26/07/2017

Déanta - Ready For The Storm

Pop Rock

23 Novembro 1994

VENCER OS FANTASMAS

DÉANTA
Ready for the Storm (9)
Green Linnet, distri. MC-Mundo da Canção

Na corrida imparável para os lugares da frente na grande maratona da música tradicional da Irlanda, os Déanta aceleraram a fundo. Em competição direta com os Dervish na categoria de “principiantes” (noção algo relativa, tendo em conta a tenra idade com que na ilha se começa a pôr em prática o amor pela música), a primeira etapa foi vencida por estes últimos com “Harmony Hill”, contra a estreia dos Déanta.
“Ready for the Storm” responde à letra e ultrapassa sem apelo nem agravo “Harmony Hill”. Um passo de gigante dado por este grupo de cinco raparigas e um rapaz que alcançaram já a maturidade e um nível médio de execução instrumental que lhes permitirá, a breve prazo, entrar em competição direta (se é que não o fazem já) com as “trutas” da primeira linha (Altan, Skylark, Patrick Street, Open House, La Lugh, De Danann… Quanto aos Chieftains, insistimos em “arrumá-los” num local à parte…).
“Ready for the Storm” não sofre dos tremeliques nervosos que de algum modo tolhiam os movimentos dos músicos no álbum anterior. Melhorou a escrita e a capacidade inventiva dos arranjos, evidente desde logo no tema de abertura, “The mighty clansmen”, de uma riqueza harmónica extraordinária, bem como aquela energia mágica que parece possuir as melhores bandas irlandesas e as faz ultrapassarem-se a si próprias (os Dervish, por exemplo, que o digam, a propósito da sua atuação no último Intercéltico), liberta de forma exemplar no medley “Rocky reels”.
Deirdre Havlin está a tornar-se um caso sério na flauta. Basta escutá-lo no citado tema de abertura ou nos diálogos com o “bodhran” de Clódagh Warnock, em “Hammy Hamilton’s jigs”, e com o violino de Kate O’Brien, em “The Landsdowne lass”. Mary Dillon, por seu lado, perdeu a timidez e projeta com outra convicção e naturalidade a sua voz. Eficaz, no clássico crioulo “The lakes of Pontchartrain”, ágil e profunda como um oceano de emoções, em “Culloden’s harvest” (escrita pelo escocês Alastair McDonald sobre uma antiga canção gaélica do mar), simplesmente emocionante, em “Ready for the Storm”, um “standard” em potência.
Se “Déanta”, sem dúvida um bom álbum, não conseguia manter o mesmo nível elevado do princípio ao fim, sofrendo de uma ocasional “anemia” e de uma excessiva contenção (resultante dos tais receios – infundados – de falhar), em “Ready for the Storm” é difícil detetar pontos a seu desfavor, dada a maneira como o grupo conseguiu, como já dissemos, libertar-se dos fantasmas do passado. Os Déanta estão agora preparados para enfrentar não só qualquer tempestade, como a responsabilidade de receber e transmitir o testemunho musical de uma tradição imorredoira.

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