POP ROCK QUARTA-FEIRA, 12 DEZEMBRO 1990
CEM
À HORA
The Fall
Beggars Banquet, distri. Anónima
Finalmente! Já não era sem tempo! Um vídeo todo a cores, sem movimentos
em câmara lenta nem multidões em delírio. Com efeitos especiais à antiga, quase
sempre sem qualquer relação com as canções, mas agradáveis de ver. Mais difícil
ainda: sem erotismo (não necessariamente uma virtude) e mesmo, parece
impossível, sem raios de luz azul passando através de persianas ou figuras
animadas desenhadas a lápis de cera.
Estranho: as imagens não distraem da música, antes funcionam como
legendas visuais, construídas a partir de grafismos variados (fundos que são
mapas, cartazes, símbolos cabalísticos, texturas fotográficas), em que a
profusão da cor se alia aos corpos dos músicos (de Mark E. e Brix Smith, sempre
na função de personagens, mascaradas, pintadas, travestidas), para criar uma
sequência non-stop de clips encadeados que correm a cem à hora e explodem com a
mesma energia da músicas e palavras de Mark E. Smith.
Pós-“new wave”, empenhada e militante, a música dos Fall permanece fiel a
uma linha de rock duro, mas elástico, fortemente rítmico, mas atento à sedução
da melodia, sintetizado em canções de duração mínima, como uma granada pronta a
rebentar.
São dez temas (incluindo uma versão de “Victoria”, dos Kinks) que
souberam superar o niilismo sarcástico dos Sex Pistols (num dos temas, a
anarquia é substituída pela “monarchy in the UK”…), acrescentando um toque de
humor à negritude pessimista do “punk” e devolvendo à pop a dignidade que lhe
concede a persecução de um ideal. Segue-se no comboio de cores berrantes até se
chegar ao fim com o pé a bater o ritmo e a sensação reconfortante de que o rock
ainda consegue ser hoje mais do que simples negócio e novo-riquismo.
Os realizadores são Cerith Wyn Evans, Emma Burge, Tim Riley, Schneider
Barnes, Scarlett Davis e Jon Riley. Pelo ecrã passam centrais nucleares em
miniatura, uma mulher vestida de bolinhas até aos cabelos, pentagramas
satanistas, rostos em decomposição por onde se passeiam vermes em busca de
almoço, fantasmas com forma de mulher e abstrações simbólicas, daquelas que os
realizadores gostam imenso de espalhar pelas suas obras, sem qualquer intenção
especial, mas graças às quais se divertem à grande com os significados
profundos que se lhes quer atribuir. No fundo, a mensagem é simples: divertir,
dançar, pensar. Nos dias que correm, já não é nada mau! ***

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