09/04/2009

A Fúria Do Açúcar - Maravilhoso Mundo Do Acrílico

Sons

4 de Julho 1997
PORTUGUESES

A Fúria do Açúcar
Maravilhoso Mundo do Acrílico (6)
Polydor, ed. e distri. Polygram

Sem a ordinarice inteligente dos Ena Pá 2000, a profundidade da sátira dos Despe e Siga e a poesia dos Afonsinhos do Condado, a mensagem da Fúria consegue, à sua maneira, fazer cócegas.
Há temas irresistivelmente dançantes: “Beber, beber, beber...”, um hino à coparia, à Pogues, introduzido pela gaita-de-foles inspirada de Ricardo Dias e com arrotos e vómitos em profusão, “Canção do príncipe encantado”, etnotecno das arábias, e “Masturdança”, do melhor tecno-pimba para consumo das criaturas da noite. Não menos deliciosas são as versões de “Ring my bell”, aqui “Joana bate-me à porta”, e “Short dick man”, reintitulado “Long dick men”, em entoações de operário da construção civil. As letras tendem para o “softcore” inconsequente em “Loja do mestre André” (a criançada vai adorar entoar esta nova versão, com vibradores e “mulheres de encher”, de uma das suas cançonetas favoritas) e “Blues on the road to Porto”, história de putedo com a participação especial de Sting, no papel de chulo. “Arrota palhaço”, em louvor do eterno azarado (“Se os bancos no bar estão ocupados/Vazios só resta um, o meu já tem guardada/a pastilha que vai ficar colada ao meu cu”), é pura poesia existencial. Já em fim de farra, a Fúria toca na amargura, em “A invasão dos vulgarianos”, perturbante metáfora electrovirtual sobre a paranóia urbana. No resto, “Maravilhoso Mundo do Acrílico” consegue ser tonto de uma forma simpática. Afinal, como eles dizem, “Que sentido é que isto faz?/Nascer, cair uma pedra e morrer...”.

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