16/05/2015

Brass Monkey - Os senhores da folk [Brass Monkey + Garmarna + Kepa Junkera + Manuel Luna + Kornog + Decameron



Y 21|DEZEMBRO|2001
escolhas|discos

GARMARNA
Hildegard Von Bingen
MNW, distri. MC - Mundo da Canção
5|10

KEPA JUNKERA
Maren
EMI, distri. EMI - VC
7|10

BRASS MONKEY
Going & Staying
Topic, distri. Megamúsica
8|10

MANUEL LUNA
Romper el Baile
Resistencia, distri. Sabotage
7|10

KORNOG
Kornog
Keltia, distri. Megamúsica/import. FNAC
7|10

DECAMERON
Mammoth Special
Edsel, distri. Megamúsica/import. FNAC
6|10

brass monkey
os senhores da folk

Em dia de estreia de “O Senhor dos Anéis”, em plena época natalícia, nada melhor que ouvir uma boa pacotada de folk europeia, para prolongar o deslumbramento e animar ainda mais os espíritos. Ainda que nem tudo sejam rosas. Os Garmarna, por exemplo, gravaram um disco inteiro inspirado na música da nossa querida amiga Hildegard Von Bingen, a abadessa medieval que fez um pouco de tudo menos aquilo em que vocês estão a pensar. Já tiveram um lugar de destaque no quadro de honra das grandes bandas suecas com o nome terminado em “arna”, como os Hedningarna, Hoven Drovenarna e Den Fularna, mas neste novo trabalho espalharam-se ao comprido. “Hildegard Von Bingen” é tecnofolk e new age a pensar nos tops de “world music”, com uma piscadela de olho ao público de Enya e outra aos “dance addicts” de costela étnica. Não é a opção em si, mas o oportunismo de uma fórmula estafada, que torna “Hildegard Von Bingen” redundante. Assim, as batidas moem mais do que encantam e, tecno por tecno, porque não experimentar a linha dura da tecnomedievalfolk personificada pelos QNTAL?
Também mais modernaço do que o costume, quiçá impelido pelo êxito alcançado pelo anterior “Bilbao 00:00H”, Kepa Junkera aligeira a respiração da sua “trikitixa” em “Maren”. A lista de convidados inclui um grupo de vozes búlgaras, o gaiteiro MIDI, Hevia, o sanfonineiro Gilles Chabenat, o flamenquista Cañizares, o percussionista fusionista Glen Velez, a diva da folk mediterrânica Maria del Mar Bonnet, o madagasquenho Justin Vali e o ex-Malicorne Hughes de Courson, entre outros. Tudo boa gente, se bem que o virtuosismo do basco sobressaia uma vez mais. Maculado pela comercialite de temas como “No hirahira”, redime-se nas mestiçagens balcânicas (de sabor medieval num maravilhoso “Oliene”) e no folclore basco ferrenho de “Peliqueiroak terranovan”, num álbum marcado ainda por uma forte componente africana e, no título-tema, pelas aragens occitanas dos Verd e Blu.
Boa muito boa, é, como sempre, a superbanda inglesa Brass Monkey (na foto), onde despontam a figura mítica de Martin Carthy, na voz e na guitarra, e do não menos importante John Kirkpatrick, na concertina. Em “Going & Staying”, o legado ancestral das danças “morris” volta a servir de base a incursões épicas alargadas pela tradicional secção de metais, em contraponto com as vocalizações de Carthy, que uma vez mais roçam o sublime. Um álbum que prolonga a tradição de ouro dos melhores de Shirley Collins e dos Albion Country Band, pelos verdadeiros senhores da folk.
Manuel Luna também está de regresso, com o seu grupo La Cuadrilla Maquisera e o álbum “Romper el Baile”. Uma voz única, um estilo de interpretação especial, ao serviço de um reportório onde a música valenciana, sob influência do flamenco e da música árabe, adquire uma estranha sensualidade, própria do Sul, mas tornada quase hipnótica pelo canto de Luna e o violino de Enrique Valiño.
Outro regresso é o dos Kornog, banda bretã que fez algum furor nos anos 80, com “On Seven Winds” (1985). Regresso de saudar, diga-se de passagem. “Kornog”, o novo álbum, não traz nada de novo, é um facto. Mas é preciso? Ouvir os extraordinários desempenhos vocais do escocês Jamie McMenemy, um dos fundadores do grupo, em 1981, é suficiente para nos comover e fazer recordar como a folk podia ser exaltante na década dos Planxty. Maturidade (fazem parte do grupo as raposas velhas da folk bretã, Jean-Michel Veillon, na flauta, e Nicolas Quemener, na guitarra), uma dedicatória ao rei deposto, Alan Stivell, e alguma água deitada na fervura nos instrumentais, justificam uma audição atenta.
Para quem aborda a folk pelo lado do rock progressivo, há uma proposta razoável: a reedição, aumentada com um tema extra, de “Mammoth Special”, álbum de 1974 dos Decameron. Como outras bandas da mesma época, imaginavam o folkrock como uma salganhada de imaginação, arranjos impensáveis e contrastes de várias cores e feitios. Se é verdade que um título como “Rock and roll woman” é de molde a afugentar qualquer purista, não deixa de fazer sentido arrumar “Mammoth Special” numa coleção exaustiva dos anos 70, ao lado dos Strawbs, Spirogyra, Lindisfarne, Gryphon (“Jan”, o tema a reter, cheira à Primavera de “Treason”) ou Horslips, todas elas da mesma família dos Decameron.

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