18|ABRIL|2003 Y
roteiro|discos
BIZARRA LOCOMOTIVA
Homem Máquina
Metrónomo,
distri. Zona Música
7|10
Já
que anda toda a gente a escarafunchar nos anos 80, porque não deitar o dente à
boa e massacrante música industrial e à “electronic body music” que naquela
década procurou revolucionar as rotações cardíacas e o ritmo das discotecas,
através de agentes como os Front 242, Skinny Puppy, Controlled Bleeding ou
Front Line Assembly? Verdade seja dita que a locomotiva conduzida por Armando
Teixeira nunca circulou longe destes apeadeiros e que “Homem Máquina” não faz
mais do que atualizar uma direção há muito encetada pelo grupo. Sobre temáticas
como a simbiose homem-máquina (divergente do conceito de “man machine” dos
Kraftwerk...), da mitificação demoníaca da heroína ou da relação de poder entre
o escravo e o amo, “Homem Máquina” é pura maquinaria em ação de combate onde as
noções de ludicidade, guerrilha mental e sexo se confundem em batidas do III
Reich. Umas vezes assimilando a vertente “agit pop” dos Mão Morta ou, como, em
“O meu anjo”, a sugerir que tipo de pop faria Abrunhosa se estivesse “agarrado”
ao pó. “Um homem é um homem, uma máquina é uma máquina”, repete Armando Gama,
obsessivamente, nas duas partes de “Homem máquina”. Frase que, repetida de forma
maquinal, afirma exatamente o contrário do que enuncia. Bizarra? Os êmbolos da
locomotiva trituram a carne e a mente na sua travessia pelo túnel.
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