19/10/2009

Bloco de notas - Reedições Pop

Sons

24 de Abril 1998
BLOCO DE NOTAS – POP

Reedições

Krautrock, capítulo 23, referência nº 362 aos Neu!. A caixa com a obra completa do grupo, “Komplett”, maculada por irritantes ruídos, já pode ser substituída. “Neu!2”, com o seu “segundo lado” construído em torno de mudanças de rotações e manipulações várias de estúdio do single “Super/Neuschnee”, está de volta, o mesmo acontecendo com “Neu!75”, terceiro álbum de originais da dupla Michael Rother/Klaus Dinger, que alterna um ambientalismo naturista com arranhões eléctricos e a histeria que antecipava de um ano o golpe publicitário dos Sex Pistols. Ainda em edições com a caveira mas limpas de barulho residual. (import. Virgin, 8 e 8).
Do capítulo anos 70 saúda-se a chegada, para muitos desejada, de “The Man in the Bowler Hat”, dos Stackridge, que sucede a “(Have no Fear) I only Need your Friendliness”, que também volta a estar disponível, mas agora ambos em quantidades mais satisfatórias. Os Stackridge foram os Beatles do Progressivo, na forma como nas suas canções combinavam uma veia melódica digna de Paul McCartney com arranjos cuja excentricidade e imprevisibilidade os colocava perto de grupos como os Gryphon e os Gentle Giant. Comprovativo desse talento inato para fazer de cada canção um clássico está o facto de o produtor de “The Man in the Bowler Hat” ser nada mais nada menos do que George Martin, esse mesmo, o produtor de “Sgt. Pepper’s” dos Beatles. (Edsel, distri. Megamúsica, 9)
Na década anterior, por volta de 67, como se devem lembrar, andava tudo doido. Em matéria de psicadelismo, verdadeiro ou da treta, um grupo para ser grupo, tinha que juntar na sua música “sitars” indianas, vocalizações arrastadas e guitarra “fuzz”. Os leitores não devem conhecer os Strawberry Alarm Clock. Podem fazê-lo agora. Nesse ano de graça das flores que Scott McKenzie punha no cabelo e os designers nas capas dos discos, os SAC gravaram um dos singles que ficou como um marco dessa época “Incense and peppermints” (demorou seis meses para chegar a Top One, nos Estados Unidos...). É uma daquelas melodias da 5ª dimensão, com mudanças de tonalidade a esvaírem-se em perfeição num cogumelo pop embalado em prata de todas as cores. O álbum de estreia tem o mesmo nome, embora a presente reedição o alterasse para “Strawberries Mean Love”, título piroso e redundante. Mas, paciência, os sons que dele se volatilizam, entre o melhor “vintage” de 67 e o kitsch ao modo dos Mystical Astrological Crystal Band, garantem a “trip” até katmandou. (Big Beat, import. Virgin, 8).
Enterrado no túmulo do esquecimento tem estado igualmente “Begin”, primeiro e único álbum gravado pelos The Millenium, com data de edição original de 1968. Os The Millenium foram um grupo de estúdio criado para pôr em prática as concepções pop-bubblegum-surf music-experimental-psicadélicas de Curt Boettcher (falecido há onze anos), um duplo, não menos genial, de Brian Wilson. O universo estético e sonoro em que “Begin” se move é um palacete de espelhos e diversões arquitectadas com cordas de gelatina, fantasmas escondidos em vibrafones, guitarras com cordas de luz, um prelúdio barroco em cravo, silhuetas espectrais e momentos de pura “twilight zone” como “Karmic dream sequence”. A arrumar entre “Odessey and Oracle”, dos Zombies e “Tangerine Dream” dos Kaleidoscope ingleses. (Rev-Ola, import. Virgin, 9).
Para terminar saltemos até ao Canadá, acertando a máquina do tempo para 1984, para nos perdermos nas histórias de bombistas da realidade, de Andre Duchesnes, que em “Le Temps des Bombes” tanto se posiciona, em termos poéticos e nas entoações vocais, próximo do humor surrealista de Ferdinand Richard, como se exercita nos campos de jazz “rive gauche” e magnético dos seus compatriotas Robert-Marcel LePage e René Lussier. (Ambiances Magnétiques, distri. Áudeo, 8).

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