11 de Maio de 1994
ÁLBUNS POPROCK
CHRISTY DORAN & FREDDY STUDER
Play the Music of Jimi Hendrix (7)
Vera Bra, distri. Dargil
PAT METHENY
Zero Tolerance for Silence (5)
Geffen, distri. BMG
STEVE TIBBETTS
The Fall of us all (6)
ECM, distri. Dargil
Nestes três discos, a guitarra é pau para toda a obra. Em termos técnicos, tanto Christy Doran como Pat Metheny e Steve Tibbetts são aquilo a que se costuma chamar “virtuoses”. Mas a esta sua reconhecida capacidade de domínio da guitarra não corresponde, nesta fornada das suas obras mais recentes, música à altura. Mesmo assim, é Christy Doran quem, dos três, acertou mais perto da “mouche”. No seu caso, a música de Jimi Hendrix é pedra de toque para exercícios de desconstrução de temas como “Foxy lady”, “Manic Depression”, “Purple haze” ou “Hey Joe”, nos quais dificilmente se reconhece os temas originais. Doran, com os seus companheiros Freddy Studer, Phil Minton, Django Bates e Amin Ali, em vez de tentarem reproduzir a música do grande guitarrista negro, procuram, antes, apoderar-se do seu estilo, privilegiando a experimentação e a guerrilha sonora. O resultado poderia ser bem melhor se não fosse a contínua excitação de Phil Minton, cuja habitual apoplexia vocal acaba por se tornar irritante e desvalorizar as restantes prestações instrumentais, lançando ruidosa expectoração onomatopaica sobre a parede sonora criada pela guitarra e os teclados de Bates, um ex-colaborador de Bill Bruford. Apesar de tudo, Hendrix não sai desprestigiado da aventura.
Com Steve Tibbetts, o que se passa é que parece ter chegado a um beco sem saída. O seu estilo, caracterizado por uma abordagem “suave” da guitarra, mesclado de influências orientais e ambientais, deu origem a excelentes discos como “Yr” e “Big map idea”. Em “The Fall of us all”, contudo, a suavidade e a complexidade com que trabalhava sobretudo a guitarra acústica foram substituídas por um discurso mais violento, que nunca consegue ser coerente. Imagine-se os Oregon a perderem a cabeça e a ligarem todos os instrumentos à ficha. É um pouco isto que se passa em “The Fall of us all”, onde as tablas de arrastam, os sintetizadores adormecem e os coros femininos parecem ter sido repescados dos Pink Floyd. Posto isto, claro, Tibbetts continua a saber tocar guitarra.
“Zero Tolerance” afigura-se o caso mais estranho. Talvez cansado das críticas e acusações de que tem sido alvo nos seus recentes trabalhos, comercialões até dizer chega, Pat Metheny terá resolvido que era altura de mostrar que continua a ser um músico de “vanguarda”. Não podia ter sido mais radical na forma de o fazer: “Zero Tolerance” é um solo ininterrupto de guitarra eléctrica distorcida, sem qualquer acompanhamento, numa sequência dividida em cinco partes onde não se percebe muito bem o que Metheny quer dizer, além de dar razão ao título. A primeira parte, um quarto de hora de ruído ininterrupto, faz lembrar Glenn Branca numa “bad trip” e terá sido, decerto, o que levou Thurston Moore, dos Sonic Youth, numa nota colada à embalagem, a referir-se a este disco como “um dos mais radicais exercícios musicais de sempre empreendidos na guitarra”. Indicado como banda sonora para uma descida aos infernos.
Sem comentários:
Enviar um comentário