04/08/2020

Banda norte-americana Tuxedomoon dá concerto de “world rock” no Festival Sons em Trânsito em Aveiro


CULTURA
DOMINGO, 7 NOV 2004

Banda norte-americana Tuxedomoon dá concerto de “world rock” no Festival Sons em Trânsito em Aveiro

Mítica banda dos anos 80 ao vivo pela primeira vez em Portugal. Concerto de hoje apresenta novo álbum “Cabin in the Sky”

E agora perguntam vocês: o que fazem os Tuxedomoon num festival de “World music”, como o Sons em Trânsito. A resposta pode ser dada já hoje à noite, na sua primeira apresentação ao vivo em Portugal, depois da vinda em duo, nos anos 80, de Steven Brown e Blaine L. Reininger. Já a explicação pressupõe, não só conhecer os Tuxedomoon, como proceder a um deslocamento, a uma deformação de perspetiva ou a uma ampliação de pormenor do que se agita no seu interior.
            Os Tuxedomoon foram na década de 80, e voltam a sê-lo neste novo século, no ano da sua ressurreição, uma banda rock. Quer dizer, é pouco razoável esperar que alguma vez venham a batucar num djembé ou a soprar numa flauta com o nariz, como fazem os pigmeus. E, no entanto, o rock desta banda formada em 1977 em São Francisco, nos EUA, não é um rock como outro qualquer, abarcando toda a espécie de influências ao ponto de, se quisermos mesmo rotulá-lo, lhe podermos chamar “World rock”. O novo álbum, editado este ano, “Cabin in the Sky”, recupera em novos moldes o arsenal de referências e sons exóticos que é possível encontrar na sua discografia dos “eighties”. Ontem como hoje, a música dos Tuxedomoon nunca foi simples nem fácil de digerir e o que um ouvido menos familiarizado com ela será tentado a dizer é que é estranha.
            Tal estranheza nasce do cruzamento de muitas músicas, como consequência da visão particular de cada um dos seus três principais elementos. Steven Brown, teclista e saxofonista, contribui com a conceptualização, o lado erudito, a parcela mais jazzística do som Tuxedomoon. Blaine L. Reininger, violinista, cria a ponte entre a canção pop, o minimalismo e as influências clássicas. Peter Principle é o excêntrico das sonoridades obscuras e irracionais. Tudo isto mais valsas, tangos, música de feira, eletrónica industrial ou ambiental e, sim, parcelas de folclore planetário, de música árabe, oriental ou sul-americana. Também houve quem os apelidasse de “banda americana mais europeizada”, o que faz sentido atendendo a que o grupo estabeleceu a sua sede em Roterdão, na Holanda e que, em termos musicais, seja percetível uma peculiar nostalgia da “belle époque” e, no novo álbum, uma componente poliglota, com canções cantadas em francês e italiano. Espantoso é que os Tuxedomoon consigam resistir à força centrífuga e manter uma unidade de estilo que permanece inquebrantável.
            Os Tuxedomoon começaram por gravar no cerne da própria estranheza, editando o seu álbum de estreia, “Half-Mute” (1980), na editora Ralph, a mesma dos reis do bizarro, The Residents. Um aglomerado de ruído, improvisação “free”, canção informal e eletrónica de cortar à faca. O álbum seguinte, “Desire” (1981), é a sua obra mais conseguida, dança do fim dos tempos num continente sem fronteiras onde a música de fantoches afina pela “avant-garde”. Lançado no mesmo ano, “Divine” acompanhou uma coreografia de Maurice Béjart e, a partir deste álbum, a banda torna-se mais pop, uma pop cubista, bem entendido, em “Holy Wars” (1985), “Ship of Fools” (1986) e “You” (1987), entrecortados pela experiência subterrânea nos domínios do experimentalismo com interferências da Rádio Marrocos, “Suite en Sous-Sol”. O último álbum, antes da extinção, “The Ghost Sonata” (1991), é isso mesmo, fantasmagoria com acentos clássicos. “Cabin in the Sky”, que os Tuxedomoon irão apresentar em Portugal, mantém a elegância e um espírito de aventura inigualáveis. A lua não despiu o fraque.

TUXEDOMOON – Festival Sons em Trânsito
AVEIRO Teatro Aveirense, às 21h30.
Tel. 234400922.
Bilhetes a 25 e 30 euros.

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