19
de Maio 2000
David Thomas & Foreigners
Bay City (8/10)
Hearpen,
distri. Ananana
O
fantástico tema de abertura de “Bay City”, “Clouds of you”, deve ser ouvido
pelo menos 20 vezes antes de se passar à faixa seguinte. Básico, brutal, claro
como um relâmpago, escuro como um lago de alcatrão, “Clouds of you” ressuscita
o espírito dos Velvet Underground para o ano 2000. E, já agora, também o
espectro antigo dos Faust. Um clássico do “garage psych-rock” de todos os
tempos. Com o tema seguinte, “White room”, instala-se o clima de “filme negro”,
de acordo com a base literária que esteve na origem deste álbum, as novelas do
escritor Raymond Chandler. Um sax nocturno (muito a la Tuxedomoon, grupo cuja
música emerge cada vez mais como influência incontornável para a nova música
americana) chega para a voz de Thomas criar o mistério, afinal um dos
territórios da sua predilecção. “Black coffee dawn” solta de novo fumos
velvetianos, mas agora calçado com as botifarras do “swamp rock”. “Salt” junta
o hospício jazzy de Barry Adamson com a paródia da trupe Frith, French, Kaiser
and Thompson. E Captain Beefheart, claro, a pairar como uma assombração. David
Thomas é seu discípulo, não haja dúvida. “Charlotte” é rapariga para os Pere
Ubu e “Doorbell” toca para nos soletrar uma história dos Residents. Uma “steel
band” drunfada faz-se ouvir em “15 seconds”. O som de uma velha telefonia
sintoniza as palavras de “The radio talks to me”, uma rumba de garagem,
enquanto “Black rain” passaria bem por uma composição de Tom Waits. O calor e a
humidade dos trópicos entram em cena, de novo, no tema final, “Turpentine”,
confundindo-se com o clima das ruas de Nova Iorque, numa novela do escritor.
“Bay City” não resolve, claro, o mistério. Nem mesmo com a ajuda do detective
Philip Marlowe.
Para ouvir, clique: David Thomas and Foreigners - Black Coffee Dawn
Para ouvir, clique: David Thomas and Foreigners - Black Coffee Dawn
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