Pop Rock
16 de Outubro
1991
ROBYN
HITCHCOCK & THE EGYPTIANS
Perspex Island
LP/MC/CD,
A & M, distri. Polygram
Decididamente, a pop resignou-se ao papel de discípula da tradição. Mas
se Hitchcock não hesita um momento em firmar-se nessa tradição, tal não implica
a inexistência de um discurso personalizado e original. Pelo contrário,
partindo de modelos tão sólidos como os Pink Floyd, da época Syd Barrett, os
Beatles psicadélicos das “sitars” e gurus, ou os Byrds (comparação inevitável
se levarmos em conta que Peter Buck, dos R. E. M., toca guitarra em oito temas,
num deles, “So you think you’re in love”, retomando sem vergonha a chave
melódica de “Turn turn turn”), consegue traduzi-los numa linguagem autónoma,
reveladora de um compositor/intérprete suficientemente amadurecido para não
recear o confronto com o passado.
“Perspex Island” é misterioso e noturno, vagando por sonoridades
aquáticas e sombrias (“Vegetation and dimes” ou “She doesn’t exist” são dois
bons exemplos deste lado lunar), em contraste com o tom extrovertido de
“Oceanside” e “Child of the universe” que abrem respetivamente o lado 1 e 2 do
disco. A cada audição revelam-se novos pormenores: a textura íntima dos
arranjos, os insuspeitados recantos emocionais que a voz vai desvelando.
Desaconselha-se pois o mergulho de cabeça. Convirá antes imergir
lentamente, de modo a permitir a observação cuidada de cada nível de
profundidade. Por debaixo da superfície espelhada de guitarras surge do fundo
submarino um mundo de melodias insinuantes que aos poucos dá a conhecer o
mistério. Michael Stipe e o trompetista Mark Isham contribuem para o adensar
das brumas. (8)
Sem comentários:
Enviar um comentário