QUINTA-FEIRA, 9
SETEMBRO 1999 cultura
Nils Petter Molvær toca esta noite no
Centro Cultural de Belém
Jazz
“sexy” para derreter o gelo
DENTRO
da arca congeladora da editora ECM não são muitos os artistas que conseguem
derreter o gelo. Paradoxalmente, é da Escandinávia que sopra o vento abrasador
de Nils Petter Molvær, o trompetista norueguês que às 21h30 atua no Centro
Cultural de Belém, em Lisboa, com o seu grupo Khmer – também o título de um
álbum que esta formação de seis elementos gravou há dois anos para aquela
editora alemã.
Ao contrário do que é hábito na
fábrica de jazz ambiental de Manfred Eicher, Nils Petter Molvær envereda sem pruridos
por sonoridades que devem tanto ao jazz como à música industrial, ao dub, ao
hip-hop e até – oh heresia! – ao techno. Antigo elemento dos Oslo 13 e dos
Maqualero, o trompetista tocou com Elvin Jones, George Russell e Gary Peacock.
Recentemente, esteve presente nas sessões de gravação, também para a ECM, do
álbum da cantora Sidsel Endresen. Nils não tem pejo em admitir que as raízes da
sua música mergulham num passado relativamente recente do jazz, aquele que a
partir do momento em que Miles Davis fez “Bitches Brew” e “Agartha” passou a
ser chamado jazz rock: “Não cresci a tocar ‘standards’ de jazz, mas sim com o
Miles elétrico”.
O jazz não é, de resto, preocupação
exclusiva deste músico que afirma, por outro lado, sentir-se influenciado pelas
“rotas de colisão” de Bill Laswell, a pop dos Massive Attack e “o drum ‘n’
bass, jungle e techno que se produzem na Europa”. É esta a sua “tradição”,
reconhece. Em “Khmer”, o álbum, assiste-se a uma síntese de tipologias
jazzísticas com manipulação de “samples” de toda a espécie (há, inclusive um
tema que recupera bocados de “Kleptomania”, dos Coldcut), o que lhe confere uma
coloração passível de confundir os que insistem em compartimentar os géneros
musicais.
Não admira, pois, que o som deste
trompetista natural de Sula, na costa noroeste da Noruega, já tenha sido
apropriada pela música de dança, através de um maxi-“single”, em vinilo, de
remisturas de “Khmer”, pelos Herbaliser, Mental Overdrive e Rockers Hi-Fi, com
passagens regulares nas discotecas.
O jazz pode franzir o nariz e olhar
para o lado, mas os DJ usam uma palavra para definir a chama rítmica de Nils
Petter Molvær: “Groove”. Tanto assim, que o “escândalo” se estendeu ao próprio
interior da editora, que pela primeira vez na sua história usou, para definir a
música de um dos seus artistas, a palavra “sexy”.
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