CULTURA
SÁBADO, 9 ABR 2005
Festival de Música de Gouveia apresenta
Univers Zero
Banda belga encerra dois dias de concertos com oito bandas
A banda belga é mesmo uma das fundadoras deste movimento que procurou juntar música e ideologia, pondo em confronto com o mainstream o ideário de uma certa música alternativa que radicava no rock progressivo original, mas que o prolongava segundo coordenadas novas que bebiam influência no jazz, na folk, na música contemporânea ou simplesmente no legado, reformulado, de nomes importantes dos anos 70.
Da formação original dos Univers Zero resta Daniel Denis, responsável pelo estilo, extremamente original, desta banda também relacionada com a chamada “nova música de câmara” europeia. A obra dos Zero pode dividir-se em três períodos distintos. O primeiro, que poderíamos designar fase gótica, é composto pelos álbuns 1313, Hérésie e a obra-prima Ceux du Dehors. Música sombria, predominantemente acústica, ilustra com oboés e órgãos antigos de pedais os universos fantásticos de escritores como Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft. Uzed e Heatwave assinalam a introdução dos sintetizadores, marcando um estilo mais rock e eletrónico. Depois de um interregno aproveitado por Denis para gravar dois álbuns a solo, Sirius and the Ghosts e Les Eaux Troubles, os Univers Zero ressurgiram nos anos 90 com novos músicos e álbuns que repõem o equilíbrio entre as duas fases anteriores, como The Hard Quest, Rhytmix e o novo Implosion.
Outra banda aparentada com as premissas estéticas do RIO é a canadiana Miriodor, formada em 1980 no Quebeque. A música dos Miriodor é mais baseada no jazz, com ênfase nos sopros, como pode ser apreciada nos álbuns Rencontres, Miriodor, Third Warning, Elastic Juggling e Mekano. Nos últimos tempos, os Miriodor encetaram uma colaboração com Lars Hollmer.
Este foi um dos elementos fundadores do grupo sueco Samla Mammas Manna, também assinantes do manifesto RIO. É um excêntrico que toca acordeão e teclados e todos os seus trabalhos a solo ou com o grupo são marcados por essa excentricidade onde o jazz trava conversações com a música de feira e as tradições da folk sueca. Hollmer apresentar-se-á a solo e em duo com Michel Berckmans, dos Univers Zero.
Também lunáticos, os norte-americanos French TV misturam ao ecletismo da estética RIO elementos de canção francesa e um lado clownesco devedor de Frank Zappa. Só os títulos dos seus álbuns são indicadores de toda uma atitude para com o rock na sua faceta mais radical e desalinhada: Virtue in Futility, Intestinal Fortitude, The Violence of Amateurs, Pardon our French!
Grupo basco onde pontifica a voz de Marta Segura, os Amarok misturam um neo-progressivismo de bom gosto e tonalidades algo sombrias com o folclore do seu país. Quentadharkën é um álbum sem concessões, avesso às clonagens típicas da maior parte dos grupos de neo-prog. Clones mesmo, e sem vergonha de o ser, são os italianos The Watch, imitadores a cem por cento dos Genesis. Daí não virá grande mal ao mundo, até porque tocam bastante bem as suas cópias a papel químico das canções de Peter Gabriel e companhia. Na área do neo-prog, os Arena são das bandas mais competentes e que mais fortemente se mantêm arredadas dos lugares-comuns que marcam o género. É verdade que podem soar bombásticos e teatrais, mas o seu novo álbum, Pepper’s Ghost, é a prova de que não perderam a noção das proporções e a propensão para contarem boas histórias através da música.
Representantes nacionais no Gouveia Art Rock são este ano os Trape-Zape, projeto do guitarrista Fernando Guiomar, na ocasião acompanhado por José Manuel David, multi-instrumentista dos Gaiteiros de Lisboa.
Nas atividades paralelas, o Gouveia Art Rock faz questão de apresentar este ano uma feira do disco, uma conferência em cuja lista de participantes consta o nome de David Oberlé, antigo músico dos Gryphon, e o lançamento oficial dos novos álbuns dos Tantra, Delirium, e do DVD do festival do ano passado.
Hoje: Amarok + French TV + Arena + Lars Hollmer + Miriodor
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