04/10/2021

Warsaw Village Band fizeram festa pouco hardcore

CULTURA
SEXTA-FEIRA, 25 MAR 2005
 
Crítica Música
 
Warsaw Village Band fizeram festa pouco hardcore
 
WARSAW VILLAGE BAND
LISBOA Forum Lisboa
Quarta, 23, às 22h00.
Meia sala
 
Por mais que se socorram de termos como bio techno e hardcore folk, a música dos Warsaw Village Band, que anteontem se apresentaram no Fórum Lisboa, é a boa velha música tradicional, sem muitos empecilhos extra, apenas tocada com um bocadinho mais de energia.
Comparados, por exemplo, aos Hedningarna, modelos de transgressão neste género de música, os seis Warsaw, três raparigas e três rapazes bastante jovens, são anjinhos imberbes.
Não que eles não queiram dar ar de rebeldes e inovadores – Maciej Szajkowski, porta-voz de serviço, não se cansou de lançar para o ar o rótulo hardcore por tudo e por nada, referindo-se à estética do grupo como “ancient to the future”. Mas, na prática, eles são gente civilizada e a música não primou por grandes cortes epistemológicos nem pela folia desbragada.
Tudo começou, aliás, da forma mais tradicional possível, com a violoncelista Maja Kloszcz a cantar um tema a capella. Depois juntaram-se os outros cinco e a música acelerou. Um tema intitulado Quatro cavalos selvagens recebeu o selo bio techno, houve uma polka hardcore e uma canção de trance-roots-psychedelic. Rótulos à parte, é por causa do rapaz do bombo, Piotr Glinski, que o som ganha força e estrondo.
À medida que o concerto ia decorrendo foram lançados incitamentos à assistência para dançar mas só no final esta deu ouvidos, saltando para a frente do palco, aos pulos e gritos. Fora isso, tudo decorreu de forma bastante morna. Basicamente, o que sobra em entusiasmo aos Warsaw Village Band falta-lhes em diversidade tímbrica, notando-se a partir de dada altura uma certa repetição de ritmos e fórmulas. As três raparigas cantaram em coro, por vezes lembrando as Varttina, com Magdalena Sobczac mais próxima do registo “gritado” e estridente das “vozes brancas”, transcritas de um estilo antigo dos velhos pastores polacos, e Maja Klezzcz a mostrar-se possuidora de um instrumento mais grave e agradável ao ouvido. Magdalena Sobczac revelou-se ainda notável executante no saltério, enquanto Sylvia Siatkowska, terceira voz do grupo, tocou também violino. Na parte mais intimista, logo rotulada de slavic classical raga, própria para proporcionar sentimentos de “paz e elevação”, Sylvia Siatkowska usou o suka, um modelo antigo de violino do séc. XVI, em dueto com o violoncelo, num dos momentos mais tocantes da noite.
Também de exceção foram uns Mazovian blues cantados de forma superlativa por Maja, sobre um balanço lento e sensual.
Faltará aos Warsaw Village Band a tal diversidade e, porventura, outras sonoridades que aumentem a paleta tímbrica do grupo e evitem a monotonia. Mas a pujança e a entrega de todos é um facto indesmentível, ao qual o público respondeu, pedindo dois encores. Preenchidos, é claro, por mais uma polka hardcore e outros temas de dança.
A noite estava ganha, terminando numa festa que os Warsaw fizeram por merecer.
 
EM RESUMO
Na parte mais intimista, rotulada de slavic classical raga, própria para proporcionar sentimentos de “paz e elevação”, Sylvia Siatkowska usou o suka, um modelo antigo de violino do séc. XVI, em dueto com o violoncelo: um dos momentos mais tocantes da noite



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