04/03/2019

Tomahawk - Mit Gas


20|JUNHO|2003 Y
discos|roteiro

TOMAHAWK
Mit Gas
Ipecac, distri. Sabotage
8|10

A capa é um delírio de arabescos e dourados à maneira de Rabih Abou-Khalil mas mal se põe a rodela no leitor, sente-se a queimadela. “Mit Gas” é um disco de rock daquele que rola e esmaga e queima. Os Tomahawk são um dos múltiplos projetos de Mike Patton, mas aqui não há nem a raiva cega dos Faith no More nem o humor alucinado dos Mr. Bungle, embora tenha um pouco dos dois. É rock, mesmo, de “caterpillar”, com níveis elevados de inteligência e espírito de risco. Guitarras esparramadas em “wall of sound” de mil e uma gravidades, eletrónica radiofónica, “free noise” e vocalizações que exalam o mau-hálito do inferno convergem num espetáculo de “grand guignol” que ata a fúria do punk à Broadway de espectros de Jim Thirlwell, quando travestido de Scrapping Foetus off the Wheel. Patton, como sempre, está bêbedo de ideias. Canta em espanhol em “Desastre natural”, soletra anedoticamente os Radiohead na entrada de “Capt midnight”, faz de “crooner” (Zappa em “Harelib”, Beefheart em “Aktion 13F14”), sampla os Negativland de “Is there any escape from noise?”, em “Harlem clowns” e em toda a sequência final de “Mit Gas” é uma queda no abismo da incongruência. Espantosa é a forma como os Tomahawk colam os cacos e constroem um painel que reflete a psicose dos dias de hoje. O rock, esse, foi uma vez mais salvo sobre a linha de chegada.

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