CULTURA
SEXTA-FEIRA, 30 JUL 2004
Suecos Hedningarna revolucionam festival
Intercéltico de Sendim
Esta é a melhor programação de sempre de um festival que vai já na
quinta edição
É a melhor programação de sempre
do festival Intercéltico de Sendim, evento que, ano após ano, tem vindo a
crescer fruto do cuidado posto nas programações e do excelente ambiente que se
vive durante um fim-de-semana. Este ano passarão pelo palco, nos dias 30 e 31
deste mês, os Hedningarna, Milladoiro, La Musgaña, Llangres, Fred Morrison
& Jamie McMenemy e Marenostrum.
Com
os Hedningarna é o tudo ou nada do confronto total. Para estes suecos que irão
fechar o festival, o “apocalypse” é a palavra de ordem. Só não é o fim da folk
porque as raízes tradicionais continuam entrançadas na sua música, mas é folk
em estado de alerta nuclear, feita de um jogo de tensões por vezes quase
brutais, sustentadas, por exemplo, pela “drone” de uma sanfona eletrificada que
parece querer explodir a qualquer instante. Instrumentos acústicos e elétricos
combinam-se na música destes iconoclastas de forma inovadora, alargando, e de
que maneira, os limites da música tradicional. Numa palavra, os Hedningarna
simbolizam a revolução. Álbuns como “Kaksi” e “Tra” estabelecem a fronteira
entre um “antes” e um “depois” para a folk europeia.
No
lado oposto, do classicismo, estão os galegos Milladoiro, verdadeira
instituição do seu país e uma das mais representativas da música de raiz
céltica da Europa. Se os Hedningarna são corte e irrupção, os Milladoiro, que
fecham o primeiro dia do festival, são um bosque verde povoado por criaturas
mágicas. Das raízes dos primeiros e seminais álbuns “O Berro Seco” e “Galicia
de Maeloc” até aos mais recentes “As Fadas de Estraño Nome”, “Aires da Terra”,
“Auga de Maio” e “Niño do Sol”, é todo um percurso de depuração e
aprofundamento do folclore galego que os Milladoiro abordam de uma perspetiva
por vezes quase sinfónica, na forma como arranjam a harpa céltica, as gaitas e
demais instrumentos da tradição.
De
Espanha chegam outras duas formações que irão dar que falar. Os La Musgaña, de
Castela, e os Llangres, das Astúrias. Dos La Musgaña espera-se o mesmo rigor e
alguma excentricidade, tal qual estão patentes em álbuns como “Lubican” e “Las
Seis Tentaciónes”. Os LLangres representam a nova tradição asturiana, ora
efusivos nas gaitas, ora introspetivos na harpa céltica. Mais gaita-de-foles,
mas desta feita a escocesa, far-se-á ouvir através do extraordinário executante
que é Fred Morrison, a provar que as “Highland pipes” podem ser algo mais que
lamentos ou aterradores gritos guerreiros. Fred Morrison, autor de álbuns como
“Broken Chanter” e “The Sound of the Sun, será acompanhado por Jamie McMenemy,
no bouzouki, com quem já gravou “Up South”. Os portugueses estão representados pelos
Maré Nostrum, vencedores do I Arribas Folk, Concurso Nacional de Música Folk.
Depois
dos concertos haverá um festival paralelo, imprevisível mas necessariamente
acompanhado por libações mais ou menos célticas. Na Taberna dos Celtas a música
nasce espontânea, com gaiteiros a criarem o pandemónio, sejam eles anónimos ou
os Los Yerbatos, das Astúrias, convidados pela organização especialmente para o
efeito. Também os Pauliteiros de Valcerto, do Mogadouro, garantirão a animação
do recinto, depois de terem atuado na rua de tarde do dia 31. Nas ruas de
Sendim atuam ainda, no mesmo dia, atores do grupo Teatro Peripécia.
Consumados
os dois dias de concertos, o dia seguinte, 1 de Agosto, permitirá ainda
assistir, na Igreja Paroquial de Sendim, a uma Missa Castelhana, a cargo do
grupo Santaren Folk, oriundo de Castela-Leão. No pino do Verão, as Terras de
Miranda serão, pelo quinto ano consecutivo, a capital do mundo céltico.
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