21|JANEIRO|2005 Y
discos|roteiro
as viagens de cristina branco
Depois de ensaiar de início com o sotaque brasileiro e com a língua castelhana, a cantora atinge um “Redondo vocábulo” o primeiro pico de “Ulisses”, naquela que será uma das melhores versões de sempre deste tema de José Afonso. Logo a seguir, a operação de risco que é pegar numa canção de Joni Mitchell, revela-se totalmente conseguida. Cada canção da compositora canadiana é, por si só, uma viagem e “A case of you”, do álbum “Blue”, não é exceção. Cristina Branco entra de coração aberto no coração deste novo universo. “Navio triste”, de Vitorino, e “Porque me olhas assim”, de Fausto são outras interpretações sem falhas e “Choro (ai barco que me levasse”) exala o discreto odor a nostalgia das gerações mais antigas da música popular portuguesa. Custódio Castelo assegura até ao final que “Ulisses” continue a viajar sobre as nuvens, seja sobre os versos de Paul Éluard (com a língua francesa a exigir uma abordagem mais física e rasgada que Cristina por enquanto não lhe consegue arrancar), de David-Morão Ferreira, em “E por vezes”, uma das mais sentidas vocalizações de “Ulisses”, ou num “Cristal” em registo “neo folk” (Pentangle à portuguesa?) onde, uma vez mais, se revela fundamental o piano de Ricardo Dias. Sobram “Gaivota”, único momento de fado num álbum que perscruta mais do que as vielas e becos da tradição, e “Fundos”, a inspirar algumas dúvidas quanto ao uso de uma batida de “drum ‘n’ bass”. Tal não seria necessário para assegurar a modernidade de “Ulisses”.
Ulisses
SACD ed. e distri. Universal
8|10
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