PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 23 JANEIRO 1991 >> Pop Rock >> LP’s
Extremities, Dirt and Various Repressed Emotions
LP duplo e CD, Noise Just In, distri. Anónima
Ainda mal refeito de um
período negro da sua vida (acabara de passar por uma grave crise, a nível
artístico e pessoal, devida a problemas com a editora, aliados ao caos
psicológico e físico causados pela ingestão desenfreada de drogas), resolveu
que não tinha de ser simpático com o mundo. Não que alguma vez o tenha sido, só
que, neste novo atentado, os disparos atingem o alvo. Para agravar ainda mais a
situação, resolveu interessar-se pelo ocultismo e por atividades mágicas tão
negras como as do satanista Aleister Crowley (o mesmo que Fernando Pessoa
conheceu), ente da sua simpatia e que decerto lhe serve de inspiração.
“Extremities” é, em suma, uma vingança.
Os temas são geralmente
longas invocações da desordem e das forças destrutivas. Sequências de ruído
cerrado, que pequenas pontuações “sampladas” mal conseguem romper. Guitarras
saturadas e mal oleadas disparam, como metralhadoras descontroladas, sobre ritmos
pós-“punk”, criando paisagens desoladas e apocalípticas. Os Killing Joke, um
pouco à maneira dos Birthday Party, fazem do rock campo de batalha. Conflito
não resolvido, que na agressão procura a saída redentora. Violência, enfim,
resolvendo-se a si mesma em busca de um impossível exorcismo.
Chame-se ao disco delírio “hardcore” à beira da desintegração final, rock “industrial” ou pop convulsivo (sim, há aqui canções ou, pelo menos, algo que se lhes assemelha), mas nunca a segurança da rotulação será suficiente para aliviar o incómodo provocado pela sua audição. Editado na altura mais inconveniente, “Extremities, Dirt and Various Repressed Emotions” materializa o mal-estar, os medos e desejos perversos de uma sociedade em desagregação. Mais uma acha lançada na fogueira. Declaração de guerra. Alerta geral. ***
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