Y
1|MARÇO|2002
música|braga
eletrónica
Para os DAT Politics o importante é a “sujidade” digital. O
“powerbook” como arma. A eletricidade como meio. A pop como objetivo. O
espanto, o confronto, a rendição como consequências. Braga, o festival BRG2002,
hoje e amanhã, que se acautele.
DAT um estalo
Os DAT
Politics não serão, como diz o outro, “uma famosa banda pop francesa”. Mas são
a mais acutilante e aquela a cujos estalos eletrónicos é impossível ficar
indiferente. Depois da visita, há dois anos, da banda irmã, Tone Rec,
perspetiva-se novo confronto com a música lancinante saída dos seus
computadores portáteis, na apresentação – BRG2002, em Braga – do novo álbum
“Plugs Plus”, gravado para a editora das Chicks on Speed. Sedução e repulsa. Ou
as duas juntas, como Claude Pailliot e Gaetan Collet explicou ao Y.
São a
“besta negra” da pop?
Não temos
quaisquer problemas com a pop, que escutamos há muitos anos. Quando começámos a
fazer música, entre outras coisas, ouvíamos rock barulhento, mas também coisas
mais voltadas para o grande público, como alguns grupos de “acid music” belgas.
O importante não é o que se come, mas a maneira como se mastiga.
O nome DAT Politics pretende chamar
a atenção para algum aspeto artístico, ideológico ou tecnológico?
É um jogo
de palavras. Gostamos de poder utilizar a palavra “política” no contexto da
eletrónica. Trata-se de intrigar, de desorientar o auditor, já que, a priori, a
nossa música não possui qualquer dimensão política, pelo menos no sentido
vulgar.
Há quem
chame à vossa música “laptop rock”. A definição agrada-vos?
Digamos que
se aplica perfeitamente a nós. Funcionamos como um grupo de rock, não
improvisamos e trabalhamos muito a elaboração de cada tema. Os nossos “laptops”
não estão ligados entre si, é uma espécie de “jam session” digital, por vezes
difícil de digerir…
Como descreveriam a evolução musical
dos Tone Rec para os DAT Politics. As duas bandas continuam a existir em
paralelo, ou os Tone Rec extinguiram-se?
Os DAT
Politics são uma mutação maximalista dos Tone Rec, mas com uma mesma tendência
para os sons “sujos”. Os métodos de trabalho são semelhantes. De momento, os
DAT Politics ocupam todo o nosso tempo e estamos entusiasmados.
Há dois anos, quando atuaram ao vivo
em Lisboa, a disposição em palco do grupo, com os músicos sentados aos pares,
voltados de frente uns para os outros, lembrava os Kraftwerk Foi propositado.
É verdade
que vários nos disseram o mesmo. Mas é uma coincidência que advém do facto de
sermos um grupo que trabalha com máquinas minúsculas.
As pessoas veem apenas uns tipos
debruçados sobre pequenos computadores. A dimensão espetacular dos concertos
preocupa-vos?
Concentramo-nos
mais no som do que no show. Preferimos focar a nossa energia que pode
desprender-nos dos sons. Neste momento assiste-se ao retorno de uma música de
variedade (“Msuci hall”) eletrónica, com fatos espampanantes e muito espalhafato,
o que alguns fazem de resto, muito bem… Mas a par de se criticar uns tipos com
uns computadores portáteis que parecem uns chatos, não nos deveremos
interrogar, primeiro, sobre a qualidade da música? As pessoas vêm ter connosco
a dizer que ficaram espantadas com a música que fazemos com os portáteis.
Muitas vezes ficam presas ao cliché do músico solitário sentado atrás da
máquina. Utilizamos os computadores como instrumentos, sem nos preocuparmos com
os aspetos técnicos.
Mesmo considerando que outro dos
vossos álbuns, “Villiger”, marcava uma rutura com a estética “clicks &
cuts”, é lícito enquadrar os DAT Politics nesta corrente, como reação à tecno
ou ao drum ‘n’ bass?
Estivemos
sempre à margem da tendência minimalista dominante do “clicks & cuts”,
mesmo se temos um pé nesse circuito. Felizmente as nossas viagens levaram-nos
ao encontro de artistas com os quais formamos uma escola alternativa mais
permissiva e lúdica do que qualquer curso universitário de informática… Os
nossos verdadeiros colegas de trabalho são Blectum from Blechdom, Felix Kubin,
Chicks on Speed, Kid606, Goodiepal… Como nós, sentem a mesma atração por tudo o
que é “sujo” e arriscado, perigoso…
E em relação à música de
“escritórios doentes” dos Oval ou Microstoria? Algumas afinidades?
Apesar das
músicas serem diferentes, sentimo-nos atraídos pelo trabalho desses melodistas
informáticos, a quem se deve o aparecimento de uma escola de so “low-fi”
digital, muito desestruturado mas refinado. No que nos diz respeito, não
podemos deixar de aproveitar todo o tipo de desperdícios, mesmo os mais
indigestos.
Os DAT Politics são um caso isolado
na cena eletrónica francesa, numa altura em que nomes como Air, Daft Punk, Alex
Gopher ou Étienne de Crécy alcançaram projeção no mercado internacional?
Todos esses
nomes são como que as primeiras superpopstars do nosso país, o que trouxe uma
dinâmica positiva, mesmo quando a música soa formatada… A nossa música tem um
potencial comercial mais fraco. Mas como as coisas estão sempre a mudar… Há semanas
atrás, Benjamin Diamond, cantor dos Stardust, depois de assistir a um dos
nossos concertos disse que tinha gostado imenso da música mas que nós éramos
loucos!
O lado lúdico da vossa música não é
tão evidente como no caso dos Schlammpeitziger, Mouse on Mars ou Isan. Uma
conceção diferente de humor.
Gostamos
bastante da família das editoras a-musik e Sonig, musicalmente sentimo-nos
próximos desse espírito de festa que as caracteriza, mas o nosso passado
“bruitiste” atraiçoa-nos sempre. Gostamos de sonoridades rugosas. Sem dúvida, a
nossa música possui um humor diferente, os nossos colegas alemães tem tendência
para intelectualizar as suas produções, tradição que não possuímos.
Em “Tracto Flirt”, como em “Sous
Hit”, funcionam em registos diferentes: um mais “noisy”, outro… dançável… O
novo “Plugs Plus” saiu no selo das Chicks on Speed, e o vosso nome aparece
ligado ao emergente “Nouveau Disko”, com as Chicks on Speed, Peaches, Miss
Kittin… Uma reorientação?
O novo
álbum é diferente dos anteriores mas é também uma continuação de “Sous Hit”.
Tem momentos muito ruidosos mas também algumas canções, cantadas por amigos que
convidámos, como Blectum from Blechdom, Felix Kubin e Matmos, o que confere a
“Plugs Plus” uma dimensão talvez mais pop. Fomos associados aos “Nouveau Disko”
porque também utilizamos sonoridades dos anos 80, sem que tal signifique
saudosismo. A maior parte das correntes atuais não nos interessa.
Um pequeno
jogo. Escolha sem pensar, uma das alternativas: Air ou Pink Floyd?
Pink Floyd.
Pelo caleidoscópio dos vídeos e as montagens alucinatórias.
“4.33” de
John Cage ou “Metal Machine Music”, de Lou Reed?
“Metal
Machine Music”, um dos mais belos discos a solo de “Megalolou”.
Kraftwerk
ou Cluster?
Kraftwerk.
Pelos cortes de cabelo.
Powerbook
ou sampler?
Power PC. É
muito mais leve…
Moog ou
Mellotron?
Moog. Mesmo
se só Felix Kubin tenha conseguido pôr a funcionar o nosso…
Física ou
matemática?
Física. De
sedução-repulsa.
Cérebro ou
pés?
Pés. Sem
saber com qual dos dois dançar…
Estética ou
Política?
Estética da
desordem. Silicone e turbomamoplastia.
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