23/02/2015

Fairport Convention casa cheia



Y 26|OUTUBRO|2001
escolhas|discos

FAIRPORT CONVENTION
Full House
9|10

House Full
Island, distri. Universal
7|10

fairport convention casa cheia

“Full House” e “House Full” são imagens espelhadas de uma mesma realidade, apesar da disparidade das datas originais das respetivas edições. “Full House”, um dos álbuns clássicos dos Fairport Convention, foi editado em 1970, enquanto “House Full”, gravado ao vivo no mesmo ano, no Troubadour, em Los Angeles, e com a participação dos mesmos músicos, teve que esperar até 1986 para ver a luz do dia. Coube a ambos a honra de serem os primeiros a ser objeto de remasterização, esperando-se que o mesmo aconteça com a extensíssima discografia desta banda emblemática do folk rock britânico dos anos 60 e 70 e que ainda hoje se mantém em atividade.
            “Full House” é o 5º álbum dos Fairport, o primeiro depois da saída da cantora Sandy Denny, que haveria de regressar esporadicamente anos mais tarde para participar em “Rising for the Moon”. Mas o que poderia constituir um grave “handicap”, até pelo sucesso artístico alcançado pelo disco anterior, “Liege and Lief”, considerado um marco, acabou por resultar numa reorientação bem sucedida da filosofia musical do grupo. Se “Liege and Lief” dependia da fantástica voz e da presença carismática da malograda Sandy Denny, é “Full House” que assume uma vocação rítmica e uma liberdade de ação no domínio dos arranjos e da execução instrumental que serviram de modelo à geração seguinte do folk rock, dos Horslips aos Woods Band.
            O espaço deixado vago por Denny foi preenchido pelo protagonismo de dois instrumentistas fabulosos, o guitarrista Richard Thompson, hoje um singer-songwriter clássico, e o violinista Dave Swarbrick, este dando desde sempre provas de fidelidade à folk. “Dirty linen” e “Flatback caper” são dois medleys alucinantes em que Swarbrick e Thompson rivalizam no balanço e no virtuosismo. “Walk awhile”, um dos temas emblemáticos do folkrock contrasta com “Sir Patrick Spens”, onde é posto em relevo o registo folky de Swarbirck, que colmatou de forma mais do que adequada a ausência da diva, enquanto “Sloth” é uma longa balada que Richard Thompson preenche com uma lenta dissertação na guitarra.
            Ponto fraco deste reedição é a alteração do alinhamento original, que já pecava pelo tema final, adaptação preguiçosa do “standard” “Flowers of the forest”, o que é compensado com a inclusão dos extras “Now be thankful” (em versões mono e stereo), “Bonny Bunch of roses” (mais tarde aproveitado para título de um álbum posterior dos Fairport) e “Sir B. Mckenzie’s daughter lamente for the 77th mounted lancers retreta from the straits of Loch Knombe, in the year of our Lord 1727, on the occasion of the announcement of her marriage to the laird of Kinleakie”, candidato ao Guiness como maior título de sempre para uma canção.
            “House Full” pode ser encarado como complemento ao vivo de “Full House”. Além da prova dos nove no que concerne ao virtuosismo de Swarbirck e Thompson, e da comparação que permite fazer entre os temas comuns aos dois discos, destacam-se em “House Full” o “medley” “The lark in the morning”, retirado de “Liege and Lief”, e a incursão na música “morris” medieval de “Staines morris”, território que viria a ser explorado de forma exaustiva pelo ex-Fairport Ashley Hutchings com os Albion (Country) Band.


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