26
de Maio 2000
POP
ROCK - DISCOS
The For Carnation
The
For Carnation (7/10)
Domino, distri. Ananana
Devagar se vai ao longe,
costuma-se dizer. Muito devagar, no caso dos The For Carnation, parentes dos
Low na arte do arrastamento. “The For Carnation” é um daqueles discos dos quais
se diz que “criam ambiente”, por oposição aos que carregam instantes explosivos
que atingem o auditor como uma martelada na cabeça. Armados de um razoável
equipamento instrumental, os cinco elementos do grupo – Bobb Bruno (guitarras,
teclados, sampler), Steve Goodfriend (bateria), Todd Cook (baixo), Michael
McMahan (guitarras, “space echo”) e Brian McMahan (voz, teclados, guitarras) –
contam ainda com um naipe de convidados que acrescentam ao som do grupo as
percussões, mais teclados e violoncelo. Entre estes convidados está John
McEntire, dos Tortoise, encarregue de colorir a música com os seus
sintetizadores. Os seis temas de “The For Carnation” avançam todos lentamente
como uma maré imparável capaz de fazer naufragar os sentidos. Rock (deixe-se,
por uma vez, de parte o termo pós-rock…) ambiental, construído a partir de
“drones” e fluidos instrumentais vários, tem o apelo das coisas misteriosas,
dos recantos escuros e das emoções difusas. Nota-se em todo o disco o dedo de
John McEntire, decisivo na criação de uma atmosfera ritualística num tema como
“Being held”, através do recurso ao som de sinos, mas também da estrutura geral
da música do grupo, como em “Snoother”, um tema na linha dos Tortoise ou dos
The Sea and the Cake. “Tales (Live from the Crypt)” ressuscita por momentos o
espectro de Nico (na introdução, em dueto com Kevin Ayers, do fabuloso “The
Confession of Dr. Dream”). Na forma como tira partido do poder de sugestão,
insistindo numa aura paisagística, “The For Carnation” devolve ao presente os
dias de escuridão e melancolia que grassavam numa certa música dos anos 80.
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