12/02/2019

Charlie Haden e Pat Metheny travam diálogo intimista no CCB


CULTURA
DOMINGO, 18 MAI 2003

Charlie Haden e Pat Metheny travam diálogo intimista no CCB

“Missouri Sky Duets” repete amanhã no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz


Charlie Haden e Pat Metheny começam hoje, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, a contar as histórias que fazem parte do seu projeto comum, “Missouri Sky”. Registado em disco, em 1996, sob o título “Beyond the Missoury Sky (Short Stories)”, para o selo Verve, deu origem ao espetáculo “Missouri Sky Duets” que hoje sobe ao palco do CCB e que amanhã repete no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz.
            “Missouri Sky” reúne episódios do Midwest americano, interpretados de forma intimista e acústica por dois tecnicistas de grande envergadura, ambos nativos do Missouri: “The precious jewel”, “He’s gone away”, “The moon is a harsh mistress”... Além de “Beyond the Missouri Sky”, Haden colabora com o seu contrabaixo em álbuns do guitarrista como “80/81”, “Rejoicing”, “Song X” e “Secret Story”.
            “É simplesmente um dos melhores músicos de improvisação, e a sua forma de execução no contrabaixo estabeleceu as bases do que são agora várias gerações de músicos”, diz Pat Metheny sobre Charlie Haden. E Charlie Haden diz de Pat Metheny: “É um inovador pelo som que transmite, bem como pelas suas composições e improvisações. A sua música está fora de qualquer categoria. Ele é do Missouri, tal como eu, o que seguramente tem relação com isto. A este som denomino-o de americano contemporâneo impressionista.”
            Pat Metheny, o guitarrista das camisolas às risquinhas que já por diversas vezes atuou em Portugal, é imprevisível. O jazz ambiental que cultivou desde os anos 70 numa série extensa de álbuns gravados para a ECM, como “Bright Size Life” (1975), “Watercolours” (1977), “Offramp” (1981), “First Circle” (1984) ou os clássicos “80/81” (1980) e “As Falls Witchita, so Falls Witchita Falls” (1980), é apenas uma das facetas musicais deste virtuoso que tanto se mostra capaz de se divertir a tocar jazz de fusão com tonalidades “country” (“American Garage”, 1979), como de se revelar um intérprete de exceção de Ornette Coleman (“Song X”, 1985) ou de simplesmente estoirar com as aparelhagens, como no exercício de puro “noise” que é “Zero Tolerance for Silence” (1993), quando não de se espreguiçar pelo MOR (“Middle of the Road”) mais xaroposo, em “Still Life (Talking)” (1987) e “Secret Story” (1992).
            O seu mais recente trabalho, na linha de “New Chautauqua” (1978), tem por título “A Quiet Night” e nele se pode escutar uma série de exercícios introspetivos executados em guitarra barítono.
Haden é um dos pilares do contrabaixo moderno. Impulsionador da mítica “big band” Liberation Music Orchestra, com Don Cherry, Michael Mantler, Roswell Rudd, Gato Barbieri, Dewey Redman, Carla Bley, Andrew Cyrille e Paul Motian, entre outros, Haden apresenta-se como o apologista de ideologias de esquerda que os portugueses puderam ouvir tocar a “Internacional socialista” numa das edições da Festa do Avante!. Gravou com Ornette Coleman antes de se aventurar, ele próprio, pelas alamedas luxuosas da editora ECM, em “Magico” (com Jan Garbarek e Egberto Gismonti, 1979), “Folk Songs” (1979) e o clássico “The Ballad of the Fallen” (1982), onde recupera o formato instrumental da Liberation Music Orchestra. Os quatro volumes de “The Montreal Tapes”, gravados para a Verve em 1989, mostram o contrabaixista na sua melhor forma, fazendo esquecer que se trata do mesmo músico que, recentemente, gravou o delicodoce
            “American Dream”. “Missoury Sky Duets” são para se ouvir em silêncio, imaginando as vastas paisagens do Missouri.

Charlie Haden & Pat Metheny – Missoury Sky Duets
LISBOA Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Hoje, às 21h. Tel.213612444.
Bilhetes entre 15 e 40 euros
FIGUEIRA DA FOZ. Centro de Artes e Espetáculos. Amanhã, às 22h. Tel. 233407200.
Bilhetes a 37,50 euros.

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