CULTURA
DOMINGO, 7 NOV 2004
Banda norte-americana Tuxedomoon dá
concerto de “world rock” no Festival Sons em Trânsito em Aveiro
Mítica banda dos anos 80 ao vivo pela primeira vez em Portugal.
Concerto de hoje apresenta novo álbum “Cabin in the Sky”
E agora perguntam vocês: o que
fazem os Tuxedomoon num festival de “World music”, como o Sons em Trânsito. A
resposta pode ser dada já hoje à noite, na sua primeira apresentação ao vivo em
Portugal, depois da vinda em duo, nos anos 80, de Steven Brown e Blaine L.
Reininger. Já a explicação pressupõe, não só conhecer os Tuxedomoon, como
proceder a um deslocamento, a uma deformação de perspetiva ou a uma ampliação
de pormenor do que se agita no seu interior.
Os
Tuxedomoon foram na década de 80, e voltam a sê-lo neste novo século, no ano da
sua ressurreição, uma banda rock. Quer dizer, é pouco razoável esperar que
alguma vez venham a batucar num djembé ou a soprar numa flauta com o nariz,
como fazem os pigmeus. E, no entanto, o rock desta banda formada em 1977 em São
Francisco, nos EUA, não é um rock como outro qualquer, abarcando toda a espécie
de influências ao ponto de, se quisermos mesmo rotulá-lo, lhe podermos chamar
“World rock”. O novo álbum, editado este ano, “Cabin in the Sky”, recupera em
novos moldes o arsenal de referências e sons exóticos que é possível encontrar
na sua discografia dos “eighties”. Ontem como hoje, a música dos Tuxedomoon
nunca foi simples nem fácil de digerir e o que um ouvido menos familiarizado
com ela será tentado a dizer é que é estranha.
Tal
estranheza nasce do cruzamento de muitas músicas, como consequência da visão
particular de cada um dos seus três principais elementos. Steven Brown,
teclista e saxofonista, contribui com a conceptualização, o lado erudito, a
parcela mais jazzística do som Tuxedomoon. Blaine L. Reininger, violinista,
cria a ponte entre a canção pop, o minimalismo e as influências clássicas.
Peter Principle é o excêntrico das sonoridades obscuras e irracionais. Tudo
isto mais valsas, tangos, música de feira, eletrónica industrial ou ambiental
e, sim, parcelas de folclore planetário, de música árabe, oriental ou
sul-americana. Também houve quem os apelidasse de “banda americana mais
europeizada”, o que faz sentido atendendo a que o grupo estabeleceu a sua sede
em Roterdão, na Holanda e que, em termos musicais, seja percetível uma peculiar
nostalgia da “belle époque” e, no novo álbum, uma componente poliglota, com
canções cantadas em francês e italiano. Espantoso é que os Tuxedomoon consigam
resistir à força centrífuga e manter uma unidade de estilo que permanece
inquebrantável.
Os
Tuxedomoon começaram por gravar no cerne da própria estranheza, editando o seu
álbum de estreia, “Half-Mute” (1980), na editora Ralph, a mesma dos reis do
bizarro, The Residents. Um aglomerado de ruído, improvisação “free”, canção
informal e eletrónica de cortar à faca. O álbum seguinte, “Desire” (1981), é a
sua obra mais conseguida, dança do fim dos tempos num continente sem fronteiras
onde a música de fantoches afina pela “avant-garde”. Lançado no mesmo ano,
“Divine” acompanhou uma coreografia de Maurice Béjart e, a partir deste álbum,
a banda torna-se mais pop, uma pop cubista, bem entendido, em “Holy Wars”
(1985), “Ship of Fools” (1986) e “You” (1987), entrecortados pela experiência subterrânea
nos domínios do experimentalismo com interferências da Rádio Marrocos, “Suite
en Sous-Sol”. O último álbum, antes da extinção, “The Ghost Sonata” (1991), é
isso mesmo, fantasmagoria com acentos clássicos. “Cabin in the Sky”, que os
Tuxedomoon irão apresentar em Portugal, mantém a elegância e um espírito de
aventura inigualáveis. A lua não despiu o fraque.
TUXEDOMOON – Festival Sons em Trânsito
AVEIRO
Teatro Aveirense, às 21h30.
Tel.
234400922.
Bilhetes
a 25 e 30 euros.
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