CULTURA
DOMINGO,
18 MAI 2003
Charlie Haden e
Pat Metheny travam diálogo intimista no CCB
“Missouri Sky
Duets” repete amanhã no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz
Charlie
Haden e Pat Metheny começam hoje, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa,
a contar as histórias que fazem parte do seu projeto comum, “Missouri Sky”.
Registado em disco, em 1996, sob o título “Beyond the Missoury Sky (Short Stories)”,
para o selo Verve, deu origem ao espetáculo “Missouri Sky Duets” que hoje sobe
ao palco do CCB e que amanhã repete no Centro de Artes e Espetáculos da
Figueira da Foz.
“Missouri Sky” reúne episódios do
Midwest americano, interpretados de forma intimista e acústica por dois
tecnicistas de grande envergadura, ambos nativos do Missouri: “The precious jewel”,
“He’s gone away”, “The moon is a harsh mistress”... Além de “Beyond the Missouri
Sky”, Haden colabora com o seu contrabaixo em álbuns do guitarrista como “80/81”,
“Rejoicing”, “Song X” e “Secret Story”.
“É simplesmente um dos melhores músicos
de improvisação, e a sua forma de execução no contrabaixo estabeleceu as bases
do que são agora várias gerações de músicos”, diz Pat Metheny sobre Charlie
Haden. E Charlie Haden diz de Pat Metheny: “É um inovador pelo som que transmite,
bem como pelas suas composições e improvisações. A sua música está fora de
qualquer categoria. Ele é do Missouri, tal como eu, o que seguramente tem relação
com isto. A este som denomino-o de americano contemporâneo impressionista.”
Pat Metheny, o guitarrista das camisolas
às risquinhas que já por diversas vezes atuou em Portugal, é imprevisível. O
jazz ambiental que cultivou desde os anos 70 numa série extensa de álbuns gravados
para a ECM, como “Bright Size Life” (1975), “Watercolours” (1977), “Offramp” (1981),
“First Circle” (1984) ou os clássicos “80/81” (1980) e “As Falls Witchita, so Falls
Witchita Falls” (1980), é apenas uma das facetas musicais deste virtuoso que tanto
se mostra capaz de se divertir a tocar jazz de fusão com tonalidades “country” (“American
Garage”, 1979), como de se revelar um intérprete de exceção de Ornette Coleman
(“Song X”, 1985) ou de simplesmente estoirar com as aparelhagens, como no exercício
de puro “noise” que é “Zero Tolerance for Silence” (1993), quando não de se
espreguiçar pelo MOR (“Middle of the Road”) mais xaroposo, em “Still Life
(Talking)” (1987) e “Secret Story” (1992).
O seu mais recente trabalho, na
linha de “New Chautauqua” (1978), tem por título “A Quiet Night” e nele se pode
escutar uma série de exercícios introspetivos executados em guitarra barítono.
Haden é um dos pilares do contrabaixo
moderno. Impulsionador da mítica “big band” Liberation Music Orchestra, com Don
Cherry, Michael Mantler, Roswell Rudd, Gato Barbieri, Dewey Redman, Carla Bley,
Andrew Cyrille e Paul Motian, entre outros, Haden apresenta-se como o apologista
de ideologias de esquerda que os portugueses puderam ouvir tocar a
“Internacional socialista” numa das edições da Festa do Avante!. Gravou com
Ornette Coleman antes de se aventurar, ele próprio, pelas alamedas luxuosas da
editora ECM, em “Magico” (com Jan Garbarek e Egberto Gismonti, 1979), “Folk
Songs” (1979) e o clássico “The Ballad of the Fallen” (1982), onde recupera o
formato instrumental da Liberation Music Orchestra. Os quatro volumes de “The
Montreal Tapes”, gravados para a Verve em 1989, mostram o contrabaixista na sua
melhor forma, fazendo esquecer que se trata do mesmo músico que, recentemente, gravou
o delicodoce
“American Dream”. “Missoury Sky
Duets” são para se ouvir em silêncio, imaginando as vastas paisagens do
Missouri.
Charlie Haden
& Pat Metheny – Missoury Sky Duets
LISBOA
Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Hoje, às 21h. Tel.213612444.
Bilhetes
entre 15 e 40 euros
FIGUEIRA
DA FOZ. Centro de Artes e Espetáculos. Amanhã, às 22h. Tel. 233407200.
Bilhetes
a 37,50 euros.
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