29/10/2025

Killing Joke - Extremities, Dirt And Various Repressed Emotions

 PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 23 JANEIRO 1991 >> Pop Rock >> LP’s

 
KILLING JOKE
Extremities, Dirt and Various Repressed Emotions
LP duplo e CD, Noise Just In, distri. Anónima

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Descrição gerada automaticamente

 O título diz tudo – palavras feias a que corresponde um som rude, ácido, violento, psicótico, quase escabroso. Para Jaz Coleman, alma negra da “piada assassina”, trata-se, com este seu último trabalho, de perpetrar um massacre sobre os sentidos, assalto sónico às sensibilidades apaziguadas pelas máximas que asseguram que “o ruído não é música” e “o belo tem de ser agradável”. “Extremities” serve-se do ruído como arma apontada a esses corações delicados. De agradável não tem nada. Cada faixa destila doses concentradas de ódio, transportadas em ogivas Trash, prontas a abater-se sobre o inimigo mais próximo.

Ainda mal refeito de um período negro da sua vida (acabara de passar por uma grave crise, a nível artístico e pessoal, devida a problemas com a editora, aliados ao caos psicológico e físico causados pela ingestão desenfreada de drogas), resolveu que não tinha de ser simpático com o mundo. Não que alguma vez o tenha sido, só que, neste novo atentado, os disparos atingem o alvo. Para agravar ainda mais a situação, resolveu interessar-se pelo ocultismo e por atividades mágicas tão negras como as do satanista Aleister Crowley (o mesmo que Fernando Pessoa conheceu), ente da sua simpatia e que decerto lhe serve de inspiração. “Extremities” é, em suma, uma vingança.

Os temas são geralmente longas invocações da desordem e das forças destrutivas. Sequências de ruído cerrado, que pequenas pontuações “sampladas” mal conseguem romper. Guitarras saturadas e mal oleadas disparam, como metralhadoras descontroladas, sobre ritmos pós-“punk”, criando paisagens desoladas e apocalípticas. Os Killing Joke, um pouco à maneira dos Birthday Party, fazem do rock campo de batalha. Conflito não resolvido, que na agressão procura a saída redentora. Violência, enfim, resolvendo-se a si mesma em busca de um impossível exorcismo.

Chame-se ao disco delírio “hardcore” à beira da desintegração final, rock “industrial” ou pop convulsivo (sim, há aqui canções ou, pelo menos, algo que se lhes assemelha), mas nunca a segurança da rotulação será suficiente para aliviar o incómodo provocado pela sua audição. Editado na altura mais inconveniente, “Extremities, Dirt and Various Repressed Emotions” materializa o mal-estar, os medos e desejos perversos de uma sociedade em desagregação. Mais uma acha lançada na fogueira. Declaração de guerra. Alerta geral. ***

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