knew they were robots” sobrepõe Snakefinger, Clint Ruin e o Zorn de “Spillane”. Em “Retrovertigo”, que poderá ser ou não ser uma referência a Hitchcock, são os Beach Boys supervisionados por Phil Spector em sonhos de mescalina, com Bowie a intrometer-se pelo meio. “Pet Sounds” em doo-wop cruza-se com Lalo Schiffrin, os Zombies e – suspeita-se – com tudo o que a memória lhe quiser atribuir, em “Ars moriendi”.
Mas há também flamenco, música árabe, acordeões musette, Morricone, grupos de baile, Nurse With Wound, Yello, Elvis Presley, Raymond Scott numa caixa de música, Godard, electrónica-jazz-porky pig, deslumbrantes baladas decadentes de lágrimas e estrelas borbulhantes, em estranhas formas de vida a agitar-se em títulos tão zappianos como “Pink cigarette”, “Golem II: The bionic vapour boy” e “Vanity Fair”.
“California” é o fantasma-“clown” do “Smile” que Brian Wilson jamais se atreveu a sonhar e o “cocktail” musical mais delirante (“Goodbye sober day” é um título bastante apropriado para fecho do álbum…) desde que os Mothers serviram “We’re only in it for the Money”. Pelo menos, até se conseguir recuperar o fôlego: nota máxima.

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