10/03/2011

Roxy Music [Reedições]

Sons

29 de Outubro 1999

Roxy is the drug

ROXY MUSIC
Roxy Music (10)
For your Pleasure (10)
Stranded (10)
Country Life (8)
Siren (8)
Virgin, distri. EMI-VC


“Is this a recording session or a cocktail party?”. A frase, extraída do texto de apresentação de “Roxy Music” assinado por Simon Puxley, reflecte o espanto e a admiração geral causados pela bomba, lançada em pleno período glam, pelos Roxy Music. Bryan Ferry e Brian Eno, que nessa época disputavam a atenção dos holofotes, Phil Manzanera e Andy Mackay, núcleo principal dos Roxy, estreavam-se com um monumental cocktail de memórias e sons futuristas que misturavam a herança do rock ‘n’ roll com a electrónica e o “crooning” surrealista do seu vocalista, Bryan Ferry. Tudo embalado numa estética glam que os Roxy transformavam num produto definitiva e ironicamente à altura das mentalidades mais “arty”. “Roxy Music” é uma vertigem imparável onde cada som permanece pouco tempo no seu lugar. O sax cabaré-galáctico de Andy Mackay, a guitarra incendiária de Manzanera e a passagem de modelos de electrónica retro de Eno envolviam os requebros vocais de Ferry tanto num vestido de cetim como no cenário mais bizarro de um filme de ficção-científica da série Z. O tema de abertura, “Re-make, re-model” sintetiza a estética do grupo. Uma sucessão de climas contraditórios e, contudo, surpreendentemente coerentes, que parodiava o jazz e usava como refrão uma matrícula de automóvel, “CPL 593 H”. “Ladytron”, “If there is something”, “2 HB” (“to Humphrey Bogart”) e “Chance meeting” são canções que colocavam os Roxy Music no trono da música mais original desta época, ao lado de David Bowie.
“Foy your Pleasure”, de 1973, consegue a proeza de ser ainda melhor que o seu antecessor. Mais cerebral e equilibrado, também mais experimental que “Roxy Music”, dá maior espaço de manobra aos solistas, que aproveitam para criar sequências instrumentais sem paralelo na música popular. Houve quem chamasse a este disco a obra psicadélica dos Roxy Music, o último com Brian Eno que, no álbum seguinte, seria substituído por Eddie Jobson, multinstrumentista oriundo dos Curved Air. O álbum inclui uma das mais arrasadoras canções pop de sempre, “In every dream home a heartache”, história de amor e de vazio com uma boneca insuflável, num crescendo de tensão que, finalmente, explode num solo arrasador de guitarra (a memorável versão alongada desta tema incluída no álbum ao vivo do grupo, “Viva!”, prolonga esta dialéctica até ao intolerável).
“Stranded”, também, de 1973, acentua o “crooning” genial de Bryan Ferry, um jogador nato, no qual se torna, por vezes, distinguir a realidade e a ficção. Quando Ferry entorna a voz pelos acordes ultra-românticos de um tema para a Eurovisão, “A song for Europe”, não sabemos até que ponto o homem se confunde com a personagem. “Street life”, “Amazona” e “Mother of pearl” (com um viciante refrão, numa das canções mais belas e sensuais da discografia dos Roxy) são clássicos instantâneos.
Com “Street Life”, de 1974, os Roxy baixam pela primeira vez a fasquia. Se o desempenho vocal de Ferry continua ao seu melhor nível, as canções acusam porém um certo cansaço, como se a banda tivesse interiorizado a temática de uma das canções deste álbum definitivamente para ouvir na companhia de uma garrafa de champagne: “Casanova”, história de ressaca, o fim da festa no limiar da decadência. “Siren” é, sobretudo, um grande disco de rock com um punhado de boas canções, como “Love is the drug” e o altamente inflamável “Both ends burning”. Embalados a primor nos perversos retratos femininos das capas originais, os cinco discos foram remasterizados e os livretes incluem a totalidade das letras. Indispensáveis.

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