10 de Abril 2001
O top e a
forca
Susana Seivane (sábado) e os Tendachënt (domingo) salvaram a face das
duas últimas "Noites Celtas" que este fim-de-semana decorreram no
Coliseu do Porto. A gaiteira galega pôs toda a gente a dançar. Os italianos
trouxeram consigo a melhor música do festival. Desiludiram as duas bandas
britânicas, Oyster Band e The Men They Couldn't Hang. Se os primeiros não
desbarataram por completo o prestígio adquirido quando nos anos 80 foram
considerados uma ostra com pérola do movimento punk folk, já os "homens
que não podiam ser enforcados" mereceram, de facto, a forca. Comentava
alguém: "Mas isto é o Super Rock Super Bock, ou quê?" O pior fecho de
festival de que há memória.
Sem deslumbrar e demonstrando algum
cansaço (a média recente de concertos tem andado perto de um por dia) Susana
Seivane (na foto) conseguiu mesmo assim levar no sábado para o Coliseu a sua
alegria contagiante e uma boa dose do virtuosismo que lhe é reconhecido. O
principal problema com que hoje se debate, ao vivo, será o de não ter uma banda
de acompanhantes à sua altura. Faltam grandes arranjos e rasgos instrumentais.
Dos solos que se sucedem a um ritmo vertiginoso à apresentação dos temas, passa
tudo por ela. Chega por enquanto para contagiar as audiências e fazê-las
dançar, mas adivinha-se a necessidade de mudanças. Mas vale sempre a pena ver e
ouvir esta gaiteira que ousou desafiar o feudo masculino das gaitas-de-foles na
Galiza. E o seu reduzido top azul, fazendo ressaltar ainda mais as suas
capacidades musicais, foi um dos "musts" do festival...
A fechar a noite de sábado, os Oyster
Band tocaram rock "mainstream" com ligeiras reminiscências folk. John
Jones, de óculos escuros e concertina à tiracolo, é uma espécie de Bono, dos
U2. Fartou-se de gesticular, procurando dar um tom épico de "grande banda
em palco" mas nunca conseguiu fazer esquecer que estavam ali um pouco
deslocados.
Domingo, foi pena a ordem das
bandas não ter sido trocada. Actuaram primeiro os Tendachënt, extensão natural
dos La Ciapa Rusa, sob a liderança de Maurizio Martinotti. A principal ruptura
será a inclusão de uma bateria, no sentido de permitir um
"alargamento" do som capaz de encher palcos de grandes dimensões,
como o do Coliseu do Porto. Mas é a sofisticação dos arranjos e o extremo bom
gosto de Martinotti que continuam a destacar-se. Para este exímio executante de
sanfona, a música tradicional do Piemontes é um tesouro a partir do qual
elabora requintados bouquets, um pouco como faziam os Malicorne, em França, nos
anos 70. Contrapontos violinísticos, polifonias vocais de recorte delicado,
baladas emocionantes (algumas delas retiradas do reportório dos La Ciapa Rusa)
e as colorações medievalistas da sanfona combinaram-se numa sessão de folk
progressivo com a complexidade e a riqueza de uns Gentle Giant. Juntamente com
os Muzsikas, os Tendachènt provaram ser possível agarrar uma audiência sem o
recurso aos decibéis e ao facilitismo.
Que foi o que fizeram a seguir os
britânicos The Men They Couldn't Hang. Nem num pub se aceitaria uma música tão
pobre. Uma ofensa tanto ao rock como à folk. O público foi saindo, os mais
jovens bateram palmas sem entusiasmo, as "Noites Celtas" não ganharam
para o susto. Sem os italianos, teria sido um desastre.
Já de madrugada, no café.concerto
do Rivoli, a Banda do Rei Pescador, ex-King Fisher's Band, uma das bandas de
animação de bares mais antigas do Porto, conseguiram levar a sala à loucura,
com interpretações castiças de hinos como "Céu azul, nuvens brancas",
em homenagem ao FCP, e outro cujo refrão diz "Estou apaixonado por um
molho de cenouras". Convenhamos que não terá sido um final dos mais
dignos...
Em resumo
Melhor música - Muzsikas e Tendachënt
Melhor música - Muzsikas e Tendachënt
Desilusão - The Men They Couldn't
Hang
Era escusado - João Afonso e Oyster
Band
Adereço musical - O top azul de
Susana Seivane
Sem comentários:
Enviar um comentário