07/09/2021

Nova Huta e a voz do tio robô

Y 4|FEVEREIRO|2005
roteiro|ao vivo
 

nova huta
e a voz do tio robô
 
Günter Reznicek é um músico sediado em Hamburgo com raízes na música concreta e na eletrónica contemporânea que um dia decidiu criar um projeto pop, com eletrónica a cobrir as canções como creme de gelado, os Nova Huta. Ele e um tio imaginário, Bambij Robot, com quem partilhou os discos “At Bambji Robot’s Nonstop Datscha” e o novo, gravado para a editora portuguesa Variz, “Here Come My Seltsam Voice”. Reznicek participa ainda no projeto Groenland Orchester e colaborou com Felix Kubin nos Klankrieg, além de assinar em nome próprio álbuns bem mais experimentais. Os Nova Huta fazem-se à estrada (portuguesa), a partir de hoje. Passagens asseguradas pelo Porto, Leiria e Lisboa. Mandámos um “mail” a Reznicek e ele respondeu.
            Como define esse tio imaginário?
            Só pelo facto de ser imaginário, é alguém que transporta a ideia de raízes para a música, numa relação privada mas também como elo de uma tradição musical mais comum. É o grande desconhecido por detrás de mim.
Os Nova Huta são o seu lado “poppy”. Enquanto Reznicek gravou álbuns mais sérios e experimentais. Há algo a ligar as duas partes?
Não creio que Nova Huta seja menos sério. Mesmo que a minha música em nome próprio seja obviamente mais experimental, começar a trabalhar como Nova Huta foi uma experiência mais vasta e arriscada, de um ponto de vista artístico. O mesmo se passa com os Groenland Orchester e Klankrieg, onde apenas sou um convidado: têm muito humor e é realmente de loucos a maneira como a música é feita, mas nenhum deles é um “projeto de diversão”. Têm sensibilidade/melancolia e curiosidade/humor como principais motores, o equilíbrio pode mudar de projeto para projeto mas nunca se trata de pensar muito sobre as intenções.
Que significa “Datschadelic music”, como absurdamente define o estilo dos Nova Huta?
            Trata-se apenas de uma tentativa de dar à música um nome, uma marca a ferros, porque sempre achei que não era eletrónica vulgar, pop ou outra música qualquer.
Há alguma explicação para o título “Here Comes My Seltsam Voice”?
            “Seltsam” é uma palavra alemã para “bizarro”, com uma aura especial, difícil de transmitir. E é divertido tentar explicar o termo a um não-alemão. Escolhi o título por ser o primeiro álbum em que canto.
A ironia desempenha um papel neste disco?
            Não um papel muito grande mas é evidente que há uma distância entre mim e os papéis, as personagens que os músicos pop e rock normalmente desempenham. Adoro isso e odeio isso!
O termo “funny electronics” diz-lhe alguma coisa?
            Não me identifico muito, soa a música com piadas. Gosto de humor, mas tenho problemas com piadas.
Porque inclui uma versão de “Killing an arab”, dos Cure, com o título “Killing an error”?
            Queria mudar alguma coisa na minha versão e foi por isso que alterei o título.
E a canção em português, “Guarde suas lágrimas para outra pessoa”?
            Foi só uma prenda a Portugal (e ao Brasil), porque a editora existe e tenho bons amigos lá, além de que a voz da cantora [a brasileira Nina de Faria] é bastante sensual.
Moog, Sampler ou Casio. Qual é o seu brinquedo favorito?
            A minha cabeça e o meu corpo, mas é difícil gravá-los… Usei um Moog em “Killing an error”, são maravilhosas todas estas máquinas analógicas, os sintetizadores e órgãos antigos fazem-me chorar. Os “samplers” são uma verdadeira maravilha mas não os uso muito, não me pergunte porquê. E o Casio é uma coisa de plástico barata que tem dentro os ossos de toda a história da música, mas necessita de amor para descobrir a sua alma.
Qual é o seu principal objetivo como músico?
            Tornar-me uma lenda, depois de morto.
 
NOVA HUTA
PORTO|Faculdade de Belas Artes , Universidade do Porto
Hoje, a partir das 23h30.
Bilhetes: €5
 
LEIRIA|Abadia
Dom., dia 6, às 23h.
Consumo mínimo: €4
 
LISBOA|Galeria Zé dos Bois R. da Barroca, 59.
Tel: 21 3430205. 2ª, dia 7, a partir das 23h.
Bilhetes: €7,5

Sem comentários: