Y 4|FEVEREIRO|2005
roteiro|ao vivo
e a voz do tio robô
Günter
Reznicek é um músico sediado em Hamburgo com raízes na música concreta e na
eletrónica contemporânea que um dia decidiu criar um projeto pop, com eletrónica
a cobrir as canções como creme de gelado, os Nova Huta. Ele e um tio
imaginário, Bambij Robot, com quem partilhou os discos “At Bambji Robot’s
Nonstop Datscha” e o novo, gravado para a editora portuguesa Variz, “Here Come
My Seltsam Voice”. Reznicek participa ainda no projeto Groenland Orchester e
colaborou com Felix Kubin nos Klankrieg, além de assinar em nome próprio álbuns
bem mais experimentais. Os Nova Huta fazem-se à estrada (portuguesa), a partir
de hoje. Passagens asseguradas pelo Porto, Leiria e Lisboa. Mandámos um “mail”
a Reznicek e ele respondeu.
Como define esse tio imaginário?
Só pelo facto de ser imaginário, é
alguém que transporta a ideia de raízes para a música, numa relação privada mas
também como elo de uma tradição musical mais comum. É o grande desconhecido por
detrás de mim.
Os Nova Huta são o seu lado “poppy”. Enquanto Reznicek gravou
álbuns mais sérios e experimentais. Há algo a ligar as duas partes?
Não creio que Nova Huta seja menos sério. Mesmo
que a minha música em nome próprio seja obviamente mais experimental, começar a
trabalhar como Nova Huta foi uma experiência mais vasta e arriscada, de um
ponto de vista artístico. O mesmo se passa com os Groenland Orchester e
Klankrieg, onde apenas sou um convidado: têm muito humor e é realmente de loucos
a maneira como a música é feita, mas nenhum deles é um “projeto de diversão”.
Têm sensibilidade/melancolia e curiosidade/humor como principais motores, o
equilíbrio pode mudar de projeto para projeto mas nunca se trata de pensar
muito sobre as intenções.
Que significa “Datschadelic music”, como absurdamente define o
estilo dos Nova Huta?
Trata-se apenas de uma tentativa de
dar à música um nome, uma marca a ferros, porque sempre achei que não era eletrónica
vulgar, pop ou outra música qualquer.
Há alguma explicação para o título “Here Comes My Seltsam
Voice”?
“Seltsam” é uma palavra alemã para
“bizarro”, com uma aura especial, difícil de transmitir. E é divertido tentar
explicar o termo a um não-alemão. Escolhi o título por ser o primeiro álbum em
que canto.
A ironia desempenha um papel neste disco?
Não um papel muito grande mas é
evidente que há uma distância entre mim e os papéis, as personagens que os
músicos pop e rock normalmente desempenham. Adoro isso e odeio isso!
O termo “funny electronics” diz-lhe alguma coisa?
Não me identifico muito, soa a
música com piadas. Gosto de humor, mas tenho problemas com piadas.
Porque inclui uma versão de “Killing an arab”, dos Cure, com o
título “Killing an error”?
Queria mudar alguma coisa na minha
versão e foi por isso que alterei o título.
E a canção em português, “Guarde suas lágrimas para outra
pessoa”?
Foi só uma prenda a Portugal (e ao
Brasil), porque a editora existe e tenho bons amigos lá, além de que a voz da
cantora [a brasileira Nina de Faria] é bastante sensual.
Moog, Sampler ou Casio. Qual é o seu brinquedo favorito?
A minha cabeça e o meu corpo, mas é
difícil gravá-los… Usei um Moog em “Killing an error”, são maravilhosas todas
estas máquinas analógicas, os sintetizadores e órgãos antigos fazem-me chorar.
Os “samplers” são uma verdadeira maravilha mas não os uso muito, não me
pergunte porquê. E o Casio é uma coisa de plástico barata que tem dentro os
ossos de toda a história da música, mas necessita de amor para descobrir a sua
alma.
Qual é o seu principal objetivo como músico?
Tornar-me uma lenda, depois de
morto.
PORTO|Faculdade de Belas Artes , Universidade do Porto
Hoje, a partir das 23h30.
Bilhetes: €5
Dom., dia 6, às 23h.
Consumo mínimo: €4
Tel: 21 3430205. 2ª, dia 7, a partir das 23h.
Bilhetes: €7,5
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