26/09/2016

Istanbul Oriental Ensemble - Sultan's Secret Door

Quarta-feira, 16 Abril 1997 POP ROCK

world

Istanbul Oriental Ensemble
Sultan’s Secret Door
NETWORK, DISTRI. MEGAMÚSICA

Imaginem o deserto. Aproximem-se, em levitação, da cidade que se forma sobre o horizonte com a imprecisão de uma miragem. Por entre as formas de argila colorida, no centro de um imenso jardim, ergue-se o palácio do sultão. Lá dentro, sente-se no ar o odor de mil fragrâncias. A arquitetura esconde tesouros, perfídias e segredos. O prostíbulo fica ao fundo. Desprende-se dos mármores, das tapeçarias e dos repuxos das fontes uma atmosfera de luxúria. Tudo convida ao prazer. Por fim, surgem os corpos das belas concubinas. O sultão dá esta noite, primeira de mais mil, um banquete. Uma banda de músicos convidados garante o acompanhamento musical de tudo o que a imaginação possa criar. Essa banda é o Istanbul Oriental Ensemble, projeto liderado por Burhan Öçal – diretor musical do grupo e executante de “darabuka”, “kös, “tambur”, “saz” e percussões – que assim nos apresenta este seu segundo álbum conceptual, sucedendo a “Gypsy Rum”, do ano passado. Continua a ser-nos oferecida uma visão particular da música da Turquia e do mundo árabe em geral, desta feita seguindo uma estrutura musical cujos pormenores mais ínfimos, desde a escolha de timbres ao modo e ao compasso, obedecem à lógica interna da narrativa, contada em pormenor no livrete que acompanha esta luxuosa embalagem. Burhan Öçal e os restantes cinco elementos do “ensemble” – em clarinete, “zurna”, “‘ud” (alaúde), “keman” (violino), “qanun” (saltério) e “darabuka” – revelam-se mestres na criação de um ambiente onírico que faz da audição deste trabalho um autêntico passeio pelo jardim das delícias, entre alucinações proibidas e enredos mirabolantes desenrolados na alcova. A anos-luz tanto do academismo como do postal turístico, sem enveredar pela fusão nem pelo apego redutor ao tradicionalismo como dogma, a música dos Istanbul Oriental Ensemble faz do prazer a sua arma principal, garantindo que ao prazer dos sentidos se junta o da alma. (9)

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