03/04/2017

Leão pop [Festival Outono em Lisboa]

cultura QUINTA-FEIRA, 7 DEZEMBRO 2000

Festival Outono em Lisboa inicia-se hoje no CCB, em Lisboa

Leão pop

Rodrigo Leão, António Chainho e Wim Mertens atuam por esta ordem no festival Outono em Lisboa que durante três dias decorrerá no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Notas melancólicas a anunciar o inverno.

É a quarta edição do festival Outono em Lisboa e em todas elas o programa fez questão de apresentar espetáculos inéditos. Aconteceu assim com a primeira apresentação dos Resistência, com o espetáculo 100 Anos de Fado e com o lançamento a solo de Tim, dos Xutos e Pontapés. Este ano a lista é tripla, com concertos de Rodrigo Leão, António Chainho e Wim Mertens, todos eles transportando um álbum novo debaixo do braço. "Alma Mater", do teclista da Sétima Legião, "Lisboa-Rio", pelo autor de "A Guitarra e Outras Mulheres", e "Der Heisse Brei", do pianista flamengo fundador dos Soft Verdict. Em comum têm a nostalgia.
O festival abre esta noite com Rodrigo Leão que apresentará o seu novo álbum "Alma Mater", incursão por estratos musicais mais ligeiros do que os dos anteriores "Ave Mundi Luminare", "Mysterium" e "Theatrum". Para trás ficaram a música de câmara e o peso de um dramatismo tímbrico que no novo álbum são redimidos pela omnipresença de um piano-nuvem, o calor do tango e as vozes de Lula Pena e Adriana Calcanhoto.
Temas retirados de toda a discografia do músico, com ênfase no novo "Alma Mater", serão apresentados sob uma perspetiva instrumental de acordo com a formação que estará hoje à noite em palco: Luís Sampaio, bateria, Tiago Lopes, baixo, Pedro Oliveira, guitarra, Ângela Silva, voz, Denys Stetsenko, violino, Jano Lisboa, viola, Nelson Ferreira, violoncelo, e Celina da Piedade, acordeão, além, é claro, de Rodrigo Leão, nos teclados. "Será um espetáculo diferente de todos os que fiz até hoje", garante, "pelo facto de haver bateria, guitarra e baixo, o que realça a vertente pop de alguns temas, com arranjos novos para estes instrumentos de 'Ave mundi', "Carpe diem" e 'Mysterium'".
O espetáculo contará com a presença, numa das duas versões a apresentar do tema "A casa", dos convidados Sónia Tavares, voz, e Nuno Gonçalves, eletrónica, ambos dos The Gift. "A casa" é a canção de abertura de "Alma Mater", com vocalização de Adriana Calcanhoto. No Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, será apresentada uma "lounge mix" deste tema na qual Sónia Tavares substitui a voz da cantora brasileira e Nuno Gonçalves, responsável pela remistura, lançará samples vocais. "Tardes de Bolonha" constitui outra das novidades. O tema, composto por Leão para o álbum dos Madredeus, "Existir", será apresentado ao vivo pela primeira vez pelo seu autor e terá uma "vertente popular", com o acordeão de Celina da Piedade a "desempenhar o papel mais importante".
Piano e falsete

Wim Mertens, visitante assíduo do nosso país, fechará no sábado o festival. O compositor prossegue há mais de 20 anos e sem desfalecimentos uma saga sem fim – impenetrável, nalgumas das suas etapas... – na busca da síntese definitiva entre o minimalismo, o piano romântico, o conceptualismo e os alicerces clássicos dos séculos XV e XVI. Longe vão os tempos em que brincava com os circuitos eletrónicos de máquinas de flippers, em "For Amusement only", e alargava o léxico do minimalismo, inventando, a par de Michael Nyman, a contrapartida europeia do movimento, em álbuns como "Vergessen", "Struggle for Pleasure" e "Maximizing the Audience". Hoje, a sua cabeça encarcerou-se no esoterismo de obras com dez horas de duração intituladas "Alle Dinghe" ou "Gave Van Niets", que incluem solos de fagote de meia hora.
Nos intervalos da escrita para fagote Mertens desforra-se, lançando no mercado postais pindéricos de pianadas "new age" autentificados com o selo de garantia de "autor". O novo "Der Heisse Brei" sem ser tão soporífero como alguns dos seus trabalhos neste campo de maior "luminosidade", chamemos-lhe assim, não evita, no entanto, a monotonia de frases melódicas estafadas e um romantismo de pacotilha. Mas continua a ser divertido observar o artista a espremer-se na voz de falsete com que costuma abrilhantar as suas atuações.
Quem está na moda é António Chainho, que será o segundo artista a atuar, - amanhã – no Outono em Lisboa. A seguir ao golpe de mestre "A Guitarra e Outras Mulheres", o guitarrista volta a explorar o filão de ouro da fórmula "guitarra portuguesa mais vozes ilustres" no novo "Lisboa-Rio". Depois de Teresa Salgueiro, Filipa Pais, Marta Dias, Sofia Varela, Elba Ramalho e Nina Miranda, presentes no disco das "outras mulheres", responderam à nova chamada Ney Matogrosso, Paulinho Moska, Virgínia Rodrigues, Celso Fonseca e Jussara Silveira. Em prole da fusão das músicas portuguesa e brasileira.

OUTONO EM LISBOA
LISBOA Grande Auditório do Centro Cultural de Belém
Rodrigo Leão, hoje, António Chainho, 6ª, Wim Mertens, sáb., sempre às 21h30
Bilhetes entre 1500$ e 4500$ para o espetáculo desta noite; entre 2000$ e 5000$, 6ª e sáb.

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