05/12/2010

Entre Hollywood e o calipso [Van Dyke Parks]

Sons

2 de Abril 1999
REEDIÇÕES

Entre Hollywood e o calipso

Van Dyke Parks
Song Cycle (9)
Discover America (7)
Clang of the Yankee Reaper (5)
Rykodisc, distri. MVM


A sua figura de intelectual seduziu Brian Wilson, que o conheceu em 1965 e o convidou para colaborar consigo na obra-prima, nunca editada, “Smile”. Mas Van Dyke Parks já construíra antes uma reputação, tanto como compositor e arranjador de méritos reconhecidos como por uma excentricidade e megalomania que funcionaram na sua música como uma espada de dois gumes, entre o génio e o “kitsch”. Uma canção sua, “High coin”, foi interpretada por artistas tão díspares como Bobby Vee e os West Coast Experimental Band.
“Song Cycle” constitui o álbum de estreia de Parks, gravado em 1967 logo a seguir ao abortado “Smile”. É, para todos os efeitos, um clássico, repleto de canções pop com arranjos bizarros e colagens de toda a espécie, que inclui versões de temas de Randy Newman (“Vine street”) e Donovan (“Colours”, embora na ficha técnica, apareça mencionado como “Donovan’s colours...). Possuidor de uma visão orquestral com raízes em Gershwin e Cole Porter, a par de um lado hollywoodesco (em particular marcado por “Tin Pan Alley”, um musical dos anos 40), Van Dyke Parks elabora aqui orquestrações de extrema complexidade e requinte que fazem da alucinação psicadélica um sintoma de luxo.
A ausência total de reconhecimento público deste disco provoca uma interrupção na carreira a solo de Parks, que regressa à produção, assinando trabalhos de Ry Cooder, Randy Newman e Arlo Guthrie, além de uma participação como músico de estúdio, em órgão Hammond B-3, em “Fifth Dimension”, dos Byrds. Entre outras colaborações mais ou menos à altura da sua excentricidade, Parks toca com Jack Nitzsche e Judy Collins e faz arranjos para Tim Buckley.
“Discover America” aparece no mercado quatro anos depois de “Song Cycle”, em 1972. As canções continuam a evidenciar uma construção que foge aos lugares-comuns da pop, mas o álbum sofre de excessiva influência da música calipso e das “steel drums” das ilhas de Trindade e Tobago que moldaram para sempre o ouvido e a veia criativa de Van Dyke Parks.
Com “Clang of the Yankee Reaper” a originalidade do compositor já se acomodara a parâmetros e a meios de gravação mais convencionais. A presença dos sintetizadores nivela as canções por baixo, não fazendo esquecer as orquestrações surrealistas e a escolha inusitada de instrumentação acústica que caracteriza os dois primeiros álbuns. Mantêm-se as sonoridades tropicais, mas agora enquadradas numa visão “mainstream” que viria a acentuar-se ao longo de toda a obra posterior do compositor. Hoje, Van Dyke Parks continua a ser um nome respeitado e um orquestrador e arranjador requisitado que tanto é capaz de participar num álbum de Kate Bush, como voltar a colaborar com Brian Wilson (no álbum “Orange Crate Art”), ou ser reconhecido como influência de um mestre do pós-rock como Jim O’Rourke. As presentes reedições são remasterizadas e incluem temas extra.

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