Y 4|ABRIL|2003
roteiro|discos
SHANTALLA
Seven Evenings, Seven
Mornings
Wild
Boar Music, distri. MC – Mundo da Canção
9|10
A
boa música tradicional irlandesa tem o poder de curar, de colorir os dias e as
noites, de nos aproximar do que imaginamos ser a felicidade. Comecemos então
por dizer que “Seven Evenings, Seven Mornings” nos faz sentir felizes. Logo ao
primeiro tema, “John Riley”, livramo-nos das toxinas. Bastaria a voz (e o vigor
do bodhran) de Helen Flaherty e a corrente de água cristalina a escorrer por um
“moore” das cordas dedilhadas de Gerry Murray, para nos sentirmos mais vivos.
Os arranjos estão próximos dos Planxty, fazendo lembrar a obra-prima deste
grupo, “Cold Play and the Rainy Night”. Mas os Planxty não tinham uma cantora como
Helen Flaherty. Voz-primavera, irlandesa dos sete costados, Helen é a estrela,
o amor, a paixão, o verde, a sombra, a luz e o mistério da Irlanda profunda. Os
Shantalla são ainda um coletivo portentoso de onde sobressaem os fabulosos
desempenhos de Michael Horgan, nas “uillean pipes” (como não nos arrepiarmos ao
escutar um lamento como “Spered hollvedel”?), flauta e “tin whistle”, e Kieran
Fahy, no violino e viola de arco, sem esquecer o suporte estratégico de Joe
Hennon, na guitarra, e o enriquecimento tímbrico adicional de Gerry Murray, no
bouzouki, bandolim e acordeão. “Seven Evenings, Seven Mornings” está ao nível dos
clássicos modernos dos Dervish e dos Altan. É tradição como a sabemos sentir
nos mitos e nos sonhos.
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