11/02/2016

DAT um estalo [DAT Politics]

Y 1|MARÇO|2002
música|braga eletrónica

Para os DAT Politics o importante é a “sujidade” digital. O “powerbook” como arma. A eletricidade como meio. A pop como objetivo. O espanto, o confronto, a rendição como consequências. Braga, o festival BRG2002, hoje e amanhã, que se acautele.

DAT um estalo

            Os DAT Politics não serão, como diz o outro, “uma famosa banda pop francesa”. Mas são a mais acutilante e aquela a cujos estalos eletrónicos é impossível ficar indiferente. Depois da visita, há dois anos, da banda irmã, Tone Rec, perspetiva-se novo confronto com a música lancinante saída dos seus computadores portáteis, na apresentação – BRG2002, em Braga – do novo álbum “Plugs Plus”, gravado para a editora das Chicks on Speed. Sedução e repulsa. Ou as duas juntas, como Claude Pailliot e Gaetan Collet explicou ao Y.

            São a “besta negra” da pop?
            Não temos quaisquer problemas com a pop, que escutamos há muitos anos. Quando começámos a fazer música, entre outras coisas, ouvíamos rock barulhento, mas também coisas mais voltadas para o grande público, como alguns grupos de “acid music” belgas. O importante não é o que se come, mas a maneira como se mastiga.
            O nome DAT Politics pretende chamar a atenção para algum aspeto artístico, ideológico ou tecnológico?
            É um jogo de palavras. Gostamos de poder utilizar a palavra “política” no contexto da eletrónica. Trata-se de intrigar, de desorientar o auditor, já que, a priori, a nossa música não possui qualquer dimensão política, pelo menos no sentido vulgar.
            Há quem chame à vossa música “laptop rock”. A definição agrada-vos?
            Digamos que se aplica perfeitamente a nós. Funcionamos como um grupo de rock, não improvisamos e trabalhamos muito a elaboração de cada tema. Os nossos “laptops” não estão ligados entre si, é uma espécie de “jam session” digital, por vezes difícil de digerir…
            Como descreveriam a evolução musical dos Tone Rec para os DAT Politics. As duas bandas continuam a existir em paralelo, ou os Tone Rec extinguiram-se?
            Os DAT Politics são uma mutação maximalista dos Tone Rec, mas com uma mesma tendência para os sons “sujos”. Os métodos de trabalho são semelhantes. De momento, os DAT Politics ocupam todo o nosso tempo e estamos entusiasmados.
            Há dois anos, quando atuaram ao vivo em Lisboa, a disposição em palco do grupo, com os músicos sentados aos pares, voltados de frente uns para os outros, lembrava os Kraftwerk Foi propositado.
            É verdade que vários nos disseram o mesmo. Mas é uma coincidência que advém do facto de sermos um grupo que trabalha com máquinas minúsculas.
            As pessoas veem apenas uns tipos debruçados sobre pequenos computadores. A dimensão espetacular dos concertos preocupa-vos?
            Concentramo-nos mais no som do que no show. Preferimos focar a nossa energia que pode desprender-nos dos sons. Neste momento assiste-se ao retorno de uma música de variedade (“Msuci hall”) eletrónica, com fatos espampanantes e muito espalhafato, o que alguns fazem de resto, muito bem… Mas a par de se criticar uns tipos com uns computadores portáteis que parecem uns chatos, não nos deveremos interrogar, primeiro, sobre a qualidade da música? As pessoas vêm ter connosco a dizer que ficaram espantadas com a música que fazemos com os portáteis. Muitas vezes ficam presas ao cliché do músico solitário sentado atrás da máquina. Utilizamos os computadores como instrumentos, sem nos preocuparmos com os aspetos técnicos.
            Mesmo considerando que outro dos vossos álbuns, “Villiger”, marcava uma rutura com a estética “clicks & cuts”, é lícito enquadrar os DAT Politics nesta corrente, como reação à tecno ou ao drum ‘n’ bass?
            Estivemos sempre à margem da tendência minimalista dominante do “clicks & cuts”, mesmo se temos um pé nesse circuito. Felizmente as nossas viagens levaram-nos ao encontro de artistas com os quais formamos uma escola alternativa mais permissiva e lúdica do que qualquer curso universitário de informática… Os nossos verdadeiros colegas de trabalho são Blectum from Blechdom, Felix Kubin, Chicks on Speed, Kid606, Goodiepal… Como nós, sentem a mesma atração por tudo o que é “sujo” e arriscado, perigoso…
            E em relação à música de “escritórios doentes” dos Oval ou Microstoria? Algumas afinidades?
            Apesar das músicas serem diferentes, sentimo-nos atraídos pelo trabalho desses melodistas informáticos, a quem se deve o aparecimento de uma escola de so “low-fi” digital, muito desestruturado mas refinado. No que nos diz respeito, não podemos deixar de aproveitar todo o tipo de desperdícios, mesmo os mais indigestos.
            Os DAT Politics são um caso isolado na cena eletrónica francesa, numa altura em que nomes como Air, Daft Punk, Alex Gopher ou Étienne de Crécy alcançaram projeção no mercado internacional?
            Todos esses nomes são como que as primeiras superpopstars do nosso país, o que trouxe uma dinâmica positiva, mesmo quando a música soa formatada… A nossa música tem um potencial comercial mais fraco. Mas como as coisas estão sempre a mudar… Há semanas atrás, Benjamin Diamond, cantor dos Stardust, depois de assistir a um dos nossos concertos disse que tinha gostado imenso da música mas que nós éramos loucos!
            O lado lúdico da vossa música não é tão evidente como no caso dos Schlammpeitziger, Mouse on Mars ou Isan. Uma conceção diferente de humor.
            Gostamos bastante da família das editoras a-musik e Sonig, musicalmente sentimo-nos próximos desse espírito de festa que as caracteriza, mas o nosso passado “bruitiste” atraiçoa-nos sempre. Gostamos de sonoridades rugosas. Sem dúvida, a nossa música possui um humor diferente, os nossos colegas alemães tem tendência para intelectualizar as suas produções, tradição que não possuímos.
            Em “Tracto Flirt”, como em “Sous Hit”, funcionam em registos diferentes: um mais “noisy”, outro… dançável… O novo “Plugs Plus” saiu no selo das Chicks on Speed, e o vosso nome aparece ligado ao emergente “Nouveau Disko”, com as Chicks on Speed, Peaches, Miss Kittin… Uma reorientação?
            O novo álbum é diferente dos anteriores mas é também uma continuação de “Sous Hit”. Tem momentos muito ruidosos mas também algumas canções, cantadas por amigos que convidámos, como Blectum from Blechdom, Felix Kubin e Matmos, o que confere a “Plugs Plus” uma dimensão talvez mais pop. Fomos associados aos “Nouveau Disko” porque também utilizamos sonoridades dos anos 80, sem que tal signifique saudosismo. A maior parte das correntes atuais não nos interessa.
            Um pequeno jogo. Escolha sem pensar, uma das alternativas: Air ou Pink Floyd?
            Pink Floyd. Pelo caleidoscópio dos vídeos e as montagens alucinatórias.
            “4.33” de John Cage ou “Metal Machine Music”, de Lou Reed?
            “Metal Machine Music”, um dos mais belos discos a solo de “Megalolou”.
            Kraftwerk ou Cluster?
            Kraftwerk. Pelos cortes de cabelo.
            Powerbook ou sampler?
            Power PC. É muito mais leve…
            Moog ou Mellotron?
            Moog. Mesmo se só Felix Kubin tenha conseguido pôr a funcionar o nosso…
            Física ou matemática?
            Física. De sedução-repulsa.
            Cérebro ou pés?
            Pés. Sem saber com qual dos dois dançar…
            Estética ou Política?

            Estética da desordem. Silicone e turbomamoplastia.

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