02/05/2011

Tudo sobre a música dos anos 90 - 1995

Sons

31 de Dezembro 1999

Tudo sobre a música dos anos 90 - 1995

Ano de ouro para a brit pop. Os campeões de bilheteira Blur e os Oasis estiveram juntos pela última vez nos estúdios de uma emissora de rádio de São Francisco, a Live 105, enquanto a banda do ex-Nirvana Dave Grohl, os Foo Fighters, andava à procura de editora. Sheryl Crow conquista três Grammies com o álbum “Tuesday Night Music Club”. Concerto apoteótico dos Blur no estádio Mile End em Londres. Os Portishead vencem a quarta edição do Mercury Music Prize, com “Dummy”, atirando Tricky para o segundo lugar. “What’s the Story Morning Glory”, dos Oasis, torna-se o álbum com vendas mais rápidas no Reino Unido desde “Bad”, de Michael Jackson, com 350 mil cópias vendidas na primeira semana. Garth Brooks rejubila ao tornar-se o artista country que mais discos vendeu, batendo com sete milhões de discos o anterior recorde de seis milhões pertencente a Patsy Cline. Depois de Robert Wyatt, também os EMF se abalançaram numa versão de “I’m a believer”, dos Monkees. Nick Cave e Kylie Minogue fazem dueto na canção e no vídeo “Where the wild roses grow”. Os Rolling Stones recriam o passado no álbum “Stripped” e fazem um novo vídeo para o clássico de Dylan “Like a rolling stone” usando a tecnologia mais sofisticada para dar um ar “retro” à coisa, mas os Beatles vão ainda mais longe ao fazerem “ressuscitar” John Lennon para cantar no inédito “Free as a bird”, incluído numa das caixas da sua há muito esperada “Anthology” com material inédito.

Tupac Shakur é condenado e preso por crime de abuso sexual de primeiro grau, sendo posto em liberdade três meses mais tarde. Van Morrison anuncia o seu noivado com uma antiga miss Irlanda, Michelle Rocca. Dolores O’Riordan, vocalista dos Cranberries, é declarada uma das mulheres mais ricas do Reino Unido, ao lado, entre outras, de Angela Lansbury e Jackie Collins, com um rendimento anual de 3,25 milhões de libras. Apesar do sucesso nos tops, a banda de rap feminino TLC declara falência. Estranhamente, o grupo dos irmãos Gallagher não é convidado para tocar na mítica emissão, em Agosto, do programa da BBC 2, Britpop Now, onde participam os Blur, Pulp, Boo Radleys, Elastica, Menswear e Echobelly.

Encerra as portas uma das catedrais “indie” de Londres, a Powerhaus. O mítico estúdio The Manor, em pleno “countryside” inglês, onde Mike Oldfield gravou “Tubular Bells”, fecha também. Dylan editado em CD-ROM e Peter Gabriel em Cd-i. “Post”, segundo álbum de Björk, viu a sua edição adiada devido ao uso não autorizado de samples. George Michael assina contrato com a editora Dreamworks. Michael Jackson é forçado a regravar o tema “They don’t care about Us”, do álbum “HIStory”, devido ao emprego das expressões “jew me” e “kike me”. Bocados da pista de dança do extinto clube Hacienda são postos à venda a 10 libras cada.

Entra para as fileiras dos The Fall a ex-mulher de Mark E. Smith, Brix. Os Stone Roses despedem o seu baterista Alan “Reni” Wren, substituído por Robbie Jay Maddix. Outro ex-Nirvana, Krist Novoselic, lança os Sweet 75 no clube RKCNDY em Seattle. Shaun Ryder forma os Black Grape. Peter Green, lendário guitarrista de “blues” branco e membro da formação original dos Fleetwood Mac, é homenageado por outro guitarrista dos anos 70, Gary Moore, no álbum “Blues for Greeny”. Alan Wilder abandona os Depeche Mode ao fim de 13 anos no grupo.

Em ano de recessão, a música portuguesa sofreu as consequências do “boom” de 1994. Como a fartura não dura para sempre, artistas multiplatinados como os Madredeus, Dulce Pontes e Pedro Abrunhosa retiraram-se para manutenção e deixaram as multinacionais de mãos a abanar. Aproveitaram as independentes, que despontaram em grande número e arrancaram com vigorosas demonstrações de vitalidade. Poderá não ter sido a razão primeira para a criação destas editoras, mas todas elas se dedicaram à assinatura dos jovens talentos de que muito se falou em 1994.

Em 1995 desapareceram António Carlos Jobim, um dos pais da bossa-nova, Viv Stanshall, músico e humorista dos Bonzo Dog Doo Dah Band, Bob Stinson, dos Replacements, Melvin Franklin, dos Temptations, Eazy-E, rapper, Rory Gallagher, guitarrista, Kenny Everett e Wolfman Jack, dj, Jerry Garcia, dos Grateful Dead, Charlie Rich, lenda da música country, Biggie Tembo, dos Bundhu Boys, Sterling Morrison, baterista dos Velvet Underground, Dwayne Goettel, dos Skinny Puppy, Country Dick Montana, dos Beat Farmers, Shannon Hoon, dos Blind Melon, Alan Hull, dos Lindisfarne, e Junior Walker, lenda soul da Tamla Motown.

Um oásis na pop

Ninguém sabe ao certo o significado do termo “britpop” – usado pela primeira vez como título de um programa de música ao vivo da BBC 2, “Britpop Now”, apresentado por Damon Albarn, dos Blur –, mas a verdade é que foi este o principal emblema da música pop deste ano em Inglaterra. Supergrass, Blur, Oasis, Pulp, The Boo Radleys e Elastica chegaram ao número um do top de vendas de álbuns, seguidos de perto pelos Echobelly, surgindo Jarvis Cocker, dos Pulp, como figura carismática do movimento. Seja qual for o denominador comum de todas estas bandas, a verdade é que a pop deixou o cinzentismo “indie” para estalar como pipocas ao som de guitarras luminosas, melodias evidentes e “catchy” e números de vendas que não enganavam: a juventude inglesa encontrara um novo som com que se identificar. “Novo“ não era bem, porque a “britpop” nunca escondeu os seus heróis: os Beatles, Rolling Stones, The Kinks, Bowie… Afinal eram os gloriosos anos 60 a acenar lá de trás, projectando-se no presente no mesmo desejo de criar canções eternas que durassem, pelo menos, até ser lançado o single seguinte.

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