19/11/2008

Área de descontaminação [Area]

Pop Rock

19 de Junho de 1995
álbuns poprock
reedições

Área de descontaminação

AREA

Arbeit Macht Frei (8)
Caution Radiation Area (9)
Crac! (8)
Maledetti (Mauditis) (7)
Cramps, distri. Megamúsica

Ao contrário do que aconteceu na Alemanha e em França, nos anos 70, onde a corrente progressiva proporcionou, na Alemanha, o aparecimento de correntes autónomas, como a escola planante, e, em França, o despontar de grupos como Magma, Clearlight, Etron Fou Leloublan ou Lard Free, possuidores de linguagens singulares, em Itália a situação tomou rumos diferentes. A vaga progressiva criou neste país dependências fortes em relação aos ingleses, acontecendo que a grande maioria dos grupos italianos desta década seguiu os modelos de quatro grupos principais, a saber, Vand Der Graaf Generator, Genesis, King Crimson e Emerson, Lake & Palmer. É contra esta situação que se insurgem as três principais excepções, Picchio dal Pozzo, Stormy Six (membros da cooperativa internacional Rock in Opposition) e Area. Características comuns a todos eles são o radicalismo formal e um discurso pró-anarquizante, sinal de afirmação e de independência estética e políticas relativas aos seus congéneres anglo-saxónicos. Os Area – que contabilizam, se a memória não nos trai, pelo menos três actuações no nosso país – distinguiram-se de imediato com o álbum de estreia, “Arbeit Macht Frei” (“O trabalho dá liberdade”, inscrição que se podia ler à entrada dos campos de concentração nazis), aquele que está mais próximo do rock, onde a voz operática de Demetrio Stratos (entretanto falecido) dissecava os mecanismos da sociedade ocidental contemporânea, no meio de uma selva de electrónica “free” criada por Patrizio Fariselli e a guitarra, aqui bastante frippiana, de Gianpaolo Tofani. O tema de abertura, “Luglio, Agosto, Settembre (nero)”, com a utilização de fitas de música árabe, antecipava em alguns anos a explosão da “world music”. O álbum seguinte, “Caution Radiation Area”, de 1974, empreende a fusão da electrónica com as vias de improvisação abertas pelo “free jazz”, assumindo-se por inteiro como um momento de experimentação e provocação, atitude que é lavada ao extremo no último tema, “Lobotomia”, sete minutos de broca de dentista aplicada ao cérebro, de audição quase insuportável. Em “Crac!”, de 1975, o trabalho do grupo mais divulgado e vendido entre nós, os Area aproxima-se de um “jazz-rock” mais convencional, aqui cortado por uma canção irresistível, “Gioia e rivoluzioni”, onde, pela ironia, fazem jus à sua designação de “International Popular group”. “Maledetti”, de 1976, exercício libertário e esotérico inspirado no poeta romântico “maldito” Charles Baudelaire, introduz a nota do terror e da manipulação mental e ideológica (impossível escutar sem um frémito de medo um tema como “Gerontocracia”). Manipulação que os próprios se encarregam de demonstrar e recontextualizar na sua “versão” de um excerto do terceiro concerto brandeburguês em sol maior, de Bach, transformado num “Massacre di Brandeburgo”. O tema final, “Caos”, com a participação do sax soprano de Steve Lacy e as percussões de Paul Lytton, é significativo do horizonte último dos Area. O compacto inclui ainda excertos de uma entrevista com os elementos do grupo, após um concerto de 1976 em Milão, onde estes analisam as reacções de repugnância do público, com quem sempre procuraram a interactividade, mesmo se baseada no pânico. A partir deste disco e até ao final da carreira, os Area tornaram-se aos poucos numa banda de jazz-rock exemplarmente tocado mas já sem o odor acre do perigo.

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