27/10/2021

A grande explosão [Teardrop Explodes]

 Pop
 
A GRANDE EXPLOSÃO
 

            Os Teardrop Explodes gostariam de ter tocado no clube UFO, nos tempos áureos da Londres psicadélica. Julian Cope, o líder carismático da banda, compensa a falta, invertendo o processo, transportando a visão psicadélica para a atualidade e moldando-a a seu bel-prazer.
            Resultado da associação de diversos músicos, provenientes de bandas obscuras e entroncando numa genealogia cujos antepassados próximos davam pelo nome de Crucial Three, The Mystery Girls, The Nova Mob e A Shallow Madness, os Teardrop nascem finalmente em Liverpool em 1978, em plena época de revivalismo psicadélico. A par dos Echo and the Bunnymen, erigiram-se como um dos pilares mais sólidos do movimento, construindo para si próprios um nicho à parte, no meio da voragem das modas e dos estilos. Com uma discografia reduzida – apenas três álbuns, sendo o mais recente já deste ano –, Julian Cope soube, de forma bem hábil, criar a imagem e o mito do mártir e lunático iluminado, que de vez em quando, e por desfastio grava a obra-prima da ordem.
 
Novos Psicadélicos
 
            Depois de uma série de discos em formato pequeno, como o EP “Sleeping Gas” e os “singles” “Bouncing Babies” e “Treason (It’s Just a Story)”, gravam em 1980 o primeiro álbum de genérico, “Kilimanjaro”. O álbum alcança um êxito relativo nas tabelas de vendas, evidenciando todas as características e originalidade que viriam a explodir feericamente na obra seguinte, “Wilder” (1981), em que Cope faz jus ao epíteto de “génio”.
            “Wilder” fica para a história da música popular como um manual de “Como recuperar um estilo antigo, captar a sua essência e apresentá-lo num contexto contemporâneo”. É evidente que tal tarefa só é possível se o autor tiver a capacidade extra de saber compor boas canções. Julian Cope não escreve boas mas, sim, ótimas canções. “Passionate Friend”, editada em “single”, é apenas uma das mais conhecidas, tendo em conta que o álbum fervilha de inspiração, sem um único ponto fraco. “Colours Fly Away”, “Seven Views of Jerusalem”, “Tiny Children”, “And the Fighting Takes Over…” ou “The Great Dominions” são exemplos brilhantes de um músico em estado de graça. O psicadelismo dos anos 80 encontrava em Julian Cope um papa à altura.
            Um pouco à semelhança do que aconteceu com Syd Barrett e os Pink Floyd, Cope entra em avançado estado de paranoia, a que já não é estranho o consumo desregrado de drogas, já que as alucinações e o estatuto de visionário nem sempre se alcançam por obra e graça de uma vida saudável e equilibrada. Os Teardrop Explodes sofriam por tabela e encerravam para balanço.
 
Para Além da Santidade
 
            Já melhorzito, Cope decide gravar discos a solo. “World Shut Your Mouth” (1984) inicia a série e manifesta os primeiros sintomas de uma megalomania entretanto declarada. O passo seguinte é “Fried”, gravado no mesmo ano e que marca o final das ligações contratuais com a Mercury, que suportara até então todas as atividades da banda.
            “Saint Julian”, gravado em 1987 para a Island é o terceiro capítulo da ascensão de Cope à santidade. Ninguém acredita quando Julian diz que o título se refere apenas a uma conhecida marca de tabaco. Seja como for, pelo menos uma coisa Julian Cope não perdeu: o sentido de humor.
            O golpe de teatro dá-se este ano, com a edição de um novo álbum dos Teardrop, por ironia intitulado “Everybody Wants to Shag the Teardrop Explodes”; contém material antigo, espalhado por outros discos, acrescentado de cinco originais. Cope envereda abertamente por uma via “funky”, já encetada aliás, embora de forma discreta, em obras anteriores. A peça-chave de “Everybody Wants to Shag...” é “The Terrorist”, mais experimental e ao nível das  melhores ousadias da banda. No ar fica a questão de saber o que existe para além da santidade.
 
QUARTA-FEIRA, 11 ABRIL 1990 VIDEODISCOS

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