02/06/2008

The Future Sound Of London - ISDN

Pop Rock

11 de Janeiro de 1995
álbuns poprock

ILUSIONISTAS AO VIVO NA “INTERNET”

FUTURE SOUND OF LONDON
ISDN
Virgin. distri. EMI-VC

“Lifeforms”, álbum anterior dos FSOL, remetia para coordenadas que aproximavam a estética tecno dos anos 90 da “música cósmica” dos anos 70, nomeadamente dos Pink Floyd até “Atom Heart Mother” e de representantes da escola alemã como Klaus Schulze e os Tangerine Dream. Semelhante na forma – longas explanações planantes, utilização exaustiva de ritmos sintéticos –, o ponto de partida era, e continua a ser, porém, diametralmente oposto.
Os nomes atrás citados partiam de uma perspectiva humanista, romântica, da música. A sua música era uma extensão electrónica do psicadelismo. LSD vertido para os circuitos de um sintetizador analógico. Uma ideia transposta para os canais da tecnologia. Os FSOL, pelo contrário, partem da tecnologia – digital, de “bits” autónomos – para formatarem múltiplas ideias reflectoras de uma realidade fragmentada e desumanizada. Significativa é, de resto, a oposição entre analógico (“continuum” temporal) e digital (divisão matemática), enquanto símbolo de um contraste entre duas músicas e duas atitudes que são como dois espelhos colocados um frente do outro.
“ISDN”, seguindo as mesmas premissas de “Lifeforms”, é, em comparação, um álbum mais orgânico e imaginativo. Gravado “ao vivo” em estúdio e enviado por via informática, em tempo real, para vários canais radiofónicos da Europa, “ISDN” simula a excitação do concerto, enquanto simulacro assumido de uma realidade sem consistência, de acordo com o conceito de “consistência” que nos reconfortava. O mundo, sabemo-lo hoje, não é constituído por partículas materiais, mas sim por simetrias, um equilíbrio mantido por campos de força em tensão recíproca, jogos de polaridade em constante alternância (inversão) de sinal. Os FSOL tecem em som a mesma “ilusão”.
“ISDN” ilude, na medida em que os programas que introduz no sistema não passam de fantasmas electrónicos. O electrojazz, a etnotecno, as paisagens ambientais – elementos de um novo tribalismo – são “reais” apenas enquanto manifestações de um universo sem solidez nem contornos definidos, onde a relatividade impera. Informação despojada de mensagem. Leia-se “o meio é a mensagem”, como profetizava McLuhan. Do mesmo modo, as referências a músicas que podemos considerar pioneiras e, decerto, fontes de ensinamento para os FSOL, surgem aqui como linguagens e vozes à deriva, já não procurando arrancar um sentido do nada, mas fazendo desse nada o próprio sentido.
Os Kraftwerk, em “You’re creeping me out”, os Yellow Magic Orchestra, em “Eyes pop”, os Pink Floyd, nas primeiras notas de “Tired”, a música industrial, também em “Tired”, Jah Wobble, em “Slider” e “Hot knives”, os KLF, em “A study of six guitars”, ou os Delerium, em “An end of sorts”, são pontos de ligação óbvios a uma era tornada para os FSOL um fóssil. O “trompete”, as “guitarras” e os computadores de “ISDN” interagem em linha directa com os centros nervosos de um novo “homo sapiens” em pleno processo de mutação. Uma música sem alma, mas onde o cérebro funciona em velocidade acelerada, num fluxo criador de imagens que são ao mesmo tempo alimento e suporte para um tipo de homem que passou a ter um ordenador e fibras ópticas no lugar do coração. Emoção igual a tratamento de informação. “ISDN” é um espectáculo de ilusionismo no circo virtual da “internet”.
Está escrito que, quando a nova ordem estiver instalada no mundo, alguém há-de chegar, furtivo, como um ladrão, e destruir a grande máquina. (8)

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