24/04/2018

Os melhores 240 de sempre!



Fernando Magalhães
15.06.2002 040451

Uma boa hora para se falar do Mike Oldfield! :D

O "Tubular Bells" é um bom disco mas também um bocado sobrevalorizado, acabando por sofrer um pouco da mesma síndrome de sobre-exposição do "Dark Side of the Moon". Aquela longa sequência da apresentação dos instrumentos já não se consegue ouvir... No entanto, o álbum está recheado de bons momentos, embora soe aqui e ali demasiado artificial, notando-se as "costuras" de estúdio.

Dito isto, prefiro os álbuns seguintes: "Hergest Ridge", "Ommadawn" (com o Paddy Moloney, dos Chieftains) e o duplo, minimalista e misterioso "Incantantions" (com Pierre Moerlen, dos Gong, excelente no vibrafone, e a voz de Maddy Prior, dos Steeleye Span).

Já nos anos 90, Oldfield regressaria surpreendentemente à boa forma, com "Amarok", álbum mais eletrónico que os anteriores.

FM

Mais dúvidas sobre os Anos 80: como se não fossem já suficientes... (Familycat)



Fernando Magalhães
17.06.2002 020216

Em relação aos CURVED AIR, penso que irás render-te ao "Phantasmagoria". Um álbum mágico, ainda que a letra de "Not quite the same" seja passível de interessar ao Alvarez... :D

Já agora, não resisto a recomendar-te a audição de "Begin", dos THE MILLENIUM (1968). É uma obra-prima ao nível do "Sgt. Peppers" e do "Pet Sounds":

O CURT BOETTCHER (falecido em 1987) era um iluminado, da estirpe de Brian Wilson. O álbum foi o primeiro de sempre a utilizar um gravador de 16 pistas (ou melhor, dois gravadores de 8 pistas juntos...) e foi o mais caro de sempre na altura, ultrapassando mesmo o "Sgt. Peppers".

O aproveitamento do estúdio é espantoso e as canções fazem jus ao uso intensivo e imaginativo da tecnologia.

Mas, repito, o CURT BOETTCHER era um louco iluminado. As letras do disco inspiraram-se numa espécie de livro de profecias e ele próprio se convenceu de que era o Messias, encarregado de salvar o mundo com a sua música. Considerava mesmo os THE MILLENIUM, além de um grupo pop, um culto religioso!!!!

Completamente ignorado na altura, "Begin" tornou-se ao longo das décadas seguintes numa espécie de lenda do Psicadelismo, na sua versão ao mesmo tempo mais mística, pop e experimental.

FM

Folk



Bruno B.
10.06.2002 030357

Quero os 10 melhores álbuns de folk de todos os tempos : )

Fernando Magalhães
10.06.2002 060604

Só 10?... :D

Bem,vou tentar. Só folk europeia, atenção!:

FAIRPORT CONENTION: Liege & Lief

HEDNINGARNA: Kaksi!

MALICORNE: Almanach

SHIRLEY & DOLLY COLLINS: Anthems in Eden

THE CHIEFTAINS: The Chieftains 5

MILLADOIRO: A Galicia de Maeloc

PERLINPINPIN FOLC: Ténarèze

PLANXTY: Cold Blow and the Rainy Night

THE BOTHY BAND: Old Hag you Have Killed Me

LA CIAPA RUSA: Ten da Chent l'Archet che la Sunada lé Longa

DERVISH: At the End of the Day

STEELEYE SPAN: Below the Salt

SEAN KEANE, MATT MOLLOY, LIAM O'FLYNN: The Fire Aflame

MARTA SEBESTYÉN & MUZSIKAS: Muzsikas

SKOLVAN: Kerzh Ba'n' Dans

MÉLUSINE: La Treizième Heure

MARTIN CARTHY: Right of Passage

SAVINA YANNATOU: Primavera en Salonico

JUNE TABOR: Ashes and Diamonds

DE DANANN: De Danann

DOLORES KEANE & JOHN FAULKNER: Broken Hearted I'ii Wander

LE BOURDON: Le Galant Noyé

MONT-JÕIA: Cant e Musica de Provenca

São 23...

Todos 10/10

FM

Terry Riley na Gulbenkian



Fernando Magalhães
29.05.2002 150302

Fui ontem, para o concerto de piano solo, compostos por peças escritas pelo próprio. Não assisti ao concerto em duo da véspera, inserido num contexto diferente.

Terry Riley é um dos papas do minimalismo. Certo. Mas...

1) Houve momentos do concerto confrangedores (sobretudo na 1ª parte), perto da new age mais obsoleta. Ou quando cantou (!), muito perto da desafinação, uma canção pop eivada de misticismo e de lugares-comuns...

2) Em termos técnicos, TR é um pianista apenas sofrível, o que até nem será muito relevante, embora a sua mão esquerda desenrole com notável segurança os típicos ciclos de notas que fizeram a sua imagem de marca. A direita, enfim...notas falhadas, quebras rítmicas fora do programa...

3) TR é o anti-académico por excelência e o "amador" no sentido mais nobre do termo, de alguém que ama verdadeiramente aquilo que faz. Notou-se isso. Estava na Gulbenkian como se estivesse a tocar num clube para um círculo de amigos.

4) Mas...há sempre um mas... a certa altura (último tema da 1ª parte toda a segunda), a música levantou voo. TR voltou a cantar (segundo as técnicas tradicionais indianas conotadas como o "raga") e era esse canto que "puxava" a inspiração. Como na música indiana, há um momento (ideal e procurado) em que já não é o músico que toca a música mas a música que toca o música.

5) Nessa altura aconteceu o "clic". A maior utilização dos pedias tornou a música mais espacial. A mão direita como que se tornou mais leve, bailando verdadeiramente sobre o teclado. Música plena de dádiva e ternura, música que aquece a alma.

6) Em termos formais, TR improvisou sobre os temas. Na 1ª parte raramente ultrapassando os clichés da música minimal repetitiva, que alternou com passagens românticas a la Wim Mertens/Michael Nyman de "O Piano"/Richard Clayderman e instantes mais jazzísticos, quando não de inspiração no teatro da Broadway. Também "caiu" frequentemente no ragtime (um dos temas, assumidamente neste andamento, foi dedicado ao seu professor de piano, músico de ragtime).

7) Na segunda parte, porém, a música como que se libertou de todos os espartilhos e TR soou como uma espécie de Keith Jarrett espiritualista, fazendo a música passar da simplicidade mais desarmante para construções mais complexas.

Foi, em suma, um concerto desequilibrado. Houve alturas em que me senti verdadeiramente desiludido (mesmo irritado!) mas finalmente acabei rendido a uma espécie de magia benigna que se desprende da música, da atitude e da figura de Terry Riley.

FM

Hard-rock um género negligenciado (brotherjames)



Fernando Magalhães
29.05.2002 150320

Os HAWKWIND não eram uma banda de hardrock mas de "space rock". Os MOTORHEAD, formados por Lemmy (ex-Hawkwind), sim.

Já se escreveu várias vezes sobre eles aqui. A Mojo, se não estou em erro, dedicou-lhe recentemente um extenso artigo.

A música dos Hawkwind era uma mistura de trip de ácido estragado com Ficção-Científica e "Space fantasy". Longos temas de rock cósmico, furioso e psicótico, em alternância com baladas não menos maradas. Ring modulators, synths ora planantes ora maquinais + o sax vandergraffiano de Nik Turner.

Passaram pelos Hawkwind músicos notáveis, como Eddie Jobson (depois nos Roxy Music, Frank Zappa, etc), Tim Blake (mago dos sintetizadores dos Gong) e Ginger Baker (baterista dos Cream e, mais tarde, jazzman de nomeada...)

Álbuns clássicos: "Hawkwind" - trip de mescalina. A ouvir com cuidado.

"X In Search of Space" . o álbum clássico para viajar até às estrelas...

"Hall of the Mountain Grill" - próximo do hard rock, sim...com muita eletrónica e riffs um pouco infantis mas poderosos.

"Warrior on the Edge of Time" - o álbum conceptual, mais trabalhado, progressivo e complexo da banda, cheio de eletrónica, mellotrons e imaginário "sci-fi".

"Levitation" (já dos anos 80), com G. Baker e Tim Blake - é o álbum mais eletrónico da banda.

Também se recomendam os 2 álbuns a solo de um dos elementos ligados ao grupo, ROBERT CALVERT, com a participação num deles, de BRIAN ENO.

A história é mais extensa (bastante mais...) mas escasseia-me o tempo...

Quanto aos PINK FAIRIES eram sobretudo uma banda de "pub rock". Hard, sem dúvida...

Mas as bandas clássicas de hard rock dos anos 70 são: LED ZEPPELIN, URIAH HEEP, DEEP PURPLE, TEN YEARS AFTER.

Há uma obra-prima do hard-rock progressivo/psicadélico que recomendo vivamente, uma das peças-chaves dos anos 70, um álbum por muitos considerado mítico: "It'll all Work out in Boomland" dos T.2 (1970).

riffs de guitarra espantosos + mellotron + canções de LSD + pormenores canterburyanos a la Soft Machine + energia avassaladora.

Outro álbum de hardrock recomendável, de uma banda desconhecida, é "Clear Blue Sky", do grupo com o mesmo nome.

Mas há muitas mais bandas importantes, tanto inglesas como americanas. Queres lista? :D

FM

Chuck E. Weiss melhor que Tom Waits?



Fernando Magalhães
28.05.2002 160403

...Não sei, até porque ainda não ouvi nem o "Blood Money" nem o "Alice".
O que sei é que o novo álbum do senhor Chuck E. Weiss (amigo de Waits de longa data) , "Old Souls & Wolf Tickets" (ed. Rykodisc/Slow River) é espantoso.

O disco tem aquela qualidade rara de mostrar à evidência ter sido feito por alguém que anda há muitos anos nisto, tem um gozo imenso no que faz e mergulha a sua música nas raízes mais genuínas. Neste caso a soul music, o rhythm 'n blues, o blues mais sanguíneo e o vaudeville, a par de canções excêntricas, algumas de sabor tribal.
Enfim, uma área em tudo semelhante á de Tom Waits, com a diferença de que neste disco tudo sai de forma natural, fluida e, ao mesmo tempo, poderosa.
Imagine-se o calor de um "Mardi Gras" no Louisiana, uma sessão de R & B (o som, os solos de órgão Hammond são um prazer por si só, neste disco) tirada do filme "The Blues Brothers", valsas de cabaré, interlúdios amorosos de alguém mentalmente desequilibrado mas, ao mesmo tempo, senhor de uma alegria imensa.

É um daqueles discos que considero...exaltantes...que dão vontade de abrir a janela e pôr a aparelhagem a tocar no máximo.

FM

PS-Toda a gente devia ler, do princípio ao fim, o artigo de 8 páginas sobre os VAN DER GRAAF GENERATOR, na MOJO de Maio.
Há quem compare o Peter Hammill, em importância, a Frank Zappa e a...Picasso (!!). E que é um dos maiores génios/músicos/poetas da música deste século.

Deviam ler.
:o

Excecionais discos prog por aí à venda em saldos...



Fernando Magalhães
14.05.2002 180641

Muita atenção aos CDs de Progressivo/Krautrock/experimental que vão aparecendo na Neon Records (ou loja do Chico Punk, no C.C. Portugália).

Andam por lá neste momento discos que recomendo vivamente, tais como:

5 UU's: Bel Marduk & Tiamat/Elements - Os dois primeiros álbuns reunidos num CD desta banda contemporânea herdeira da pop vanguardista dos Gentle Giant.

DEDALUS: Dedalus - banda italiana dos anos 70. Disco inteiramente instrumental de um jazz cerebral que evoca, de forma ainda mais experimental, a música dos Soft Machine dos álbuns "Fourth" e "5".

FAIRFIELD PARLOUR: From Home to Home - Um clássico dos anos 70 na vertente psicadelismo soft com tonalidades folk. Imaginem um cruzamento dos Beatles com Syd Barrett e os Incredible String Band...

Mais THE RED KRAYOLA, SNAKEFINGER (o guitarrista e ex-colaborador dos Residents - já morreu - em dois álbuns num CD, em versão digipak de luxo), RESIDENTS ("The Third Reich 'n' Roll"), MYTHOS ("Mythos" - krautrock)...

FM

dubturn
14.05.2002 190710

Fernando,

Conheci recentemente os Red Krayola (através do tema 'Hurricane Fighter Plane')... fiquei cheio de vontade de conhecer mais.

Dub

Fernando Magalhães
14.05.2002 180641

São uma boa banda.
Começaram por ser no final dos anos 70 uma espécie de "irmão pobre" dos PERE UBU, no álbum "Soldier-talk" (psycho-garage em versão militarista) até se tornarem no que são hoje - dignos representantes do pós-rock, nos recentes "Hazel" e "Fingerpainting", onde figuram alguns dos nomes mais importantes da escola de Chicago (leia-se os papas Jim O'Rourke e John McEntire...).

FM

18/04/2018

White Noise: An Electric Storm




Fernando Magalhães
10.05.2002 170500

WHITE NOISE: An Electric Storm (1969)

Trata-se, nunca é demais repeti-lo, do disco pioneiro (embora absolutamente irrepetível e avesso a recuperações...), mais mórbido, divertido, perturbante e fantasmagórico de toda a pop eletrónica.

O tema "The visitation" é uma coise simultaneamente sublime, sensual e medonha (o fantasma de um namorado acabado de morrer por atropelamento que tenta desesperadamente contactar com a sua apaixonada: sons repetidos de um carro que derrapa, suspiros, gritos, ecos, uma voz do além-túmulo segredando promessas de amor eterno, ela à espera para sempre, tudo isto servido por uma melodia do outro mundo e efeitos eletrónicos de cortar a respiração!).

Há ainda uma "Missa negra no inferno" (orgia de percussões e eletrónica, com a presença do improvisador inglês Paul Lytton), pop eletrónica viciante ("Firebird" - "fly me, fly high...psicadelismo astral, único!), erotismo e orgasmos sintetizados e uma sequência/colagem hilariante ("Here come the fleas").

Quem tem, que se acuse!
:)

FM

Sacana da Meira Asher!



Fernando Magalhães
07.05.2002 150323

Ouvi ontem o "Infantry".
Se já não andava muito bem disposto, fiquei pior.

A sacana da israelita tem o condão de pegar nos temas mais incómodos e deprimentes e atirá-los à nossa cara.

Em "Infantry" o tema é o abuso de menores, nas suas várias vertentes. As letras são, em certos casos, aterradoras (descrições minuciosas de torturas, a morte que aniquila em instantes uma criança que atravessa uma rua num dia de sol e é baleada na cabeça).

Musicalmente, o álbum funciona num registo diferente (como o César já aqui fez notar) de "Spears into Hooks", mas o resultado talvez ainda seja mais perturbador. É eletrónica pegajosa, programações de máquinas com maus instintos e sobre este lancinante mundo sem alma, a voz de Meira a declamar/cuspir/vomitar palavras onde a dor e a crueldade são uma constante.

É um daqueles álbuns que se odeia, porque nos obriga a confrontar com o lado mais negro e miserável da condição humana.

Não lhe atribuo qualquer classificação, por enquanto. Ainda não me consegui distanciar.

Quanto ao novo dos Chicago Underground Duo, está, de facto, na linha do anterior "Synesthesia": Jazz-jazz, jazz digital, vibrafones ambientais, interlúdios eletrónicos, solos de R. mazurek na "cornet" (cujo som é um bocado mais irritante que o do trompete...). Bom, por vezes muito bom, sem ser brilhante.

Sobre as japonesas BUFFALO DAUGHTER...bem...aquilo é uma salada que às vezes atrai outras nos deixa sem saber o que pensar. Há um pouco de tudo em "I": Jazz third stream, Anna Homler, Astrud Gilberto, After Dinner, eletrónica a la Laurie Anderson com o toque de elegância japonesa, pop semi-psicadélica...
O todo fez-me lembrar frequentemente os...DONNA REGINA.

FM

Curved Air p-FM (Familycat)



Familycat
30.04.2002 010128

Estes gajos tomavam drogas? [Curved Air]


Fernando Magalhães
30.04.2002 140228

Acho que não.

Mas gravaram três álbuns espantosos (esquece esse "The dancer" que é apena uma faixa engraçada... :) ). A saber: "Air Conditioning" (9/10), "Second Album" (8,5/10) e "Phantasmagoria" (10/10, um dos primeiros discos pop - em 1972 - a utilizar um computador como "instrumento" musical).

"Midnight Wire" ainda apresenta algumas faixas francamente valiosas, mas é notória a falta que faz o teclista Francis Monkman (na foto, o 1º à esquerda), ainda que o violino de Daryl Way (um portento de técnica, na foto o dos cabelos encaracolados) e a voz (se existem vozes eróticas esta é uma delas) de Sonja Kristina compensem essa ausência.

Mas "Phantasmagoria" é a obra-prima dos CURVED AIR (encontra-se em "nice price" na Hippodrome do Saldanha, por ex...ou no "vendedor" :) ).
Pop saída diretamente da "Alice" de Lewis Carroll, com melodias memoráveis e um sentido de experimentação lúdica (pop?) sem paralelo na época (os Stackridge, talvez...mas esses viviam à sombra dos Fab Four...).

"Air Conditioning" é mais enérgico (rock), "Second Album", o típico álbum de transição, alterna canções fabulosas (o single "Back street luv" chegou mesmo ao top...) com um experimentalismo que, embora imaginativo, hesita quanto ao caminho a seguir (o longo tema eletrónico/prog final). Mas um álbum notável, seja como for.

Francis Monkman, após a sua saída, entrou para os MATCHING MOLE, de Robert Wyatt, mas o acidente deste último pôs um fim prematura na banda, cuja nova formação prometia fazer história!

Daryl Way gravou 3 bons álbuns com a sua nova banda, os WOLF, entre constantes entradas e saídas nos Curved Air: "Canis Lupus", "Saturation Point" e "Night Music". Gosto de todos eles, embora sejam um chamado "acquired taste"...

Para terminar e voltando...às drogas, falta falar de Sonja Kristina, que se tornou uma espécie de "acid folk queen" (um pouco à imagem de Gilli Smyth, dos GONG), encetando um projeto/banda próprio, os CLOUD 9 (ou 10,,, não me recordo agora... :) ).

E agora vou almoçar.

FM

Audições (e compras) entusiasmantes



Fernando Magalhães
30.04.2002 140244

Aquisições de ontem.

No jazz:

Entusiasmaram-me: "Pithecantropus Erectus", de CHARLES MINGUS, "Brilliant Corners", de THELONIOUS MONK e "The Ear of the Behearer", de DEWEY REDMAN (fantástico álbum de free jazz sob controle...)

Fiquei igualmente siderado com um disco que andava desesperadamente a tentar ouvir (e que acabei por encomendar na Roma Megastore) há quase 30 (!!!) anos: o 2º álbum do projeto de jazzpop MANFRED MANN CHAPTER THREE ("Volume Two", 1970, ed. original na Vertigo). Espantosa a combinação de ritmos funk, melodias pop e longas dissertações de free jazz (escola inglesa), do tipo "tenho que dar isto a ouvir a alguém, urgentemente".
:)

Ainda, na perspetiva colecionista: "43 Minuten", dos OS MUNDI (Krautrock jazzy, um pouco P. Floydiano também...) e, no jazz, "Goodbye", de MILT JACKSON (1973, ed. CTI, remasterizada)

Vou almoçar

FM

Comelade info request



Fernando Magalhães
29.04.2002 180619

Olá

Acabou de sair um álbum novo do PC, intitulado "Psicòtic Music'Hall". Crítica já na próxima sexta-feira no Y.

Quanto aos melhores álbuns, para mim, o melhor é, infelizmente, um trabalho que até à data ainda não foi reeditado em CD: "Détail Monochrome", um disco experimental anterior à fase dos instrumentos de brinquedo, um pouco na linha dos ZNR de Hector Zazou e Joseph Racaille.

Da fase "típica", digamos assim, recomendaria:

El Primitivismo (88)
33 Bars (90)
Raggazin' the Blues (91)
El Cabaret Galactico (95)

Ainda, menos representativos, mas igualmente bastante bons: "Musiques pour Films, Vol.2" (96) e "ZumZum. Ka" (98, música p/bailado)

FM

Os (meus) melhores 186 álbuns de sempre



Fernando Magalhães
24.04.2002 160400

POP

AMON DÜÜL II - Yeti (1970)
AMON TOBIN - Supermodified (2000)
ANTHONY MOORE - Flying doesn't Help (1979)
ART BEARS - Hopes and Fears (1978)
ART ZOYD - Berlin (1987)
ASHRA - New Age of Earth (1976)
BEACH BOYS (THE) - Pet Sounds (1967)
- Wild Honey (1968)
BEATLES (THE) - Revolver (1966)
- Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967)
- The Beatles (1968)
BRIAN ENO - Another Green World (1975)
- Before and After Science (1977)
BYRDS (THE) - Younger than Yesterday (1967)
- The Notorious Byrd Brothers (1968)
CAN - Tago Mago (1971)
- Ege Bamyasi (1972)
- Future Days (1973)
CAPTAIN BEEFHEART & HIS MAGIC BAND - Trout Mask Replica (1969)
- Shiny Beast (Bat Chain Puller) (1979)
CARAVAN - If I Could do it all over again, I'd do it all over you (1970)
- In the Land of Grey and Pink (1971)
CLUSTER - Cluster II (1972)
- Zuckerzeit (1974)
CONRAD SCHNITZLER - Rot (1973)
CURVED AIR - Phantasmagoria (1972)
DAVID BOWIE - The Man who Sold the World (1970)
- Diamond Dogs (1975)
- Heroes (1977)
DEVO - Q: Are we not Men? A: We are Devo! (1978)
DOORS (THE) - Strange Days (1967)
EGG - The Polite Force (1970)
FAUST- Faust (1971)
- So Far (1972)
- The Faust Tapes (1973)
FENNESZ - + 47º 56’ 37’’ - 16º 51’ 08’’ (1999)
FRANK ZAPPA - We're only in it for the Money (1967)
- Burnt Weeny Sandwich (1969)
- Hot Rats (1969)
FRED FRITH - Gravity (1980)
- Speechless (1981)
GENESIS - Nursery Cryme (1971)
- The Lamb Lies down on Broadway (1974)
GENTLE GIANT - Acquiring the Taste (1971)
- Three Friends (1972)
GONG - Radio Gnome Invisible, Part 2: Angel's Egg (1973)
- You (1974)
GURU GURU - Känguru (1972)
HARMONIA - Musik von Harmonia (1974)
- DeLuxe (1975)
HAROLD BUDD/BRIAN ENO - Ambient #2 The Plateaux of Mirror (1980)
- The Pearl (1984)
HATFIELD AND THE NORTH - Hatfield and the North (1973)
HELDON - Un Rêve sans Conséquence Spéciale (1976)
HENRY COW - The Henry Cow Leg End (1973)
- In Praise of Learning (1975)
HOLGER CZUKAY- On the Way to the Peak of Normal (1980)
HOLGER HILLER - Ein Bündel Faulnis in der Grube (1984)
- Oben im Eck (1986)
HUGH HOPPER - 1984 (1972)
INCREDIBLE STRING BAND (THE) - 5000 Spirits or the Cayers of the
Onion (1967)
-The Hangman's Beautiful Daughter (1968)
JETHRO TULL - Aqualung (1971)
- A Passion Play (1973)
JIMI HENDRIX - Axis: Bold as Love (1967)
- Electric Ladyland (1969)
JOCELYN ROBERT - Stat-Live-Moniteur (1986)
JOHN & BEVERLEY MARTYN - Stormbringer (1970)
JOHN CALE - Fear (1974)
- Music for a New Society (1982)
JOHN MAYALL- Blues from Laurel Canyon (1968)
JON HASSELL - City: Works of Fiction (1990)
JON HASSELL/BRIAN ENO - Fourth World, Vol. 1 Possible Musics (1980)
JONI MITCHELL - The Hissing of Summer Lawns (1975)
- Mingus (1979)
JULIAN COPE - Interpreter (1996)
KEVIN AYERS - Joy of a Toy (1970)
- Shooting at the Moon (1971)
KING CRIMSON - Lizard (1970)
- Larks' Tongues in Aspic (1973)
KINKS (THE) - Face to Face (1966)
- Something else (1967)
KLAUS SCHULZE - Mirage (1977)
KRAFTWERK - Kraftwerk (1971)
- Ralf & Florian (1973)
- Autobahn (1974)
KREIDLER - Appearance and the Park (1998)
LAURIE ANDERSON - Strange Angels (1989)
LEGENDARY PINK DOTS (THE) - Asylum (1985)
LOU REED - Berlin (1973)
LOVE- Forever Changes (1967)
MAGMA - Magma 2xCD (1970)
- 1001º Centigrades (1971)
- Köhntarkösz (1974)
MAGNA CARTA - Seasons (1970)
MARIANNE FAITHFULL- Strange Weather (1987)
MARY COUGHLAN - Uncertain Pleasures (1990)
MATCHING MOLE - Matching Mole's Little Red Record (1972)
MATILDE SANTING - Water under the Bridge (1985)
MEIRA ASHER - Spears into Hooks (1999)
MONOCHROME SET (THE) - Eligible Bachelors (1982)
MOTOR TOTEMIST GUILD - City of Mirrors (1999)
MOUSE ON MARS - Iaora Tahiti (1995)
MUTANTES - A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970)
NEGATIVLAND - Escape from Noise (1987)
- Free (1993)
NEU! - Neu!’75 (1975)
NICK DRAKE - Five Leaves Left (1970)
- Bryter Layter (1970)
NICK MASON - Nick Mason's Fictitious Sports (1981)
NICO - The Marble Index (1969)
- The End... (1974)
NURSE WITH WOUND-The Sylvie and Babs High-Thigh Companion (1986)
PERE UBU - The Modern Dance (1978)
- Dub Housing (1978)
- The Tenement Year (1988)
PETER HAMMILL - In Camera (1974)
- Over (1977)
- The Future now (1978)
- A Black Box (1980)
PINK FLOYD - The Piper at the Gates of Dawn (1967)
- Ummagumma (1969)
- Atom Heart Mother (1970)
POLLY JEAN HARVEY - Is this Desire? (1998)
POPOL VUH - Affenstunde (1971)
RESIDENTS (THE) - Not Available (1978)
- Mark of the Mole (1981)
RICHARD AND LINDA THOMPSON - I Want to See the Bright Lights
Tonight (1974)
ROBERTO MUSCI & GIOVANNI VENOSTA- Water Messages on Desert
Sand (1987)
- Urban and Tribal Portraits (1988)
ROBERT RICH & BRIAN LUSTMORD - Stalker (1995)
ROBERT WYATT - The End of an Ear (1971)
- Rock Bottom (1974)
- Shleep (1997)
ROLLING STONES (THE) - Between the Buttons (1967)
- Their Satanic Majesties Request (1967)
- Beggar's Banquet (1968)
ROXY MUSIC - Roxy Music (1972)
- For your Pleasure (1973)
- Stranded (1973)
SLAPP HAPPY+HENRY COW - Desperate Straights (1975)
SOFT MACHINE (THE) - Volume Two (1969)
- Third (1970)
STEVE BERESFORD, DAVID TOOP, JOHN ZORN, TONIE MARSHALL
- Deadly Weapons (1986)
STEVE MOORE - A Quiet Gathering (1989)
SUICIDE - Suicide (1977)
SUZANNE VEGA - Days of Open Hand (1990)
TALKING HEADS - More Songs about Buildings and Food (1978)
- Fear of Music (1979)
TANGERINE DREAM - Phaedra (1974)
- Rubycon (1975)
TELE:FUNKEN - A Collection of Ice-Cream Vans Vol.2 (2000)
THINKING PLAGUE - In this Life (1989)
TIM BUCKLEY - Happy Sad (1969)
- Lorca (1970)
TODD RUNDGREN - A Wizard, a True Star (1973)
TOM WAITS - Small Change (1976)
- Swordfishtrombones (1983)
- Bone Machine (1992)
TONE REC - Pholcus (1998)
TO ROCOCO ROT - Veiculo (1997)
TORTOISE- Millions now Living will never Die (1996)
UNIVERS ZERO - Ceux du Dehors (1980)
5 UU'S - Elements (1988)
- Hunger's Teeth (1994)
VAN DER GRAAF GENERATOR - The Least We Can do is Wave to each
other (1969)
- H to He who am the only one (1970)
- Pawn Hearts (1971)
- Godbluff (1975)
- Still Life (1976)
VAN DYKE PARKS - Song Cycle (1968)
VELVET UNDERGROUND (THE) - The Velvet Underground & Nico (1967)
- The Velvet Underground (1968)
WALTER WEGMÜLLER - Tarot (1973)
WHITE NOISE - An Electric Storm (1969)
WIGWAM - Being (1973)
X T C - Mummer (1983)
- Skylarking (1986)
YELLO - You Gotta Say Yes to another Excess (1983)
YES - The Yes Album (1971)
- Close to the Edge (1972)
- Relayer (1974)
Z N R - Barricade 3 (1977)
ZOMBIES (THE) - Odessey & Oracle (1968)

FM

PS-Esta lista deixa de fora, obviamente, discos de folk, jazz, contemporânea, etc...

Pedro_M
24.04.2002 170502
Incredible String Band! :)

Estranhei o Nick Mason, mas fui ver ao All Music e já percebi. O melhor do Tim Buckley, para mim, é o "Starsailor".

Fernando Magalhães
24.04.2002 180634
"Fictitious Sports" é um colosso de originalidade e humor. A combinação Carla Bley + Robert Wyatt revela-se explosiva e de um surrealismo que, francamente, não encontro em mais nenhum álbum de rock.
O Nick Mason limita-se a produzir e a tocar bateria.

Quanto ao "Starsailor" ser o melhor de T. Buckey, também é a minha opinião, embora apenas tenha ouvido uma cópia pirata do mesmo e apenas uma vez.
A questão está em que, praticamente, como sabes, esse disco desapareceu de circulação. NÃO ME DIGAS QUE O TENS? :O
A lista que apresento inclui apenas discos que fazem parte da minha coleção, daí que...
Também tenho o "Goodbye and Hello", que também é muito bom.

Quanto aos Incredible String Band- sou fanático. É uma das bandas mais estranhas do Psicadelismo (versão folk).
Tudo o que gravaram até "Liquid Acrobat as Regards the Air" é excelente. Já se falou deles por aqui, há tempos...

FM

Fernando Magalhães
26.04.2002 190727

Citando MN:
“Das duas uma: ou as obras primas foram quase todas editadas nessa altura (e tivemos todos um azar dos diabos em ter nascido com 2 décadas de atraso :D) ou já não ouves música com o mesmo entusiasmo de antigamente (oh tempo / vooltaaa pa tráss). “


Olá MN :D

Eu lamento ter que dizer isto, mas é verdade: Tiveste (tiveram) um azar dos diabos. Eu bem vos avisei que nascessem antes, mas não me quiseram dar ouvidos!!!! AGORA NÃO SE LAMENTEM!!!!!!
:D

Num registo sério: Não ouço hoje música com menos entusiasmo do que ouvia em qualquer outra época da minha vida.

Acontece que nos anos 70 (os 60 ouvi-os "a posteriori", fui descobrindo aos poucos, já muito mais tarde) a música que se fazia era, regra geral, ou execrável ou simplesmente fora de série.

havia liberdade para gravar o que quer que fosse, em qualquer registo entre a imbecilidade pura e o sublime.

Além disso, a tecnologia encontrava-se numa fase de desenvolvimento muito especial. Uma melhoria imensa relativamente à década anterior, mas longe dos automatismos que começaram a fazer-se sentir sobretudo a partir dos anos 80.
Era um estímulo para a criatividade do músico em vez de um substituto. Mas tenho pouco tempo agora p/desenvolver este tópico.

Depois, as drogas eram outras, o que era também muito importante. Uma coisa é música induzida (ou sugerida) pelo LSD, outra completamente diferente a resultante da heroína (já bastante disseminada nos 70's, de resto... ex-Velvet Underground) ou de pastilhas estimulantes como a "ecstasy".

Curiosamente também no jazz e na folk, grande parte das obras-primas foram gravadas nos 70s!

Mas vou ter que sair agora. Penso que este tema poder dar uma "polémica" engraçada.

saudações

FM

Supertramp: agora a sério!



nunosjorge
23.04.2002 001244

Fernando Magalhães, agora a sério:

- qual a tua opinião pessoal, há 28 anos (se é que te lembras), sobre o «Crime of the century», dos Supertramp?
- qual a tua opinião atual sobre o mesmo disco?
- como é que traduzirias isso em notas, de 1 a 10?

thanks
__________________
nunosjorge

Fernando Magalhães
23.04.2002 160439
O criminoso volta sempre ao local do crime, não é? :)

Mas vamos lá falar a sério, então.

1 - Nunca gostei dos Supertramp. Não é propriamente não gostar, mais um caso de ser completamente indiferente à sua música.

Em relação ao "Crime of the Century", conheço-o demasiado bem. A minha mulher tem o álbum, uma edição em vinilo que conserva religiosamente.
Acho que não é pop, não é progressivo, e é um bocadinho irritante (a voz, aquela voz...). Todavia, as canções não são más de todo. Mas é difícil falar objetivamente deste disco, da mesma maneira que me é difícil falar objetivamente do "Dark Side of the Moon", dos Pink Floyd. Casos de overdose de audição forçada!
Uma nota? Talvez 5,5/10, com boa vontade, um 6/10.

Dito isto, considero o "Even in the Quietest Moments" um trabalho mais sério e musicalmente mais bem sucedido. Um 6,5, vá lá, 7/10... :)

Agora, nunca ouvi os dois primeiros e parece que mais "progressivos" álbuns do grupo (e andam para aí à venda aos pontapés, em saldo...), "Supertramp" e "Indelibly Stamped". Pode ser que tenha uma surpresa!...

FM

nunosjorge
23.04.2002 160447
obrigado, Master Fernando. Mas já agora, não querendo abusar da tua paciência: essa era a tua opinião quando o disco saiu, há 28 anos? Ou só o descobriste anos depois? (afinal, devias andar no inicio da adolescência, nessa altura, ou não?
__________________
nunosjorge

Fernando Magalhães
23.04.2002 160439
Era já a minha opinião nessa altura.

A verdade é que, sem querer estar a armar ao pingarelho, nunca ouvi nem gostei de música comercial, pelo menos aquela mais óbvia.

As primeiras coisas que me lembro de ouvir e de gostar na rádio eram GEORGIE FAME, OTIS REDDING, THE HERD, LOVE AFFAIR, DOORS (o "Hello, I love you" e o "Light my Fire", através da versão do JOsÈ FELICIANO), etc

Aos 13 anos ouvia sobretudo hard rock (BLACK SABBATH, BLACK WIDOW, TEN YEARS AFTER, FLOCK...) e, logo de seguida, entrei de cabeça no Psicadelismo (os PINK FLOYD de "Ummagumma", o primeiro flash que tive com esta banda) e, sobretudo, no Progressivo (1º álbum comprado: "Lizard", dos King Crimson, isto depois de uma grande desilusão, quando os meus pais me trouxeram de Espanha o 1º dos Led Zeppellin, numa altura em que o hardrock já pouco me dizia...Hoje, a minha opinião sobre este disco mudou muito - para melhor!).

O que significa que quando saiu o "Crime of the Century", em 74, a minha atenção estava voltada para GENTLE GIANT, VAN DER GRAAF GENERATOR, KING CRIMSON, SOFT MACHINE e a cena toda de Canterbury, MAGMA, FAUST, KRAFTWERK e um entusiasmo indescritível pelo krautrock (um pouco como o Julian Cope andaria pela Inglaterra... :) ).

FM

10/04/2018

REQ, GIANT SAND, MARY TIMONY: Ótimos discos



Fernando Magalhães
22.04.2002 140254

Na electrónica, uma surpresa:

REQ: Sketchbook (ed.Warp).
Já tinha ouvido álbuns anteriores desta banda mas este é diferente, um passo numa direção desconhecida que faz o trip-hop e o pós-drum ‘n’ bass encontrar o tribalismo e um lado ritualístico personificado por bandas como os O Yuki Conjugate ou músicos como Don Cherry e Jon Hassell. Sons escuros e baixas frequências alternam com xilofones e mbiras mágicos e um minimalismo obscuro que, surpreendentemente, num dos temas (tema 9) se abre à influência nítida do Terry Riley de „A Rainbow in Curved Air”.

No rock:

GIANT SAND: Cover Magazine
The great underground vaudeville american album. Howe Gelb é o digno sucessor de Neil Young, Tom Waits e Stan Ridgway de uma vez só. E aqui também, um pouco surpreendentemente, de Alan Vega (ou Elvis Presley?), dos Suicide...


No universo indie:

A descoberta absoluta de MARY TIMONY (ex-Helium Icon), em „The Golden Dove”.
Inclassificável e desbravador de caminhos originais para o poprock alternativo. Pontos de memória convergente: Raincoats, Gentle Giant, Young Marble Giants intoxicados em ideias, os Velvet Underground às cambalhotas num caleidoscópio saturado de cores, Stereolab + Roxy Music (na magnífica „Musik and charming melodee”). Mas absolutamente original enquanto entidade que parece deslocada no tempo e no espaço „normais”...
Sentido da melodia pop menos óbvia (embora por vezes toque o falso bubblegum de uns Marine Research...), dissonâncias com o ouvido no pós-rock, sintetizadores analógicos com veneno, pianos elétricos fora de moda mas absolutamente encantatórios, sinos e um violino encharcado em açúcar e ácido. Harmonias vocais irresistíveis. O gosto por recantos e esquinas pouco ou nada frequentados, á medida que o álbum avança e se vai progressivamente afastando da pop e do rock que julgávamos já não ter segredos. Um pormenor de cravo e música barroca e o sorriso de Virginia Astley a espreitar em „Ash and Alice”. Difícil definir esta música onde a canção sem abrigo se cruza com a experimentação lo-fi e o gosto pela aventura.

A „Magnet” chama a MARY TIMONY „Kafka with a touch of Charles Manson”. Não estou bem a ver porquê. Mas vejo em „The Golden Dove” provavelmente a revelação indie do ano

FM

PS-A EMI acabou de editar um coletânea (recebi-a agora mesmo) com os artistas psicadélicos/Progressivos da editora Harvest, na sua época dourada de 1969/1970: Do alinhamento fazem parte: KEVIN AYERS, SYD BARRETT, BARCLAY JAMES HARVEST, EDGAR BROUGHTON BAND, THIRD EAR BAND, DEEP PURPLE, PETE BROWN & PIBLOKTO, THE MOVE, BABE RUTH, BATTERED ORNAMENTS, FOREST, SHIRLEY & DOLLY COLLINS, ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA, SPONTANEOUS COMBUSTION, RON GEESIN & ROGER WATERS e WIZZARD.

MAGMA: A música do poder.



Fernando Magalhães
15.04.2002 170533

"Isto não é ligeiramente nazi? : )" pergunta, e bem, o César, a propósito do fantástico tema/trip "De futura", dos MAGMA.

Os Magma eram um bocadinho nazis, eram!...

O 1º álbum, além da capa (uma garra a esmagar uma cidade e os seus habitantes), inclui uma faixa, absolutamente espantosa ("Stoah") em que o Christian Vander imita um discurso alucinado do Hitler.

Além de fanático dos Van Der Graaf e de John Coltrane, e de ter inventado á sua conta uma língua inteiramente nova (o "kobaiano") Chistian Vander foi um dos bateristas mais espantosos que o rock alguma vez conheceu.
Ficaram célebres concertos dos Magma que duravam oito e nove horas!!!!!

Recentemente, na Wire, saiu uma crítica a um concerto atual do grupo. Apesar de não se comprara com a energia de outrora, o crítico ficou em estado de choque e pôs-se a imaginar como seriam os espetáculos dos anos 70...

A partir de dada altura, prevaleceu sobre a música outro dos interesses de Vander: a magia negra, que o colocou numa posição próxima dos Current 93 e quejandos...

Álbuns fundamentais dos MAGMA:

Magma (duplo) - 10/10
1001º Centigrades - 9,5/10
Mekanik Destruktiw Kommandoh - 8/10
Kohntarkosz - 8,5/10
Udu Wudu - 9/10
Attahk - 8/10

O tema "Ork alarm" também está no "Udu Wudu" não está? É também fantástico, sobretudo o trabalho de baixo de Jannik Top, que foi o único músico dos Magma que aguentou a pedalada do "mestre" sem flipar!...

FM

Roberto Musci & Giovanni Venosta



Fernando Magalhães
10.04.2002 190757

Roberto Musci e Giovanni Venosta são dois músicos italianos que nos anos 80 e 90 gravaram os mais extraordinários álbuns de que há memória, na área da fusão (termo apenas cómodo para definir a síntese sem precedentes desta música sem paralelo) da tecnologia (computadores, samples) com referenciais étnicos, na criação de uma espécie de world music cósmica que arranca do preciso ponto em que ficaram Eno e Byrne, em "My Life in the Bush of Ghosts" e o Jon Hassell, das "músicas do quarto mundo".

Vamos aos álbuns. São todos obras-primas. Em cada uma delas, RM e GV explicam as fontes e processos que utilizaram, samples do estilo "pigmeu da Nova Guiné a lavar os dentes com uma escova elétrica" ou "turista esquimó a esquiar numa pista sintética da Disneylândia" (é o tipo de coisa que estes italianos fazem, mesmo!...), processados através do programa Blábláblá mais um solo de sax barítono jazz e um loop de uma orquestra de gamelão...

Mas o que poderia soar como uma manta de retalhos, não o é, mas sim uma música de extrema organicidade e originalidade em que as surpresas acontecem em cada segundo!

Os dois primeiros, "Water Messages on Desert Sand" e "Urban and Tribal Portraits" estão condensados num único CD com o selo Recommended (estava no "vendedor" mas acho que alguém já levou...Quem, já não me lembro...ele que se acuse
:) ).

Os posteriores "A Noise, a Sound" e "Losing the Orthodox Path" são mais... "eruditos", num estilo de "música contemporânea de um mundo perdido".

Tanto RM como GV têm também álbuns a solo magníficos, como "Olympic Signals" (Venniosta) e "The Loa of Music" (Musci, o vendedor tem...).

Considero os dois primeiros e já citados dois álbuns da dupla, dois clássicos dos anos 80.

FM

Música: Prazer ou vício?



Fernando Magalhães
08.04.2002 150349

Pois...

Ouvir música...CDs aos quilos...

Será um prazer, a exigir tempo para saborear calmamente cada nova aquisição, com audições repetidas?

Ou antes...um vício, uma ânsia de devorar constantemente mais e mais CDs, mais e mais música, descobrir continuamente novos estímulos sonoros? Um prazer imediato a necessitar constantemente de alimento?

Confesso que, muitas vezes, funciono mais no segundo registo. A música, ou melhor, a compra e audição de Cds é, de facto, um vício.

Há alturas em que sinto verdadeiramente a necessidade de comprar, comprar, ter, ter, ouvir, ouvir, sempre mais e mais. Quanto mais música ouço mais tenho vontade de ouvir outras coisas e de descobrir, satisfazer-me com novidades!

Chega a haver alturas em que sinto, como qualquer junkie audiófilo, uma vontade incontrolável de comprar CDs, com o consequente rombo no orçamento. Mas...nada a fazer, o vício é mais forte.

E se não há obras-primas, compra-se o que houver, o que é preciso é comprar, ter, ouvir...

Reconheço: Não é uma virtude, isto, mas uma fraqueza. Até porque, muitas vezes, falta tempo, o tal tempo, para assimilar, interiorizar cada disco.

Por vezes tenho saudades de tempos antigos, em que havia menos dinheiro. Um disco por mês, todo o tempo do mundo para descobrir cada pormenor, para partilhar descobertas, para desfrutar do prazer imenso de ouvir música.

É assim com vocês?

FM

PS-À espera, claro, que a primeira resposta seja um "Sim, e...?"

astronauta spiff
08.04.2002 190711

(…)
Com tanto paleio, a pergunta que fica é... será que precisamos mesmo de tanta música?

Fernando Magalhães
08.04.2002 190734

David Thomas, cantor dos PERE UBU, afirmou há um par de anos que não. Que nos dias de hoje há demasiada música.

Partilho desta opinião.

O aumento de informação/produção disponível não trouxe consigo qualquer acréscimo de qualidade, ao nível da criação global.
Fazer um disco torna-se cada vez menos um ato de amor, de anseio profundo, de vontade de criar, e mais um gesto pavloviano ditado por imperativos tecnológicos ou da Indústria.

Escasseiam os verdadeiros génios ou, no mínimo, os visionários. Tudo, ou quase, se parece com tudo. A música tornou-se um jogo de espelhos.

E as exceções, que felizmente existem, escondem-se em recônditos lugares. É essas que insisto em procurar.

FM

Assunto Coltrane



Fernando Magalhães
05.04.2002 150336

Excelentes as contribuições que acabei de ler a propósito da minha pequena "provocação" sobre Coltrane! :)

Era essa, exatamente, a minha intenção.

Claro que JC é um músico genial, apenas pretendi agitar um pouco as águas porque amiúde se valoriza em certos artistas, precisamente o lado mais "folclórico", determinado tipo de imagens, clichés, etc, tendentes a criar uma consensualidade que tende a deificar (fossilizar) esses mesmos artistas.

Fala-se hoje, se calhar, mais de JC, e ouve-se menos a sua música...

Dito isto, e respondendo a certos comentários particulares:

- Tenho o "Giant Steps", que considero um álbum fabuloso. Já, coisas mais recentes, como o "Interstellar Space" ou "Meditations" me suscitam algumas reservas...
"Sun Ship" é outro dos meus preferidos.
E, já aqui o disse, a versão (pirata???) de um concerto ao vivo de "A Love Supreme", executado na íntegra e em versão "aumentada", digamos assim, em Antibes, no mesmo ano da gravação do álbum de estúdio e com a mesma formação, é qualquer coisa (ao nível da interpretação do saxofonista) de espantoso.

- Nick Drake outra vez...Enfim...Não emiti qualquer opinião valorativa sobre a sua música, citei apenas o tal lado "folclórico" da sua vida. A minha opinião? "Five Leaves left" (9/10), "Bryter Layter" - 9/10, "Pink Moon" (7,5/10).

FM

03/04/2018

Morreu FAD GADGET-FRANK TOVEY!



Fernando Magalhães
04.04.2002 160438

Recebemos agora mesmo a notícia aqui na Redação.

FRANK TOVEY, conhecido no início de carreira por FAD GADGET morreu ontem, em circunstâncias ainda por apurar.

Os quatro primeiros álbuns que gravou são muito bons, sobretudo o 2º, "Incontinent" - experimental, pop, humorístico e algo assustador (inclui uma valsa "industrial" que...).
"Fireside Favourites" (disco de estreia), mais rude e metálico, e os posteriores "Under the Flag" (muito bom, talvez o álbum mais sólido e rock) e "Gag" (com um dos temas dedicados aos Einstuerzende Neubauten) também valem a pena.

FAD GADGET era a versão pop da música industrial dos anos 80, ao lado dos CABARET VOLTAIRE, HUMAN LEAGUE, CLOCK DVA, THE NORMAL, THOMAS LEER, etc
Foi, quanto a mim, a grande influência de Matt Johnson/THE THE. Comparem, se puderem, os discos...

Era, além disso, um showman com características muito especiais. Num dos concertos, apareceu com o corpo coberto de alcatrão e penas (imagem que aparece na capa de "Gag")...

Na fase mais recente (e inferior) da sua carreira, gravou discos em nome de FRANK AND THE WALTERS.

Uma notícia triste.

FM

JOHN COLTRANE



Fernando Magalhães
04.04.2002 150358

Não, não vou falar de sexo nem de Suckies, mas sim do mítico saxofonista de jazz.

É uma opinião, polémica, que irá decerto desencadear reações apaixonadas, mas é a minha opinião. Sobre Coltrane.

Primeiro ponto: JC é um grande músico, ponto final. Mas não é o melhor da história do jazz, longe disso (audições avulsas de muito jazz, nos últimos tempos, confirmam esta opinião...).

Penso que acontece com ele um pouco o mesmo que, no rock, incidiu sobre um artista como Nick Drake, por ex.

A morte, sobretudo quando em condições trágicas - que envolvem droga, uma vida de excessos e um adeus à vida demasiado prematuro - criam o ambiente ideal para a mitificação.

John Coltrane é, para mim, sobretudo um daqueles artistas que se consumiu na sua arte, capaz de arder por completo na música que fazia. Isso está ao alcance de poucos, sem dúvida. mas não significa que esse "incêndio", essa música, sejam melhores que outra, apenas por esse facto.

Abundam exemplos desta situação, na música clássica, por ex....
Mozart e Salieri... Salieri era a personagem torturada, mas Mozart, parece que um imbecil (o filme de Milos Forman dá, pelo menos, essa ideia...) é que era o verdadeiro génio.

E Wagner, e Beethoven...Pessoas vulgares mas infinitamente dotadas como músicos.

Coltrane foi, isso sim, um grande intérprete (de si mesmo) mas não um grande compositor. Um músico obsessivo que abriu portas - sem dúvida, (o free deve-lhe muito).

Mas a sua música esgota-se, quanto a mim, nessa supernova em combustão. Nessa energia que parecia inesgotável (a realidade provou que não era...).

A personalidade de JC é apaixonante. A música foi um reflexo dessa dor imensa.

Mas a dor não é, por si só, garantia de genialidade.

"A Love Supreme" e "The Ascension" são grandes álbuns porque são manifestos de uma entrega total.

A dimensão cósmica de JC - que existe - é, todavia, a do caos. Melhor, é a da loucura, da repetição ad infinitum de um motivo melódico ou harmónico. Coltrane esgotava-as e esgotava-se a si mesmo.

Mas ainda aqui, a visão (e exposição) de um universo pessoal não garantem qualquer tipo de "superioridade".

Retomemos o início do texto: John Coltrane foi um grande músico. Não foi - vá, crucifiquem-me! - um grande compositor.

a conversa, consoante as reações, seguirá dentro de momentos.
:)

FM

Mulholland Drive



Fernando Magalhães
28.03.2002 140225

O filme é de uma lógica terrífica.

Trata-se da mais virulenta e mortífera análise (crítica?) a cinema, e em particular a Hollywood, que alguma vez vi, apenas com paralelo em "Barton Fink", dos irmãos Cohen.

lembrem-se da 1ª e da última imagem: fantasmas. Os anjos de Los Angeles são espectros que a cidade cria e dos quais se alimenta.

O filme, entre outras "histórias", conta a transformação de uma pretendente a estrela de cinema em fantasma.
Chega a Hollywood repleta de sonhos (toda a sequência inicial apresenta a "perfeição" da "middle class" americana muito querida de Lynch.

O cinema devora o espírito, ao transformar a vida em imagem.
O ator é vampirizado pelas suas próprias alucinações. Toda a cena do Club del silêncio" é sintomática... "não existe banda, não existe música. Basta imaginá-los para eles aparecerem. Está tudo GRAVADO NA FITA!"

Toda a primeira parte é uma alucinação da tal loura pretendente a atriz. Há o que ela gostaria que tivesse acontecido, e o que aconteceu "realmente".

Na cena final do jantar. A morena para a loura: É uma atrizeca secundária, DEIXEI-A ENTRAR EM ALGUNS DOS MEUS FILMES!"

Aqui a coisa fia mais fino. Esquizofrenia. Manipulação. Ela, a loura (e nós, pelo cinema...) somos sugados para dentro da alucinação de outrem. Passando a ser personagens do sonho de outrem.

"Mulholland drive" é a estrada (mais o atalho, o "caminho secreto") que leva à loucura.

Cena da câmara com o velho na cadeira de rodas. Cena recorrente no cinema de Lynch.
Trata-se do interior de uma...câmara de filmar. O velho é o prisma, que inverte a luz, da mesma maneira que o cinema inverte a realidade.
Repararam que além do velho estão lá outras duas personagens? Uma delas fala lá para dentro ATRVÉS DE UMA PORTA DE VIDRO - a lente.

O "monstro" é parecido com o cadáver da morena, notaram?

O medo, indutor de todos os pesadelos.

O mais pavoroso de tudo é que, ao invés de "Uma História Simples" (em que há uma lógica linear, de A para B), é que "Mulholland Drive" é um ciclo fechado.

Alguém sonha alguém que irá sonhar o autor do sonho. Pescadinha de rabo na boca. A esquizofrenia é isto. A mente como um quarto fechado, sem portas de saída para o "mundo real".

Há muito mais coisas, mas agora vou ter que almoçar.

Até já e evitem falar de sexo

FM