14/05/2008

The Residents - Gingerbread Man

Pop Rock

7 de Dezembro de 1994
ÁLBUNS POPROCK

The Residents
Gingerbread Man
Euro Ralph, import. Simbiosis

Globos oculares de fraque observam uma miúda incauta e inocente. A miúda tem nas mãos o, adivinha-se, temível homem de bolo de gengibre. A luz é vermelha. Eis-nos de novo instalados no universo de pesadelos tecnopsicadélicos dos Residents, a banda mais insólita de sempre da música popular. Nos últimos anos e nos últimos discos, os Residents criaram um estilo definido, uma espécie de classicismo electrónico construído sobre melopeias fonéticas (imagem de marca do grupo) e melódicas, e ritmos sintéticos quase sempre primários onde são os timbres e as subtis alterações de tempo a estabelecerem a diferença e o ambiente característico.
“Gingerbread Man” segue um modelo idêntico ao anterior “Freak Show”, em canções que exploram uma galeria de personagens exóticas, para não dizer monstruosas, em suspensão numa “bad trip” provocada por ácido de má qualidade. Cada tema inicia-se com um motivo melódico que se repete ao longo de todo o disco, com arranjos diferentes, para em seguida o comboio-fantasma mostrar as taras de aberrações, como o azeiteiro moribundo, o transexual confuso, o artista de sucesso, o asceta, o velho soldado, o músico envelhecido ou o talhante. Dir-se-ia que todos eles eram saídos de um filme de terror de Tobe Hooper, derivando musicalmente para regiões que apenas têm paralelo na própria obras dos Residents.
Música doentia, de uma beleza que envenena a alma e polui os sentidos, “Gingerbread Man” mostra igualmente o lado oculto de uma América em estado de paranóia e, em chicotadas de um humor mais que negro, as regras viciadas de uma sociedade em decomposição. Na contracapa, num texto ambíguo, como tudo da lavra dos Residents, é a memória da música rock que é ligada em inversão de marcha e as estratégias da indústria discográfica que são expostas e desmontadas pelo absurdo. “Sweets for my sweet, sugar for my honey” – e é todo um mundo que desaba. (7)

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