25/02/2016

DAT Politics - Plugs Plus

Y26|ABRIL|2002
roteiro|discos

DAT POLITICS
Plugs Plus
Chicks on Speed, distri. Ananana
8|10

dat politics soft, where?

Depois de se fazerem anunciar como quaisquer publicitários de meia tijela, através do slogan “Dat politics”, os primeiros sons de “Re-folk” parecem enveredar pela mesma via de rebentamento dos tímpanos com que a banda francesa já encetara o ataque sónico inicial do álbum anterior, “Sous Hit”. Pura ilusão. Ou manobra de diversão, de um álbum que não esconde ter como objeivo principal divertir. “Plugs Plus” assinala a entrada, com serpentinas e confettis usados, dos DAT Politics no universo das “funny electronics”, lugar algo superlotado pelo contingente de bandas alemãs que souberam aprender a lição dada no passado pelos Cluster, Der Plan e Pyrolator.
            Para trás ficaram, até ver, os golpes de lâmina dos Tone Rec e do primeiro manifesto DAT, “Villiger”. O que antes era agressão tornou-se divertimento, com os franceses a revelarem-se mestres na assimilação e síntese de uma estética sem precedentes na música contemporânea. Claro que a entrada para a editora das gozonas Chicks on Speed não é alheia a esta inflexão que transformou o “laptop rock” dos DAT Politics numa creche digital onde veio toda a gente brincar um bocadinho. Schlammpeitziger, Matmos, Kid606, Blectum from Blechdom e, sobretudo, Felix Kubin, participam em “Plugs Plus” como manivelas de uma máquina finalmente pop que, no entanto, continua a não dispensar a manipulação de inusitados materiais sonoros, sejam lixo informático, samples submetidos a tortura ou microscopias ao software – que de “soft” tem muito pouco… - dos “Powerbooks”. E se escrevemos “sobretudo Felix Kubin” é porque é a este génio e entertainer alemão, para quem a eletrónica é um ursinho de peluche, que os DAT Politics franquearam a entrada no seu escritório e pediram conselhos, seja na citação direta de “Senior actif” e “food” (temas que retomam com dose adicional de acidez o anedotário dos Nova Huta), seja, como em “Morgens, mittags”, na rememorização, cheia de cortes, omissões e remendos, de “Ein Bundel Faulnis in der Grube”, álbum seminal de Holger Hiller, pai espiritual de Kubin. “Tout bleu” vai ainda mais longe e roça o kitsch de… Plastic Bertrand, mas o que noutros programas e em cabeças menos destrambelhadas se arriscaria a cair em desgraça e no mau gosto, nos DAT Politics funciona como convite para uma espécie de chafurdice binária que de imediato sofre a correção (e o corretivo…) com a tareia de “scratch” e “digital noise” (muito Kid606, diga-se em abono da verdade) aplicada por “Icq”.

            “Plugs Plus” é o álbum alemão da pop francesa. Experiência genética de clonagem bem sucedida. Música de variedades da sociedade de bonecos animados do séc. XXI. Ou nada de tão sério como isso, se levarmos em conta a proclamação final enunciada, entre bits descontrolados, flashbacks dos anos 80 e fragmentos de música clássica caídos ali por acaso, pelos compères de um circo de pulgas: “If you want to pass our class, you have to show your ass”.

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