20/05/2008

Boris Ex Machina - Tango Infernal

POP ROCK

2 de Outubro de 1996

portugueses

Boris Ex Machina
Tango Infernal
ED. E DISTRI. SYMBIOSE

O universo dos Boris Ex Machina tem tanto de literário como de musical. “Tango Infernal” vive de um conceito e de um leque de aproximações que se situam à margem do rock, alimentando-se de nostalgias várias e delas sugando uma essência de láudano mas deixando entender uma via apontada à experimentação e, até, ao confronto. Convergem nesta estreia discográfica do grupo a valsa-musette, obviamente o tango, o cabaré e os circuitos integrados, e um romantismo, por vezes trágico, que deixa a anos-luz de distância os vagidos funeral-nacionalistas dos Sétima Legião. Fumos de ópio e brumas pegajosas sobre o porto de Amsterdão – Brel a pairar como um espectro húmido. O acordeão do “outsider” Rini Luyks, a utilização de “samples” e da electrónica por vezes industrial e o sentimentalismo afectado da voz sugerem tanto a “chanson” francófona como a feira hermética dos Tuxedomoon ou o circo piegas de António Calvário. Os Boris Ex Machina sonham com um tempo mais antigo e aventuras e sentimentos suspeitos. De bares com má fama e vielas mal iluminadas onde, a cada esquina, espreita uma alucinação. Um arco obriga a chorar o contrabaixo, a máquina tanto levita num “sample” de vibrafone como estremece no “delirium tremens” de um saxofone alcoolizado. A valsa retorna, obsessiva, enquanto as palavras – do polivalente Armando Teixeira mas também, no tema final, de Mário de Sá-Carneiro – se perdem nos seus próprios meandros, tornando-se por vezes ininteligíveis e deixando espaços perigosos à imaginação. Pós-rock, ambiental não conformista, corsário na pilhagem das épocas e na manipulação das memórias colectivas, reais ou empilhadas dos livros e dos filmes, “Tango Infernal” traz para a superfície algo de brumoso e informe, materializando terrores vagos, pondo os monstros a cantar canções de variedades. (7)

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