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21|DEZEMBRO|2001
escolhas|discos
GARMARNA
Hildegard Von Bingen
MNW, distri. MC - Mundo da Canção
5|10
KEPA JUNKERA
Maren
EMI, distri. EMI - VC
7|10
BRASS MONKEY
Going & Staying
Topic, distri. Megamúsica
8|10
MANUEL LUNA
Romper el Baile
Resistencia, distri. Sabotage
7|10
KORNOG
Kornog
Keltia, distri. Megamúsica/import.
FNAC
7|10
DECAMERON
Mammoth Special
Edsel, distri. Megamúsica/import.
FNAC
6|10
brass monkey
os senhores da folk
Em dia de estreia de “O Senhor dos
Anéis”, em plena época natalícia, nada melhor que ouvir uma boa pacotada de
folk europeia, para prolongar o deslumbramento e animar ainda mais os
espíritos. Ainda que nem tudo sejam rosas. Os Garmarna, por exemplo, gravaram
um disco inteiro inspirado na música da nossa querida amiga Hildegard Von
Bingen, a abadessa medieval que fez um pouco de tudo menos aquilo em que vocês
estão a pensar. Já tiveram um lugar de destaque no quadro de honra das grandes
bandas suecas com o nome terminado em “arna”, como os Hedningarna, Hoven
Drovenarna e Den Fularna, mas neste novo trabalho espalharam-se ao comprido.
“Hildegard Von Bingen” é tecnofolk e new age a pensar nos tops de “world
music”, com uma piscadela de olho ao público de Enya e outra aos “dance
addicts” de costela étnica. Não é a opção em si, mas o oportunismo de uma
fórmula estafada, que torna “Hildegard Von Bingen” redundante. Assim, as
batidas moem mais do que encantam e, tecno por tecno, porque não experimentar a
linha dura da tecnomedievalfolk personificada pelos QNTAL?
Também mais modernaço do que o costume,
quiçá impelido pelo êxito alcançado pelo anterior “Bilbao 00:00H”, Kepa Junkera
aligeira a respiração da sua “trikitixa” em “Maren”. A lista de convidados
inclui um grupo de vozes búlgaras, o gaiteiro MIDI, Hevia, o sanfonineiro Gilles
Chabenat, o flamenquista Cañizares, o percussionista fusionista Glen Velez, a
diva da folk mediterrânica Maria del Mar Bonnet, o madagasquenho Justin Vali e
o ex-Malicorne Hughes de Courson, entre outros. Tudo boa gente, se bem que o
virtuosismo do basco sobressaia uma vez mais. Maculado pela comercialite de
temas como “No hirahira”, redime-se nas mestiçagens balcânicas (de sabor
medieval num maravilhoso “Oliene”) e no folclore basco ferrenho de
“Peliqueiroak terranovan”, num álbum marcado ainda por uma forte componente
africana e, no título-tema, pelas aragens occitanas dos Verd e Blu.
Boa muito boa, é, como sempre, a
superbanda inglesa Brass Monkey (na foto), onde despontam a figura mítica de
Martin Carthy, na voz e na guitarra, e do não menos importante John
Kirkpatrick, na concertina. Em “Going & Staying”, o legado ancestral das
danças “morris” volta a servir de base a incursões épicas alargadas pela
tradicional secção de metais, em contraponto com as vocalizações de Carthy, que
uma vez mais roçam o sublime. Um álbum que prolonga a tradição de ouro dos
melhores de Shirley Collins e dos Albion Country Band, pelos verdadeiros
senhores da folk.
Manuel Luna também está de regresso, com
o seu grupo La Cuadrilla Maquisera e o álbum “Romper el Baile”. Uma voz única,
um estilo de interpretação especial, ao serviço de um reportório onde a música
valenciana, sob influência do flamenco e da música árabe, adquire uma estranha
sensualidade, própria do Sul, mas tornada quase hipnótica pelo canto de Luna e
o violino de Enrique Valiño.
Outro regresso é o dos Kornog, banda
bretã que fez algum furor nos anos 80, com “On Seven Winds” (1985). Regresso de
saudar, diga-se de passagem. “Kornog”, o novo álbum, não traz nada de novo, é
um facto. Mas é preciso? Ouvir os extraordinários desempenhos vocais do escocês
Jamie McMenemy, um dos fundadores do grupo, em 1981, é suficiente para nos
comover e fazer recordar como a folk podia ser exaltante na década dos Planxty.
Maturidade (fazem parte do grupo as raposas velhas da folk bretã, Jean-Michel
Veillon, na flauta, e Nicolas Quemener, na guitarra), uma dedicatória ao rei
deposto, Alan Stivell, e alguma água deitada na fervura nos instrumentais,
justificam uma audição atenta.
Para quem aborda a folk pelo lado do rock
progressivo, há uma proposta razoável: a reedição, aumentada com um tema extra,
de “Mammoth Special”, álbum de 1974 dos Decameron. Como outras bandas da mesma
época, imaginavam o folkrock como uma salganhada de imaginação, arranjos
impensáveis e contrastes de várias cores e feitios. Se é verdade que um título
como “Rock and roll woman” é de molde a afugentar qualquer purista, não deixa
de fazer sentido arrumar “Mammoth Special” numa coleção exaustiva dos anos 70,
ao lado dos Strawbs, Spirogyra, Lindisfarne, Gryphon (“Jan”, o tema a reter,
cheira à Primavera de “Treason”) ou Horslips, todas elas da mesma família dos
Decameron.
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