26/07/2008

Harold Budd - She Is A Phantom

Pop Rock

8 de Fevereiro de 1995
álbuns poprock

Fantasmas que falam

HAROLD BUDD
She Is A Phantom
New Albion, import. Ananana

Cabecinhas para trás e vamos a relaxar. Para dar descanso aos neurónios não há melhor do que a música de Harold Budd. O compositor – que começou por ser minimalista, escreveu uma peça com 24 horas de duração para gongo solo, descobriu as potencialidades sónicas de um coro feminino em “topless” e, finalmente, deu o braço a Brian Eno – continua aqui uma das suas paixões de sempre, as palavras. Na peça principal que dá o título ao álbum, composta em 1971, Budd desenvolve um processo de escrita musical em forma de “suite” no qual o ponto de partida são os títulos/frases, descritos por si como “fantasias”, “observações” ou “recordações”: “Emboldened by a fresh view of my visage, I take stock my dreams perish” ou “She’s by the window”. You can see her face faintly through the encrustated crystal”… Um acto de “descoberta literária” empreendido em conjunto com o grupo electro-acústico Zeitgeist (vibrafone, marimbas, percussões várias, piano, sintetizador e sopros de madeira). O início, “Breathless, she left her shoe by my favorite bourdelle, I”, dá uma pista falsa, numa caminhada circular e apressada “a la” Philip Glass (piada ao autor de “Einstein on the Beach”?...), que se repete em “Breathless… II”. Adiante, o percurso é o mesmo de sempre – e sempre diferente – por um jardim oculto muito próximo do céu. Um passeio pelos meandros do silêncio. As flutuações do piano ou do vibrafone são flores delicadas. Cheiram a perfume de anjos. Só é pena que, de vez em quando, Budd quebre o encantamento, quando declama textos que transformam a alucinação em redundância. Mas é por pouco tempo. Um resmungo, e reentramos no sonho. Ela (a música?) é um fantasma. Sonho ou sono, permanecemos no domínio da realidade literária. O tema final, “In Delius’ slepp”, de 1974, não tem, segundo Budd, nenhuma relação com o compositor Frederik Delius (1862-1934), autor, também ele, do “tone poem” “Over the hills and far away”), embora “conjure” as mesmas “imagens de um panteísmo inglês” que eram o seu timbre. A parte inicial de um piano inspira-se num solo de celeste de Sun Ra, mas o lirismo continua a ser a palavra de ordem. Harold Budd, impressionista. Um dos seus projectos futuros é a criação de uma peça intitulada “1000 chords”, para “cores sónicas flutuando livremente”. Como Steve Roach ou Robert Rich, outros dois compositores californianos, expoentes da escola electrónica americana, Harold Budd cresceu na contemplação das paisagens desérticas do Mojave. A sua música reproduz a eterna mutação das dunas e a vibração do ar quente do deserto. As palavras são castelos de areia desfeitos pelo vento. (8)

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