Y 27|JULHO|2001
discos|escolhas
ESTER BRINKMANN
Der Übersetzer – Il
Traduttore
Supposé, distri. Ananana
7|10
GROENLAND
ORCHESTER
Nurobic
Stora/Freibank, distri. Ananana
7|10
VÁRIOS
Staedtizism 2
Scape, distri. Ananana
8|10
Toalhas
mentais
Com
o calor a apertar, e sem que a música eletrónica dê sinais de abrandamento, há
que achar um compromisso entre o refresco e o eletrochoque, a lazeira e a
apoplexia. Com os Groenland Orchester não chega a haver dilema. À semelhança
dos Schlammpeitziger, a música desta formação eletrónica alemã, oriunda de
Hamburgo inserida na chamada estética do “smile” computorizado (leia-se: com
raízes no krautrockliveinderfabrik amassado com bonecos dos Cluster),
institucionalizou-se. O que era novidade e diversão passou a ser apenas
diversão. Não que as fantasias eletrónicas montadas por Günter Reznicek (também
Nova Huta, também estratega experimentalista em nome próprio) e Jyrgen Hall,
perdessem o traço e a cor. Ter-se-ão até tornado mais berrantes e ganho
nitidez. E paisagens familiares não implicam um passeio menos recreativo.
Continuam doces como algodão de açúcar as melodias, balouçantes e suaves, como
flocos de neve, as batidas, vivazes, como a imaginação de uma criança, as
combinações tímbricas, dos Groenland Orchester. Títulos como “Riso up”, “Rabbi
playstation”, “Fanfaren der herzen” (vivam os “vocoders” do circo Nova Huta,
com dedicatória a todos os Kubins do mundo!), “Saluti da pavia” (e se os Mouse
on Mars se cruzassem com os Severed Heads numa auto-estrada de mel?), “Farfalle
mekon” e “Tonika oase” (olh’ó pós-rock, olh’ós Stereolab, olh’á mãozinha da
Stora…) sugerem néons a piscar, armários de disfarce, férias em lugares de
plástico, jogos de consola de compota… A música dos Groenland Orchester é como
aqueles comboios pequenos para turistas, nas estâncias balneares: fazem viagens
curtas mas cheia de atrações para olhar.
Pelo contrário, a proposta de Ester
Brinkmann (Thomas Brinkmann armado em travesti…) exige óculos e estudo.
Terceira parte de um trilogia dedicada à palavra, encetada em “Totes Rennen” e
continuada em “Weisse Nächte”, “Der Übersetzer” (“o tradutor”) serve-se da
tecno minimal cara a Brinkmann para colar excertos ou longas dissertações
faladas, nas vozes de Jannis Koullenis e do seu tradutor Edward Winklhofer. O
efeito fonético é hipnótico, lembrando, por vezes, as sinfonias
sónico-literárias de Robert Ashley ou os ritmos semânticos de Scott Johnson
para “John Somebody”, intercalados por pedaços de dança eletrónica
irresistíveis à boa maneira do autor de “Rosa” e mentor dos Soul Center. Apesar
do obstáculo linguístico o córtex faz na mesma a tradução. Muito livre.
Recordando que toda a palavra era na origem energia mágica.
Com “Staedtizism 2” entramos no
domínio do conceptualismo puro e da fuga absoluta às catalogações. A distinção
entre forma e conteúdo dilui-se em organismos eletrónicos ou eletro-acústicos
em permanente metamorfose. No geral, esta antologia soa como um pacote mais
sumarento e palpável que a sua irmã “Clicks & Cuts”. O mesmo é dizer que,
se as linguagens são semelhantes (click house, tecno minimal, digital
ambient…), a forma como são tratadas distingue-se pela maior complexidade e
diversificação de tonalidades. A destoar do circuito frio está a derivação da
escola de Chicago de John Tejada numa coleção cujos melhores momentos pertencem
a Burnt Friedman, com a sua sonda de dub psicadélico, e aos Beige, com algo
parecido aos “Insect Musicians” de Graeme Revell. Excelente para secar o
cérebro, depois do banho.
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