01/09/2021

Delírio "unza unza" [No Smoking Orchestra]

CULTURA
QUARTA-FEIRA, 19 JAN 2005
 
Crítica
 
Delírio “unza unza”
 
No Smoking Orchestra
LISBOA Coliseu dos Recreios
2ª-feira, às 21h30. Lotação esgotada.
 
Foi um exagero. Um espetáculo de circo. “Unza unza time”, como os próprios costumam chamar à sua particular forma de diversão. A passagem da No Smoking Orchestra, segunda-feira, pelo Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no concerto de encerramento da “Life is a Miracle Tour”, teve de tudo: desregramento “punk”, números de prestidigitação e muitos espontâneos em palco para ajudarem à festa. Emir Kusturica, barba rapada especialmente para a ocasião, guitarrista da “orchestra”, era o chamariz mas o realizador natural de Sarajevo acabou por ser uma das figuras mais discretas. Dr. Nele Karajilic, diretor musical e vocalista, foi quem deu o litro do princípio ao fim, foco visual permanente de uma banda que faz do excesso o seu cavalo de batalha. Nele gritou mil vezes “obrigado”, cantou de megafone, entrou pela plateia dentro, dançou com as miúdas que saltaram para o palco e fez as despesas da conversa. Herói “unza unza” em ação. A outra figura da No Smoking é o violinista, de alcunha “o juiz”. “O juiz” surgiu em palco de peruca loura, tocou violino das maneiras mais estapafúrdias (incluindo a de fazer o violino roçar-se num cordel suspenso, seguro de ambos os lados por duas espontâneas…), fez o truque de ilusionismo de mudar de traje instantaneamente, da toga original para um vestido prateado e outro verde, e deu demonstrações de virtuosismo gratuito. A ideia que a No Smoking Orchestra faz da arte é a do puro gozo e entretenimento sem outras pretensões senão as de darem o litro e gastarem em palco a última gota de suor. Depois de abrirem com um “pastische” mais ou menos clássico (“só para mostrarmos que também sabemos tocar música a sério”), as duas horas seguintes foram uma sessão de aeróbica “punk” com ligações ao folclore balcânico e à música de baile e de variedades. “Já estão cansados?” – perguntou a dada altura Dr. Nele à assistência. Como foram pedidos dois “encores”, dá ideia que não.

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