04/10/2021

Faluas do Tejo dos Madredeus hoje em Sintra

CULTURA
SÁBADO, 19 MAR 2005
 
Faluas do Tejo dos Madredeus hoje em Sintra
 
O novo disco do grupo é uma espécie de retorno às origens. Depois do concerto de hoje, em Sintra, haverá outro em Lisboa
 
Faluas do Tejo, o mais recente álbum dos Madredeus, fala de Lisboa. E fala como sempre nos falou a sua música, de uma forma que procura tocar o íntimo das coisas. Gravado na mesma altura que Amor Infinito, editado anteriormente, Faluas do Tejo é uma espécie de retorno às origens, ou à essência acústica, do grupo. Vai ser apresentado hoje, no Centro Olga Cadaval, em Sintra. A sala tem ótima acústica, o que contribuirá ainda mais para traduzir na perfeição a mestria técnica de que o grupo dá mostras em cada concerto.
            “Vai ser um de dois concertos únicos. Além deste, daremos outro no Fórum Lisboa, com as canções todas do Faluas do Tejo”, explica Pedro Ayres Magalhães, líder do grupo. “Estamos a fazer uma tournée mundial, que começou o ano passado e irá até 2007, chamada Amor Infinito. Estes dois concertos são particulares, dedicados a Lisboa. De resto, já estivemos na Turquia, Espanha, França, Croácia, Bósnia, Sérvia...” No Olga Cadaval, diz, “será um belo serão, já está esgotado, em que vamos tocar as novas canções”.
            Os Madredeus são a banda portuguesa mais bem representada e mais bem aceite no estrangeiro. Faz sentido. A sua música é, de todas as bandas portuguesas, aquela que mais perto estará de uma portugalidade que não se esgota no fado, antes perdura num universo de referências míticas que têm tudo a ver com a saudade e com uma certa filosofia portuguesa.
 
Cantora-contadora de histórias
Pedro Ayres de Magalhães escreve sobre verdades simples, mas que, por serem verdades, e simples, se leem em múltiplas camadas, como um palimpsesto, do mais popular que a música portuguesa pode ser às lógicas secretas da saudade e do amor. Teresa Salgueiro é a voz desta música e destas palavras que também parecem ser escritas de propósito para ela. É a contadora-cantadora de histórias, a pureza e a riqueza de um timbre que alia as sonoridades mais tradicionais a uma limpidez sem igual. Os outros elementos do grupo, finalmente fixo após um período inicial de entradas e saídas, Fernando Júdice, José Peixoto e Carlos Maria Trindade, dão a cor e completam o sentimento veiculado na escrita de Pedro Ayres.
            Faluas do Tejo, no entanto, de tanto querer ser universal e agradável, acaba por ser um disco com menos elos de ligação à espiritualidade profunda que os Madredeus exploraram em anteriores trabalhos. De tão internacionais, ter-se-ão deixado arrumar em demasia e com toda a comodidade na prateleira da world music, que é onde, lá fora, se arrumam todas as músicas não cantadas em inglês. É, pois, um álbum onde a ligeireza da new age se confunde com a superficialidade e que, porventura, não tocará na alma mais profunda de Lisboa e dos lisboetas, afinal a pedra-de-toque que levou à sua composição. O belo, toda a gente sabe, é inimigo do bonito, e Faluas do Tejo é, inegavelmente, um álbum bonito, com faixas um pouco mais do que isso, como Névoas da madrugada ou a declamação Na estrada de Santiago, este último sobre a peregrinação a Compostela e que Pedro Ayres comenta: “Havia um caminho português que passava por Lisboa. Grande parte dos diários de pessoas que visitavam Lisboa dizia respeito a esta peregrinação. Vinham por Badajoz, atravessavam o rio no Montijo. Chegavam do lado do mar da Palha. Por isso é que se chamava a Lisboa ‘cidade branca’. Estava cheia de velas, era mais branca no rio do que em terra”.
            Ao vivo, o prazer de ouvir os Madredeus mantêm-se intocável. De ouvir um som que parece prender-nos a um fado doce, a uma nostalgia sem nome, com a transparência das águas.
 
Madredeus
SINTRA Centro Cultural Olga Cadaval. Tel.: 210036300. Às 22h. Bilhetes entre 17,50 e 30 euros.

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