08/02/2018

Robyn Hitchcock & The Egyptians


Pop Rock
16 de Outubro 1991

ROBYN HITCHCOCK & THE EGYPTIANS
            Perspex Island
                LP/MC/CD, A & M, distri. Polygram

Decididamente, a pop resignou-se ao papel de discípula da tradição. Mas se Hitchcock não hesita um momento em firmar-se nessa tradição, tal não implica a inexistência de um discurso personalizado e original. Pelo contrário, partindo de modelos tão sólidos como os Pink Floyd, da época Syd Barrett, os Beatles psicadélicos das “sitars” e gurus, ou os Byrds (comparação inevitável se levarmos em conta que Peter Buck, dos R. E. M., toca guitarra em oito temas, num deles, “So you think you’re in love”, retomando sem vergonha a chave melódica de “Turn turn turn”), consegue traduzi-los numa linguagem autónoma, reveladora de um compositor/intérprete suficientemente amadurecido para não recear o confronto com o passado.
“Perspex Island” é misterioso e noturno, vagando por sonoridades aquáticas e sombrias (“Vegetation and dimes” ou “She doesn’t exist” são dois bons exemplos deste lado lunar), em contraste com o tom extrovertido de “Oceanside” e “Child of the universe” que abrem respetivamente o lado 1 e 2 do disco. A cada audição revelam-se novos pormenores: a textura íntima dos arranjos, os insuspeitados recantos emocionais que a voz vai desvelando.
Desaconselha-se pois o mergulho de cabeça. Convirá antes imergir lentamente, de modo a permitir a observação cuidada de cada nível de profundidade. Por debaixo da superfície espelhada de guitarras surge do fundo submarino um mundo de melodias insinuantes que aos poucos dá a conhecer o mistério. Michael Stipe e o trompetista Mark Isham contribuem para o adensar das brumas. (8)

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