QUARTA-FEIRA,
24 OUTUBRO 1990 POP ROCK
LILAC TIME
& Love for all
LP e
CD, Fontana, distri. Polygram
Stephen Duffy afirma ter
composto neste álbum as suas melhores canções. Todos dizem o mesmo quando sai o
disco. Stephen Duffy, um rapaz cheio de virtudes e bons sentimentos, faz da
música missão evangélica. A mensagem não é original e resume-se mais ou menos
no título de uma das canções: “All for Love and Love for all”, ou “all you need
is love”, como cantavam os Beatles há uns anitos, enquanto as bombas iam caindo
e a indústria esfregava as mãos. Mas os Beatles não eram Stephen Duffy e a ele
decerto que todos vão dar ouvidos. Desde a capa às letras e melodias, é tudo
sorrisos e tons de cor-de-rosa, flores, barcos ao luar, uma Nossa Senhora e
muitos coraçõezinhos vermelhuscos. Podia ser pior. Antes isso que as caveiras e
imprecações dos “metálicos”. Michael Weston, Rurik Giri, um tal de Fraser e o
já citado Duffy são uns anjinhos amorosos, muito doces, olhinhos no céu,
pedindo para sermos honestos com Deus e cantando salmos vagamente psicadélicos,
em tintas “sixties” e com o assentimento de Andy Partridge, que lhes produz o
álbum e ainda toca um nico de guitarra. Nota-se: “Fields” e “I Went to the
Dance” são versões “soft” dos XTC. Os Beatles (de McCartney) e os Prefab Sprout
(parece praga) espreitam em temas como “All for Love and Love for all” (com a
harmónica a decalcar uma linha melódica dos “Fabulous Four”) e “The Laundry”.
Noutro tema pendem para o lado dos Simon & Garfunkel e Magna Carta (“And on
we go”). “& Love for all” desliza sem sobressaltos, canção após canção. Não
surpreende, mas também não cansa. É essa a sua maior virtude: conseguir criar
um estado de espírito tranquilo e sonhador, fazer-nos crer que a vida é mesmo
assim: bonita, agradável e luminosa. Suspiro. **
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