Y26|ABRIL|2002
roteiro|discos
DAT POLITICS
Plugs Plus
Chicks on Speed, distri. Ananana
8|10
dat politics soft, where?
Depois de se
fazerem anunciar como quaisquer publicitários de meia tijela, através do slogan
“Dat politics”, os primeiros sons de “Re-folk” parecem enveredar pela mesma via
de rebentamento dos tímpanos com que a banda francesa já encetara o ataque
sónico inicial do álbum anterior, “Sous Hit”. Pura ilusão. Ou manobra de
diversão, de um álbum que não esconde ter como objeivo principal divertir.
“Plugs Plus” assinala a entrada, com serpentinas e confettis usados, dos DAT
Politics no universo das “funny electronics”, lugar algo superlotado pelo
contingente de bandas alemãs que souberam aprender a lição dada no passado
pelos Cluster, Der Plan e Pyrolator.
Para trás ficaram, até ver, os
golpes de lâmina dos Tone Rec e do primeiro manifesto DAT, “Villiger”. O que
antes era agressão tornou-se divertimento, com os franceses a revelarem-se
mestres na assimilação e síntese de uma estética sem precedentes na música
contemporânea. Claro que a entrada para a editora das gozonas Chicks on Speed
não é alheia a esta inflexão que transformou o “laptop rock” dos DAT Politics
numa creche digital onde veio toda a gente brincar um bocadinho. Schlammpeitziger,
Matmos, Kid606, Blectum from Blechdom e, sobretudo, Felix Kubin, participam em
“Plugs Plus” como manivelas de uma máquina finalmente pop que, no entanto,
continua a não dispensar a manipulação de inusitados materiais sonoros, sejam
lixo informático, samples submetidos a tortura ou microscopias ao software –
que de “soft” tem muito pouco… - dos “Powerbooks”. E se escrevemos “sobretudo
Felix Kubin” é porque é a este génio e entertainer alemão, para quem a
eletrónica é um ursinho de peluche, que os DAT Politics franquearam a entrada
no seu escritório e pediram conselhos, seja na citação direta de “Senior actif”
e “food” (temas que retomam com dose adicional de acidez o anedotário dos Nova
Huta), seja, como em “Morgens, mittags”, na rememorização, cheia de cortes,
omissões e remendos, de “Ein Bundel Faulnis in der Grube”, álbum seminal de
Holger Hiller, pai espiritual de Kubin. “Tout bleu” vai ainda mais longe e roça
o kitsch de… Plastic Bertrand, mas o que noutros programas e em cabeças menos
destrambelhadas se arriscaria a cair em desgraça e no mau gosto, nos DAT
Politics funciona como convite para uma espécie de chafurdice binária que de
imediato sofre a correção (e o corretivo…) com a tareia de “scratch” e “digital
noise” (muito Kid606, diga-se em abono da verdade) aplicada por “Icq”.
“Plugs Plus” é o álbum alemão da pop
francesa. Experiência genética de clonagem bem sucedida. Música de variedades
da sociedade de bonecos animados do séc. XXI. Ou nada de tão sério como isso,
se levarmos em conta a proclamação final enunciada, entre bits descontrolados,
flashbacks dos anos 80 e fragmentos de música clássica caídos ali por acaso,
pelos compères de um circo de pulgas: “If you want to pass our class, you have
to show your ass”.
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