25 de Outubro de 1995
Álbuns world
FANTASMAS NO CHAPITÔ
BERT JANSCH
When the Circus comes to Town (8)
Cooking Vinyl, distri. MVM
De quando em quando, surgem discos como este, de sedução indefinida. Tocam uma vez e outra e outra. Discos que se ouvem devagar, com os quais se confraterniza como com um novo amigo que se vai dando a conhecer. Bert Jansch não é novo, muito menos um novato, mas um dos elementos da formação original de uma das bandas míticas da folk inglesa, os Pentangle, de John Renbourn, Danny Thompson e Jacqui McShee. Os anos passaram e bert remeteu-se a uma penumbra apenas quebrada pela edição esporádica de alguns álbuns, nenhum deles distribuído no nosso país. “When the Circus comes to Town” acena-nos de um lugar imaginário, algures entre uma “village” inglesa e o Mississipi. A linguagem de Bert Jansch define-se nessa síntese da “folk” inglesa, como a diziam os Pentangle, e os “blues” subtis de um branco receptivo às múltiplas confidências do mundo. O pano abre para um palco de nostalgia, povoado por personagens de um circo fora de uso. Velhas fotografias e cartazes desbotados do maior espectáculo do mundo que Bert vai apresentando como se esta companhia de sonhos fosse sua. Os arranjos são de uma simplicidade desarmante. Uma guitarra, a sua, condimentada pelo fraseado “fingerpicking”, alguns coros esporádicos, um saxofone na linha do horizonte, um violino dormente (“Step back”, uma balada arrastada na linha de “Sloth”, um dos temas de “Full House”, dos Fairport Convention), naipe de cordas sussurrantes. Esvoaçam por aqui os mesmo espectros que se passeiam na obra-mestra de John Martyn, “Solid Air” (ouça-se, como exemplar assombração, uma faixa como “Summer heat”). Um ambiente geral de amplitude e limpidez de sentimentos. Tempo suspenso, como num sonho. Quando o circo chega à cidade, transformamo-nos de novo em crianças. O de Bert Jansch está cheio de atracções, num desfile de canções de alto calibre, como “Walk quietly by” (o som dos Pentangle, no seu melhor) “Open road”, “No one around” e “Born with the blues” (se existe um “blues” no “green” inglês, ele encontra-se nestas duas faixas), “Just a dream” (fabuloso “swing” ao estilo de um J.J. Cale) e “Living in the shadows”. O maior espectáculo do mundo. No ventre do mais estranho chapitô.
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