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ENOVISÕES
QUARTA-FEIRA,
7 MARÇO 1990 VIDEODISCOS
O que faz falta…
O panorama editorial
das vídeo-cassetes musicais é, entre nós, confrangedor. O amante da imagem
gravada e da boa música, cujos gostos vão além dos Queen, Pink Floyd,
Supertramp ou Phil Collins, pouco ou nada encontrará no mercado que satisfaça
as suas apetências estéticas.
Para além de registos
de concertos com grupos de “top” ou de coletâneas de “clips” com objetivos
exclusivamente promocionais, é a desolação. Da multiplicidade de novas e
sofisticadas propostas audiovisuais que vão surgindo por essa Europa fora, nada
nos chega e quase ninguém se interessa. Faz imensa falta, por exemplo, conhecer
e ter acesso ao trabalho em vídeo de um senhor chamado Brian Eno e muito
concretamente às cassetes da sua autoria, “Thursday Afternoon” e “Mistaken
Memories”.
As imagens filmadas
pelo mestre da “discreet music” chocam com os hábitos e preconceitos das atuais
estratégias editoriais. Em vez de montagens ultrafrenéticas, Eno devolve-nos o
silêncio e ensina-nos a saber de novo olhar. Nas suas obras, os sons e as
imagens fluem com a lentidão da eternidade. À segmentação do tempo, contrapõe a
sua distensão até aos limites da quase imobilidade.
A objetiva eleva-se
acima dos arranha-céus de Nova Iorque, filmando a passagem das nuvens e da luz
que assombram o caos dos níveis inferiores. As imagens e os sons deslizam
lentamente. Não contam nenhuma história senão a do nosso filme fantasmático.
“Thursday Afternoon” e “Mistaken Memories” provam, de forma radical, que a
vídeo-arte permanece aberta a novos códigos.
Registe-se ainda que
ambas as cassetes apresentam o formato vertical. A imagem aparece deitada no
ecrã, sendo necessário deitar de lado a televisão ou então inclinar
lateralmente a cabeça, num ângulo de noventa graus. Tal como Brian Eno, também
neste caso a ginástica faz bastante falta.
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