local SÁBADO, 15 DEZEMBRO 1990
TELEVISÃO
Reininho no recreio
RUI REININHO e os GNR pertencem à casta forjada a
ferro e fogo dos sobreviventes. Sobreviveram à onda normalizadora do primeiro
“boom” do então denominado “rock português”, à recessão que se lhe seguiu,
sobreviveram sobretudo a si próprios, às tentações que o demónio do sucesso
decerto não deixou de lhes segredar aos ouvidos: estagnação de ideias,
acomodação a programas estéticos preguiçosos, elaborados à pressão, para fácil
digestão das massas, segundo a conhecida fórmula do “Reader’s (neste caso “listener”)
Digest”.
Reininho
e companhia sobrevivem graças ao humor subtil e à distanciação. A palavra séria
é dita a brincar, o absurdo veste-se com a casaca da solenidade. Assumem a
contradição, engolida vorazmente pelos vampiros, como se de nova bíblia
pós-moderna se tratasse.
Há
sete meses e picos, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, foi a apoteose do rei
da “kitsch pop” e da decadência elegante. Os GNR, como de costume, confundiram
e encantaram, baralhando as pistas e presenteando uma multidão delirante com os
seus típicos “trompe l’oeil” melódico-gramaticais. “Impressões Digitais”,
“Dafundo”, “Morte ao Sol”, “Hardcore Primeiro Escalão”, “Pós (País) Modernos” e
mais uns tantos trocadilhos conceptuais chegaram para provar que são
diferentes. É possível juntar no mesmo espetáculo a gaita-de-foles dos Sétima
Legião e o Vata do Benfica, sem parecer ridículo? Claro que não. A diferença
está em que os GNR conseguem fazê-lo de forma sublime.
RTP 2, às 23h30
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