Pop
A GRANDE EXPLOSÃO
Os Teardrop Explodes gostariam de
ter tocado no clube UFO, nos tempos áureos da Londres psicadélica. Julian Cope,
o líder carismático da banda, compensa a falta, invertendo o processo,
transportando a visão psicadélica para a atualidade e moldando-a a seu
bel-prazer.
Resultado da associação de diversos
músicos, provenientes de bandas obscuras e entroncando numa genealogia cujos
antepassados próximos davam pelo nome de Crucial Three, The Mystery Girls, The
Nova Mob e A Shallow Madness, os Teardrop nascem finalmente em Liverpool em
1978, em plena época de revivalismo psicadélico. A par dos Echo and the
Bunnymen, erigiram-se como um dos pilares mais sólidos do movimento,
construindo para si próprios um nicho à parte, no meio da voragem das modas e
dos estilos. Com uma discografia reduzida – apenas três álbuns, sendo o mais
recente já deste ano –, Julian Cope soube, de forma bem hábil, criar a imagem e
o mito do mártir e lunático iluminado, que de vez em quando, e por desfastio grava
a obra-prima da ordem.
Novos Psicadélicos
Depois de uma série de discos em
formato pequeno, como o EP “Sleeping Gas” e os “singles” “Bouncing Babies” e
“Treason (It’s Just a Story)”, gravam em 1980 o primeiro álbum de genérico,
“Kilimanjaro”. O álbum alcança um êxito relativo nas tabelas de vendas,
evidenciando todas as características e originalidade que viriam a explodir
feericamente na obra seguinte, “Wilder” (1981), em que Cope faz jus ao epíteto
de “génio”.
“Wilder” fica para a história da
música popular como um manual de “Como recuperar um estilo antigo, captar a sua
essência e apresentá-lo num contexto contemporâneo”. É evidente que tal tarefa
só é possível se o autor tiver a capacidade extra de saber compor boas canções.
Julian Cope não escreve boas mas, sim, ótimas canções. “Passionate Friend”,
editada em “single”, é apenas uma das mais conhecidas, tendo em conta que o
álbum fervilha de inspiração, sem um único ponto fraco. “Colours
Fly Away”, “Seven Views of Jerusalem”, “Tiny Children”, “And the Fighting Takes
Over…” ou “The Great Dominions” são exemplos brilhantes de um músico em estado
de graça. O psicadelismo dos anos 80 encontrava em Julian Cope um papa à altura.
Um pouco à semelhança do que
aconteceu com Syd Barrett e os Pink Floyd, Cope entra em avançado estado de
paranoia, a que já não é estranho o consumo desregrado de drogas, já que as
alucinações e o estatuto de visionário nem sempre se alcançam por obra e graça
de uma vida saudável e equilibrada. Os Teardrop Explodes sofriam por tabela e
encerravam para balanço.
Para Além da Santidade
Já melhorzito, Cope decide gravar
discos a solo. “World Shut Your Mouth” (1984) inicia a série e manifesta os
primeiros sintomas de uma megalomania entretanto declarada. O passo seguinte é
“Fried”, gravado no mesmo ano e que marca o final das ligações contratuais com
a Mercury, que suportara até então todas as atividades da banda.
“Saint Julian”, gravado em 1987 para
a Island é o terceiro capítulo da ascensão de Cope à santidade. Ninguém
acredita quando Julian diz que o título se refere apenas a uma conhecida marca de
tabaco. Seja como for, pelo menos uma coisa Julian Cope não perdeu: o sentido
de humor.
O golpe de teatro dá-se este ano,
com a edição de um novo álbum dos Teardrop, por ironia intitulado “Everybody
Wants to Shag the Teardrop Explodes”; contém material antigo, espalhado por
outros discos, acrescentado de cinco originais. Cope envereda abertamente por
uma via “funky”, já encetada aliás, embora de forma discreta, em obras
anteriores. A peça-chave de “Everybody Wants to Shag...” é “The Terrorist”,
mais experimental e ao nível das
melhores ousadias da banda. No ar fica a questão de saber o que existe
para além da santidade.
QUARTA-FEIRA,
11 ABRIL 1990 VIDEODISCOS
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