22/01/2009

Flauta de leão [Carlos Bechegas]

POP ROCK

28 Maio 1997

Carlos Bechegas grava na Leo

FLAUTA DE LEÃO

Carlos Bechegas, flautista, compõe e improvisa, na flauta, sobre o que chama “música contemporânea improvisada electro-acústica”, utilizando, para tal, um “sistema interactivo midi de controle em tempo real”, com o qual explora “a articulação da linguagem electrónica (sintetizadores, ‘samplers’, processadores de som, fita magnética) com as diferentes sonoridades e ‘nuances’ tímbricas dos instrumentos acústicos, em composições variavelmente estruturadas com e sem partituras”.
É neste âmbito que, inesperadamente, surge a gravação de um compacto de Carlos Bechegas no selo inglês Leo Records, especializado em “novas músicas”. O disco divide-se em duas gravações ao vivo, efectuadas noutras tantas edições de um encontro de música improvisada, realizadas no Teatro do Oriental. A primeira, com Carlos Bechegas (flautas, processadores, sintetizadores, teclados e controlador de midi) integrado no seu trio IK*Zs (3), ao lado de Ernesto Rodrigues, em violino, e José Oliveira, em percussões, foi gravada em 1995. A segunda parte, gravada em 1993, tem por título “Flute Solos/Movement Sounds” (com dedicatórias a Evan Parker e Steve Lacy) e é constituída por solos de flauta em interactividade com electrónica.
O “resultado estético”, de acordo como o que o próprio músico explica nas notas do texto promocional, “caracteriza-se por uma narrativa enérgica de imprevisível alternância, através de universos e tipologias da música, nomeadamente estruturas rítmico-atonais, etno-modais, texturas ‘minimal-free’ de rasgada tensão e densidade abstracta, contrastando com depuradas atmosferas, tranquila e desconstruidamente a-concretas, paisagens-ambiências sonoras de cores e timbres oniricamente intimistas”.
Curiosamente, o material que aparece no disco da Leo não é aquele de que Carlos Bechegas estava à espera. “Tinha gravado em casa, no ano passado, material à base de flauta acústica. Entretanto peguei nesse material e juntei a esses ‘takes’, como um ‘portfolio’, duas outras gravações que tinha, em concerto, que são as que aparecem no disco. Na Leo responderam-me que tinham mais interesse em editar a segunda cassete do que a primeira, porque estava mais de acordo com a perspectiva da música do catálogo, além de que um trabalho a solo é sempre mais difícil de vender, sobretudo para quem não é conhecido.”
Para Carlos Bechegas tal opção não constituiu motivo de grande desagrado, embora reconhecendo que a sua vontade inicial era apresentar “o instrumento em si, mais virgem, mais limpinho”. Actualmente, já sem a presença de Ernesto Rodrigues, Carlos Bechegas perspectiva a gravação do trio como “uma correspondência” ou “uma extensão” do seu trabalho a solo, estreado em 1989, na Comuna. “O grupo tem a ver com a articulação das linguagens electrónica e acústica, baseada numa improvisação estruturada”. Explica-se o método: “As estruturas aparecem a seguir aos ensaios. As pessoas improvisam, depois analisamos e repescamos o material mais interessante.”
“Flute Solos/Movement Sounds como um complemento, onde “as coisas são trabalhadas mais em pormenor, havendo diferenças substanciais de tema para tema na utilização da electrónica. Mais um trabalho de pesquisa”.
Consumada a edição do compacto, co-produzido pelo próprio Bechegas em conjunto com a editora, fica aberta a possibilidade de futuros trabalhos – gravações e espectáculos – no estrangeiro. “O nosso mercado é muito reduzido. Com a minha dinâmica de não me acomodar, inconformado por natureza, encaro este disco como um cartão de visita para o mundo inteiro que vou tentar potencializar ao máximo”.
Este compacto de Carlos Bechegas poderá ser adquirido através da Ananana, em Lisboa, ou da Áudeo, no Porto.

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